São Paulo, quinta-feira, 07 de maio de 2009
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Inspire respire transpire

Bollywood na academia

Escolas de dança oferecem aulas de modalidade popularizada pelo cinema indiano

Shutterstock
Aula de danças de Bollywood em escola de São Paulo

MAURÍCIO HORTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O cinema mais visto no mundo é produzido a 14 mil quilômetros de Hollywood.
Enquanto muitos ocidentais viram pela primeira vez nos créditos de "Quem Quer Ser um Milionário" as coreografias sincronizadas com amplos movimentos de braço e chacoalhar frenético de ombros, cerca de 4 bilhões de espectadores, principalmente em comunidades hindus e muçulmanas, estão muito mais acostumados a elas do que a "Moulin Rouge".
As danças, agora oferecidas em escolas brasileiras, podem não ter nada a ver com a trama nem ser inseridas numa ordem lógica. O que importa, para Bollywood -a indústria cinematográfica da cidade indiana de Mumbai-, é tirar o espectador da realidade e levá-lo a um momento de sonho dançante.


[...] BOLLYWOOD MISTURA A SUAVIDADE E O EXOTISMO DOS MOVIMENTOS CLÁSSICOS INDIANOS COM O VIGOR DO "HIP HOP"


Na Índia, o comum é que trilhas sonoras cheguem às lojas e às rádios meses antes de seu filme estrear. Quando entra na sala de cinema, o espectador pode finalmente ver o som familiar transformar-se em imagens coreografadas.
Em 2005, a bailarina Fernanda Palmeira, do grupo de dança londrino Bollywood Grooves, voltou para São Paulo e começou a dar aula do estilo na escola de danças clássicas indianas Natyalaya. "Antes, quem procurava era quem já conhecia um pouco dos filmes. Hoje em dia, é quem vê a novela ["Caminho das Índias", da rede Globo]", diz Palmeira.
Dois anos depois, ao começar a assistir aos filmes de Bollywood, Jhade Sharif, da escola Asmahan, passou a dar aulas do estilo no Rio. "Vi, amei e fiz."

"Masala dance"
Nas sequências de Bollywood, as paisagens partem da planície gangética em direção a montanhas suíças, arranha-céus de Melbourne, pirâmides de Gizé, safáris sul-africanos e o Cristo Redentor. A mesma viagem vale para suas danças e coreografias.
"Bollywood mistura a suavidade e o exotismo dos movimentos clássicos indianos com o vigor do "hip hop'", resume Sharif. Sua base, rica em largos e rápidos movimentos caricaturais, vem do Bhangra, um ritmo folclórico da província do Punjab (noroeste indiano), contagiante por sua batida "dhol" e popularizado em versões eletrônicas pelas comunidades de imigrantes nos EUA e no Reino Unido.
Tal como as "masalas" -misturas de temperos indianos-, a dança de Bollywood acrescenta novos elementos frequentemente. Dependendo do filme, traz mais um pouco de dança do ventre, jazz ou salsa. No nascente "curry" global da novela "Caminhos da Índia", há até uma colherada de samba.
Segundo Mahaila Diluzz, que dá aulas de Bollywood em Porto Alegre, a maior dificuldade da dança é a coordenação motora em movimentos trazidos da dança clássica indiana -os "adavus" (movimentos de pés) e "mudras" (de mãos).
"É um pé para lá, uma mão para cá, o olho para cima", diz Diluzz. "Mas, em dois meses, já se aprende um pouco. Bollywood é mais permissivo e relaxado do que a dança clássica."
Dela, vêm também expressões faciais e corporais de Bollywood. "A clássica não faz divisão entre ator e bailarino. É preciso interpretar ao longo da dança personagens bem delimitados, como deuses, semideuses e demônios", diz Sharif.

Cinema na aula
As aulas na escola Asmahan começam com uma sequência de alongamentos para as partes que serão trabalhadas.
Depois, ensinam-se movimentos que serão posteriormente colocados nas danças. Por fim, vêm as coreografias, ao som dos hits da Índia.
De acordo com Iara Ananda Romano, também professora da escola Natyalaya, que tem alunos de seis a 60 anos de idade, a dança movimenta quase todas as partes do corpo, melhora o condicionamento físico -uma hora de aula pode queimar 300 calorias-, fortalece a musculatura e ajuda a aliviar o estresse.
Para Diluzz, a dança ajuda também crianças a reduzirem o déficit de atenção, por exigir disciplina e concentração. Ela diz que garotas têm buscado aulas desde que viram na novela a personagem dançante Anusha, interpretada pela atriz Karina Ferrari, 10.
As coreografias femininas têm movimentos suaves; já o homem precisa de mais vigor. "No Bhangra, por exemplo, os homens descem muito mais ao chão e pulam mais do que as mulheres", diz Ananda.
Apesar de não haver restrição etária, Jhade afirma que, por causa de seu vigor, a aula é melhor para jovens e pessoas de meia-idade.


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