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Variação de temperatura, odores fortes e até vibrações afetam a qualidade dos vinhos
Adega preserva o prazer de beber
Dimitar Dilkoff/Reuters
![](../images/q1007200306.jpg) |
A luz pode prejudicar coloração e sabor da bebida |
GUSTAVO PRUDENTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A expectativa é grande: aquele vinho tinto que custou
uma pequena fortuna e aguardava há meses para
ser aberto está prestes a ser degustado até a última gota.
Mas, antes do primeiro gole, surge a frustração: o vermelho e o perfume não são tão intensos como o esperado. Pequenos resíduos bóiam na bebida, que invade a boca com um sabor estranho. Falsificação? Não, o responsável
por esse anticlímax é, provavelmente, o local onde a garrafa estava. Para manter suas características, o vinho exige ser bem guardado -de preferência, numa adega. Até os vinhos mais "simples" correm o risco de ter o sabor alterado
em poucos meses devido à má conservação, alerta Marlene Kratz, gerente de adega do Empório Santa Maria. E o estrago pode ser ainda maior -no bolso e no paladar-
se for um vinho especial. "Muitos grandes vinhos, como os "bordeaux", precisam de anos de envelhecimento em local adequado para atingir seu auge", afirma ela.
De acordo com os especialistas, o ambiente ideal para guardar a bebida deve ter pouca ou nenhuma luz, o mínimo de vibração e ruído possível, temperatura constante -entre 12C e 16C- e cerca de 65% de umidade relativa do ar. "No Brasil, um país tropical, com muitas variações de temperatura, o ideal é uma
adega climatizada", diz o sommelier Patrick de Neufville, da consultoria Grand Vin.
Prontas para usar
As adegas pré-fabricadas são a opção mais
prática para quem pretende reservar vinhos por meses ou anos. Parecidas com geladeiras, elas são encontradas em diversos modelos e
tamanhos, com capacidade para
armazenar de 25 a 500 garrafas.
Mas é preciso cuidado para não
confundi-las com os "wine coolers", frigobares especiais cuja função é deixar o vinho na temperatura correta antes de servir. "Eles não
servem para conservação, porque
têm barulho e vibração e não possuem controle de umidade", diz
Kratz. A maioria das adegas pré-fabricadas, embora possua o mesmo
sistema de refrigeração, apresenta
vibração e ruído bem menores.
O preço das adegas pré-fabricadas é salgado -entre R$ 1.800 e R$
18 mil- mas, ainda assim, é inferior ao das adegas sob encomenda
e ao da climatização de ambientes.
As adegas sob encomenda, que podem custar até R$ 40 mil, são mais
indicadas para quem tem algum espaço vazio na casa e, ao mesmo
tempo, pretende conservar grandes
quantidades de vinho.
"Não existe época nem local
ideais para construir uma adega.
Dá para levantar quatro paredes
num terreno vazio ou fazer um gabinete numa sala com pé-direito alto", afirma Marco Antônio Fernandes, diretor da Art des Caves, empresa especializada na fabricação e
na montagem de adegas.
Quem quer distância de obras radicais pode climatizar um ambiente da casa. "Mas o custo só compensa se a pessoa planeja guardar acima de 600 garrafas", afirma Fernandes. Afinal, quem quiser transformar um quarto extra numa adega deve estar disposto a gastar entre
R$ 18 mil e R$ 90 mil, valor que inclui o isolamento térmico, dois aparelhos -um interno e outro externo- para manter a temperatura
baixa e as adaptações necessárias.
"Se bater muito sol no ambiente,
por exemplo, é preciso fazer um
isolamento maior. Já se houver sauna ou piscina por perto ou se for
um porão, onde há umidade em
exagero, haverá necessidade de um
desumidificador", explica Fernandes. A decoração fica a critério da
pessoa. "Só não recomendo portas
de correr, porque elas não proporcionam um isolamento muito
bom, e a instalação de muitas luzes,
pois a radiação ultravioleta altera as
características do vinho."
As adegas pré-fabricadas não são
indicadas para ambientes muito
quente ou úmidos. Já as adegas
construídas e os ambientes climatizados estão imunes às influências
externas -barulhos de motor, variações no clima, odores fortes etc.
Soluções caseiras
Quem não
pretende investir em uma adega de
verdade deve tomar alguns cuidados. O primeiro deles é não comprar muita bebida. "Quem não tem
onde guardar uma Mercedes não
deve comprá-la", diz Fernandes.
"Conheci um homem que gastou
uma fortuna em vinhos caríssimos
e perdeu tudo porque guardou as
garrafas embaixo de uma laje, num
quarto quentíssimo", diz Neufville.
O sommelier explica que existem
excelentes vinhos -a maioria dos
espanhóis, por exemplo- que não
precisam amadurecer e podem ser
consumidos imediatamente após a
compra. "Se ficar uma semana na
geladeira, um vinho jovem não sofrerá interferência", diz.
Para Márcia Padilha, gerente de
vendas da Maison du Vin, a adega
pode ser deixada para os exemplares mais caros e sensíveis. Os vinhos de consumo imediato podem
ser guardados em móveis do tipo
"colméia", aqueles compostos por
diversos losangos, "mas desde que
fiquem protegidos do contato direto com o sol, no lugar mais fresco
da casa", diz.
Neufville dá duas sugestões para
criar uma adega improvisada: um
quarto escuro e fresco, de pouca
movimentação, onde deve ser colocado um balde com água e um pouco de desinfetante para aumentar a
umidade, ou o vão embaixo da pia
do banheiro. "É um lugar com
grande circulação de umidade, longe de odores e com pouca luz."
"Mas, se a pessoa realmente quer
conservar o vinho por muito tempo, é melhor investir numa adega
climatizada", afirma o sommelier.
Além disso, diz Márcia Padilha, "a
pessoa que gosta muito de vinho
quer todo o aparato que ladeia essa
paixão. É como um jogador de beisebol, que quer uma camisa e um
tênis legais. O amante de vinho
também quer um abridor e uma
adega de primeira".
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