São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004
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alecrim

Pequi pode ser consumido como farinha, óleo, castanha e até puro

LUANDA NERA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em maio de 2001, o senador Saturnino Braga (PSB-RJ) retirou-se de uma sessão de trabalho queixando-se de dores na boca. O motivo? Ele havia se machucado quando tentava comer uma de suas iguarias favoritas: o pequi. Hoje, o fruto já conseguiu chegar a outras regiões do país não apenas no noticiário mas à mesa. Suas propriedades nutritivas, o forte sabor e o inconfundível aroma têm feito com que os pratos típicos da região Centro-Oeste, como o arroz ou a galinhada com pequi, sejam redescobertos por chefs mais ao sul do país.
Para quem ainda não conhece, o fruto alcança até 14 centímetros de comprimento por 20 centímetros de diâmetro, podendo pesar 300 gramas. A polpa carnosa, com coloração variando entre o branco e o alaranjado, é seguida por uma densa camada de pequenos espinhos que envolvem de um a quatro caroços. O núcleo do pequi é composto por sementes de onde se extraem amêndoas comestíveis.
Além do aroma que o transforma em condimento no preparo de diversos pratos, o pequi -cuja safra é de janeiro a abril- contém uma grande quantidade de óleo insaturado, que não faz mal ao organismo nem provoca aumento no colesterol. É também rico em vitaminas A, C e E, em sais minerais (fósforo, potássio e magnésio) e em carotenóides, que evitam a formação de radicais livres no corpo e previnem tumores e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. É o que comprovou a experiência realizada pelo biólogo César Grisólia, da UnB (Universidade de Brasília).
Não só a grande quantidade de nutrientes faz do pequi um ingrediente bastante peculiar. Mesmo cozido ou congelado, o fruto preserva suas propriedades nutritivas, ao contrário do que ocorre com a maioria dos vegetais. "A grande quantidade de óleo presente no fruto (mais de 60%) ajuda a conservar as vitaminas e os sais minerais, mesmo depois do cozimento", afirma o biólogo César Grisólia.
Mas, para quem acha que a palavra "óleo" não pode fazer parte do vocabulário da alimentação saudável, a nutricionista Maria Margareth Veloso Naves, autora de um livro sobre a culinária goiana e professora da Universidade Federal de Goiás, esclarece: "Muita gente usa o óleo do pequi para cozinhar alimentos. Seu óleo é muito rico em ácidos graxos insaturados". O único alerta é para quem está preocupado com a balança. "A polpa do pequi é altamente calórica", avisa Semíramis Pedroso de Almeida, bióloga e pesquisadora da Embrapa Cerrado.
É difícil convencer os especialistas a descreverem o sabor do pequi. "Não há gosto similar", diz a nutricionista Maria Naves. "Ou você ama ou você odeia", resume o professor Grisólia. Assim, para agradar aos mais diversos paladares, o fruto vem ganhando novas versões e começa a ser descoberto pelos chefes de cozinha. Em São Paulo, existe até um restaurante com o nome da fruta, o Restaurante Pequi. Confira ao lado receita da tradicional galinhada com pequi (e seu valor nutricional), retirada do livro Culinária Goiana (editora Kelps), de Maria Margareth Veloso Naves.

Galinhada com pequi

Lailson Duarte/"O Popular"
Calorias: 430; proteínas: 24 g; carboidratos: 52 g; lipídios: 14 g

Ingredientes (para 10 porções):
- 1 frango cortado em pedaços; 25 caroços de pequi; 3 copos (americano) de arroz; 2 tomates; 2 cebolas; 5 dentes de alho; 1 colher (café) de açafrão; 4 colheres (sopa) de óleo; 3 colheres (sopa) de cheiro-verde; 7 pimentas-de-bode; 4 colheres (sobremesa) de sal

Como fazer
Tempere o frango com três dentes de alho, sal e pimenta-de-bode. Refogue o frango em três colheres de óleo até dourar. Reserve. Doure uma cebola e um dente de alho em óleo. Junte o pequi, sal e um pouco de água e deixe ferver. Quando o caldo estiver engrossando, adicione água aos poucos até cozinhar. Reserve o pequi refogado. Na mesma panela que o pequi foi cozido, refogue uma cebola, um dente de alho, tomate, açafrão e pimenta-de-bode. Acrescente arroz, frango, pequi, sal e água suficiente para cozinhar. Após o preparo, salpique cheiro-verde.


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