São Paulo, quinta-feira, 07 de junho de 2001
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s.o.s. família

Contar ou não as "verdades" sobre o pai?

ROSELY SAYÃO

"Os filhos devem ser poupados dos fatos e problemas que existem entre pais separados?" Essa pergunta surgiu em uma reunião de pais em que o tema foi discutido, e vale a pena ressaltar que as mães separadas muito reclamaram dos pais ausentes da responsabilidade com a educação dos filhos, e isso inclui o pagamento da pensão combinada e das despesas extras dos filhos. Vamos enfrentar a discussão, que não é simples.
Em primeiro lugar, os pais, que são adultos, precisam lembrar que não são os filhos a causa da separação de um casal. E, se eles não são causa, não podem arcar com todas as consequências. Já conversamos, em outra ocasião, que é inevitável que os filhos sofram com a separação dos pais. Mas, se há um sofrimento inevitável nessa situação, há muitos perfeitamente evitáveis.
Há problemas entre pais separados? E como! Se não fossem tantos os problemas, não haveria motivo para o rompimento do laço conjugal. E o que os filhos têm a ver com isso? Nada. Isso significa que os filhos não devem ser interlocutores dos pais para assuntos que envolvam a separação, como os motivos, os lamentos, as queixas e as reclamações da parte da mãe ou do pai a respeito do ex.
"Mas podem os filhos ser felizes sem conhecer algumas verdades sobre o pai?", indagou uma mãe. Calma lá, senhoras mães! Por que só depois da separação é que o filho precisa saber certas coisas? Essas tais "verdades" sobre o pai nem sempre são sobre o pai, mas sobre o ex-marido. Aliás, nem sempre são verdades, mas considerações, interpretações, constatações.
Ser marido é uma coisa bem diferente de ser pai. E, na hora do aperto, é muito fácil a mãe, que é ex-mulher, fazer a confusão e meter o filho no meio. Disso os filhos precisam ser poupados.
Mas, quando chega a hora da famigerada pensão, o assunto fica mais complicado. Em primeiro lugar porque nem sempre a pensão cobrirá o nível de vida a que os filhos estavam acostumados. Um casal soma, a separação divide e subtrai. E com essa consequência os filhos irão fatalmente arcar. Tem outro jeito?
O cuidado a ser tomado pelos pais na hora de discutir o valor da pensão é o de pensar e planejar o necessário para a educação dos filhos, de acordo com as possibilidades dos pais e considerando a responsabilidade dos mesmos. E aí, mesmo com todos os problemas envolvidos, com todas as dificuldades, os pais terão que tentar isenção. Pelo menos tentar. O usual é que seja declarada uma guerra em nome dos filhos. Dos filhos? Dificilmente. Muito mais em nome de mágoas, de vinganças e de mesquinharias de ambos os lados. Os filhos não fazem parte dessa guerra e muito menos devem servir de instrumento para ela.
Como quase sempre os filhos ficam com a mãe, é quase sempre ela a reclamar das atitudes ou da falta de atitudes do ex-marido em relação aos filhos. Algumas vezes, com muita razão, pois muitos homens, quando rompem o laço conjugal, separam-se dos filhos também. Essa separação não pode ocorrer, pois quem é pai é pai sempre. A não ser que o homem não tenha adotado a criança como seu filho quando ela nasceu, mas esse já é assunto para uma próxima conversa. Mas, se, por um lado, muitos pais se fingem de mortos para os filhos de um casamento que acabou, por outro, muitas mães agem de modo a impedir, de um jeito ou de outro, que o filho se relacione com o pai do modo como ele é.
É, se a tarefa de educar os filhos já é árdua, na situação de separação pode ficar mais ainda, pois os pais precisam administrar muitos conflitos para conseguir se relacionar diretamente com o filho. Mas é possível: basta assumir a maturidade que o adulto deve ter.
Os filhos de pais separados precisam ver seus pais como eles são na realidade ou como são na "verdade", como perguntou uma mãe? Sim, mas isso eles farão por conta própria, quando chegar a hora.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo É Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br


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