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Textos de Rosely Sayão viram livro
JULIO GROPPA AQUINO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Todos os bons livros que vêm a público e mesmo aqueles que esperam ser escritos, ainda em "estado de dicionário", como diria
Drummond, são aparentados, de
algum modo. Podem ser irmãos,
primos distantes, às vezes, ex-amantes de outros bons livros.
Todos eles têm em comum uma
certa inconformidade em relação
à vida presente e, em igual medida, a coragem de conceber um
mundo que não há ainda, mas
que pode vir a ser a qualquer instante. Daí o caráter fundador, visionário da palavra.
Por essas razões, o recente livro
de Rosely Sayão poderia ser tomado como filho temporão de
um outro livro fundamental: "A
Descoberta do Mundo", de Clarice Lispector.
"A Descoberta do Mundo" é a
reunião das crônicas de Clarice
escritas entre 1967 e 1973 para o
"Jornal do Brasil". "Como Educar
Meu Filho?" é a reunião dos artigos de Rosely escritos entre 2000 e
2002 para a Folha de S. Paulo.
Clarice e Rosely, a despeito de
seus projetos literários distintos e
das três décadas que as separam,
têm em comum vários predicados: ambas são mulheres que, em
sua maturidade intelectual, se dispuseram a escrever em jornais sobre os temas espinhosos da vida.
Ambas ofertam, com generosidade, idéias aos leitores. Idéias, apenas esse recurso vital num mundo
tão esvaziado delas.
No caso de "Como Educar Meu
Filho?", o tema enfocado é o desafio da educação de crianças e adolescentes, enfocado segundo quatro subtemas: a educação familiar, o papel de pais, a educação
escolar e o universo dos filhos.
O resultado é um conjunto de
114 breves textos que, antes de ditar a pais e professores como manejar seus conflitos com as novas
gerações, têm por objetivo fazê-los quebrar a cabeça, muitas vezes
colocando mais os próprios adultos em causa do que propriamente seus filhos e alunos.
Rosely nos obriga a pensar -e
com pulso firme- sobre o nosso
lugar no mundo. Nada de bajulação, nem execração. Pensamento
lúcido, apenas. Quem a acompanha semanalmente no caderno
Equilíbrio terá em mãos um
compêndio de idéias robustas
que servem para colocar nossas
próprias idéias em marcha, em
busca de um mundo mais pensante e suas descobertas.
Para concluir, ninguém melhor
que a própria Clarice, num breve
trecho intitulado "Delicadeza".
"Nem tudo o que escrevo resulta
numa realização, resulta mais numa tentativa. O que também é um
prazer. Pois nem tudo eu quero
pegar. Às vezes, quero apenas tocar. Depois, o que toco às vezes
floresce, e os outros podem pegar
com as duas mãos."
Peguemos, pois, com as duas
mãos as delicadas idéias de "Como Educar Meu Filho?".
Julio Groppa Aquino é professor da faculdade de Educação da USP
Onde
"Como Educar Meu Filho?" (Publifolha, 288 págs., R$ 29): lançamento hoje, 15/5, às 19h, na Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos, av. Nações Unidas,
4.777, SP
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