São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2006
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bem-estar

Para relaxar

Leonardo Wen/Folha Imagem
Patrícia Ricci Siqueira segura a filha Luiza, de um mês, durante sessão de massagem


Spas e clínicas de estética oferecem tratamentos para mulheres após o parto; médicos alertam para o risco de dietas e afirmam que exercícios devem começar pelo menos 40 dias depois do nascimento

TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

São nove meses no papel de "casulo". Um guarda-roupa perdido, uma silhueta redesenhada e um rosto que, de tão redondo, chega a fazer com que a nova mãe não se reconheça. Nos braços, enfim, está o bebê. E, diante dela, o desafio inevitável: como voltar a se olhar no espelho e gostar do que está vendo?
Se até Madonna disse que a gravidez a deixou "horrorosa", pode-se concluir que toda mulher que acabou de dar à luz tem o direito de reclamar da metamorfose e de querer contorná-la o mais rápido possível.
De olho nesse filão, diversos spas e clínicas de estética e bem-estar passaram a oferecer pacotes de atendimento pós-parto, que prometem encher a cliente de mimos e ajudá-la a retomar a forma física.
Gramado, Salvador, Curitiba, Sorocaba. Quem quiser viajar de mala, cuia, bebê e babá e se hospedar num local que ofereça serviços pensados para esse momento da vida, já conta com um vasto leque de opções (leia quadro na pág. 8).
Também é possível ficar na sua cidade e fazer sessões em locais em que os bebês são bem-vindos. Em alguns, as crianças podem até desfrutar de sessões terapêuticas com a mãe, como um banho de ofurô.
No Spa Médico São Pedro, em Sorocaba (100 km de São Paulo), são recebidas puérperas a partir do 28º dia após o nascimento, e a recomendação é que a permanência mínima seja de duas semanas.
"Avaliamos se o parto foi normal ou cesárea, consideramos a condição de nutriz e iniciamos um programa de recondicionamento personalizado. A mãe recebe um conjunto de orientações nutricionais e inicia uma rotina de exercícios físicos", diz Jefferson Delfino, médico responsável pelo atendimento pós-parto no spa.
Há quem questione o modelo. Médica, mãe de dois filhos e autora do livro "Mãe... e Agora?" (ed. Senac, R$ 60), Carla Góes Sallet acha a oferta de "internação" delicada.
"O pós-parto é um momento repleto de novidades em que a mulher precisa construir uma nova realidade. Largar tudo e ir embora para um spa nesse momento pode não ser a melhor idéia. Se ela está com dificuldades de se ver nessa vida nova, o afastamento pode até desencadear uma depressão pós-parto", opina.

Calça jeans
Carla Góes Sallet ensina que a ansiedade para caber na calça jeans que servia antes da gestação deve ser combatida.
"Depois que o bebê nasce, o útero leva entre seis meses e um ano para voltar ao seu tamanho original. Quem se cuidou durante a gravidez, só ganhou até 15 kg nos nove meses, amamenta e tem uma alimentação balanceada leva em média cinco meses para voltar ao antigo peso", esclarece.
Dietas de baixíssimo teor calórico também não são apropriadas. "O período já é de muitas mudanças, o melhor é não adotar regimes super-restritivos. A alimentação balanceada é o segredo, com ingestão de alimentos variados. O mais importante é fazer escolhas adequadas: a fruta, e não o sorvete", observa Teresa Helena Macedo, professora do departamento de nutrição da UnB (Universidade de Brasília).
Cláudio Emílio Bonduki, obstetra e professor do departamento de ginecologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), avisa que a retomada dos exercícios só é plenamente segura 40 dias após o parto, seja normal ou cesárea. "Quem não teve nenhuma complicação pode recomeçar devagarinho", comenta.
Para ele, é importante que o
médico que fez o acompanhamento pré-natal participe do tratamento pós-parto. "Ele sabe como foi a gravidez."

De bem consigo
"Se eu me olhar no espelho e me achar horrível, não vou ficar bem com meu bebê", diz a professora Rosangela Barbosa, 40, mãe de Natan Jered, de cinco meses. Acompanhada do filho, ela faz sessões de limpeza de pele, hidratação e massagens.
A drenagem linfática é o tratamento preferido pela publicitária Patrícia Ricci Siqueira, 35, mãe de Leonardo, 3, e Luiza, de um mês. "Vale a pena. O impacto na redução de inchaço é muito grande", comenta.
Já a enfermeira Isabel Maranho, 36, mãe de Ian, de seis meses, adotou o banho de imersão na companhia do filho como terapia. "Faço pelo menos uma vez por mês, ele adora. A interação mãe-bebê é maravilhosa."

Certo e errado
Campeã na preferência das mamães recentes, a drenagem linfática é bastante recomendada. A manual ajuda a liberar líqüidos retidos e promove relaxamento. Outra opção é a dermotonia, variação computadorizada do tratamento, que pode ser feita no rosto.
As terapias que focam o bem-estar -massagens e banhos de imersão, entre outras- também são bem-vindas por reduzir o nível de estresse materno, auxiliando na amamentação.
Nos banhos de imersão com o bebê, é bom checar se os produtos usados são hipoalérgicos. Além disso, vale saber que é mais a água quente que traz a sensação de bem-estar do que óleos e essências postos nela.
Amamentar é unanimidade entre os especialistas como a melhor arma para voltar à forma. Para produzir o leite materno, o organismo queima reservas de gordura, produzindo um gasto calórico que chega a 1.500 calorias diárias. "O pós-parto é um período muito favorável à perda de peso", comenta Teresa Macedo, da UnB.
Por acentuar a sudorese, a prática de atividade física deve ser combinada com muita ingestão de líqüidos -a presença de água no corpo é fundamental para a produção de leite.
Sempre de acordo com os especialistas, tratamentos invasivos (com injeções), peelings com ácidos e uso de terapias químicas em geral são estritamente contra-indicados no período pós-parto.


Texto Anterior: Neurociência: Dormir para lembrar
Próximo Texto: Dia-a-dia - Compare
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.