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inspire respire transpire
Não se reprima
As aulas de ginástica aeróbica, que reinaram absolutas nos anos 80 e ditaram moda com polainas e cores berrantes, estão de volta às academias
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois das festas temáticas, do renascimento de pérolas da
moda como as saias
balonês e os leggings, e dos livros e revistas destinados a relembrar até brinquedos, como
o Atari, a nostalgia em torno
dos anos 80 despertou mais um
hit adormecido: a ginástica aeróbica. E ela volta às academias
com tudo a que tem direito:
corridinhas sem sair do lugar,
polichinelos, coreografias e
muitos pulos.
Os balzaquianos provavelmente vão se lembrar da febre
que a aeróbica foi nos anos 80.
Os movimentos coreografados
caíram no gosto do público,
principalmente das mulheres,
que logo abasteceram o guarda-roupa com shorts, tops, "colants" e polainas. Tudo, claro,
em cores bem berrantes.
Ascensão e queda
Mauro Guiselini, hoje diretor
do Instituto Runner de Ensino
e Pesquisa, conheceu a "dança
aeróbica" nos Estados Unidos e
foi um dos primeiros a trazer a
atividade para o Brasil, mudando um pouco o nome dela.
"Trocando o nome "dança" por
"ginástica", a aeróbica também
atraiu os homens", conta.
Até então, a ginástica praticada aqui tinha uma base européia e, embora também utilizasse música, tinha movimentos diferentes. A aeróbica criada pela norte-americana Jackie
Sorensen trazia corrida, saltinho e passos cruzados provenientes da ginástica rítmica.
"Era uma aula simples, com
músicas alegres e alto gasto calórico", define Guiselini. Em
1984, a Runner realizou a 1ª Clínica de Ginástica Aeróbica,
destinada a treinar professores.
O curso, com mais de 400 inscritos, teve lotação esgotada.
A atividade cresceu tanto
que, nos anos 90, passou a ser
considerada um esporte competitivo. "Todas as grandes academias tinham uma equipe de
competição de aeróbica. Os circuitos eram televisionados",
conta Eda Regina de Moura Rocha, 46, presidente do comitê
técnico de ginástica aeróbica
esportiva da Federação Paulista de Ginástica.
A vantagem, segundo Eda, foi
a visibilidade que a atividade
ganhou. A desvantagem, que as
competições levaram os movimentos, que já eram intensos, a
níveis mais e mais difíceis.
Ao mesmo tempo, as aulas
passaram a ter códigos específicos. Hoje, uma apresentação
oficial de ginástica aeróbica esportiva tem que durar 1 minuto
e 45 segundos e ter dez movimentos de força estática, força
dinâmica e flexibilidade, que
devem ser devem ser feitos sobre colchões e um piso especial.
Mas o tal colchão e o tal piso
não existiam há 20 anos, e
quem se arriscava a acompanhar as aulas mais puxadas era,
muitas vezes, vítima de lesões,
principalmente no joelho e no
tornozelo, devido aos saltos, giros e elevações de perna.
Na época, segundo Eda, também era comum encontrar professores sem a formação necessária em educação física. "Muitos eram só pessoas que tinham
feito muitas aulas de aeróbica e
eram criativos para inventar
séries", diz ela.
Segundo Guiselini, muita
gente também abusava e fazia
aulas duas ou três vezes por dia.
O risco de lesões fez com que
muita gente desistisse da ginástica aeróbica. No lugar dela, foram surgindo outras aulas,
mais leves, como a aerofighting
e a aerojumping.
Agora, a Federação Federação Paulista de Ginástica quer
recuperar o público, que, ao
longo dos anos, foi ficando restrito a clubes. Em São Paulo, o
Palmeiras e o São Paulo têm aulas de aeróbica esportiva. Para
ampliar o número de praticantes, conta Eda, foi criado um
projeto que busca tornar a aeróbica mais popular, principalmente entre as crianças.
Retorno
Não que o pessoal que tem
cerca de 30 anos precise ficar
de fora. Foram alunos dessa faixa etária que começaram a pedir a volta das aulas de aeróbica
na ACM (Associação Cristã de
Moços), conta Edney Roberto
Delgado, 33, responsável pela
área de educação física e saúde
da entidade, em São Paulo.
Na versão repaginada, que
está sendo desenvolvida pela
ACM e ganhou o nome de "Y
Energy", a aeróbica tem passos
mais seguros, para diminuir a
chance de lesões. Ainda assim,
é considerada pelos alunos a
mais difícil da academia.
"Faço natação, step, spinning, e essa é a mais puxada",
assegura o advogado Renato
Coelho, 26, ainda suado e ofegante após uma hora de aula.
"Aqui, a gente tem que saber
manter a postura certa, regular
o impacto no solo, pisar direito", ensina.
A trilha da aula, composta,
entre outras coisas, por hits de
Bon Jovi, ajuda a manter o pique, segundo ele. "Adoro todo
esse revival dos anos 80 e sempre vou a essas festas temáticas.
É bom lembrar daquela época,
quando a gente não tinha nenhuma responsabilidade ou
obrigação."
Na Gold Gym, que lançou há
cerca de um mês a aula de "Aerotrash", a professora Rafaela
Porto, 23, chega ao requinte de
usar algum acessório da época
durante a malhação. Na aula
acompanhada pela reportagem, o enfeite era um par de
polainas azuis. "Só não tive coragem mesmo de colocar o "colant" por cima da calça, como as
mulheres faziam", diverte-se.
Para preparar as aulas, ela
aluga DVDs para conhecer e
adaptar a coreografia de músicas como "Ilariê", da Xuxa, e
"Comer, Comer", da Turma do
Balão Mágico. "Os passos mais
básicos, todo mundo lembra",
conta. Segundo ela, é possível
perder aproximadamente 500
calorias a cada aula.
"É muito divertido", conta a
assistente administrativa Marilza Martins de Almeida, 46,
que praticava aeróbica "há
muito tempo" e agora leva a filha Érika, de 12 anos, às aulas de
"Aerotrash". "Quando tocou
"Não se Reprima" eu perguntei
se ela conhecia os Menudos,
mas ela nunca ouviu falar."
Érika gosta mesmo é de outro grupo latino-americano: o
mexicano Rebelde, cujas músicas também têm refrão grudento e coreografias saltitantes.
Certas coisas nunca mudam.
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