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Alimentação
Diferença na granja
Hormônios de crescimento não são usados em aves para corte -é o melhoramento genético que responde pelo crescimento rápido; veja diferenças entre criações convencionais, "verdes" e orgânicas
FLÁVIA MANTOVANI
TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
S
empre citada como alternativa saudável à
carne vermelha, a carne de frango deixou de
ser um produto simples de escolher. Nas prateleiras, variações mais caras como o frango
"verde" e o orgânico chamam a
atenção do consumidor. Afinal,
além do preço, que diferença
vem com as novas opções?
"Não tem hormônio." Essa
costuma ser uma resposta comum. Na esteira de um sistema
produtivo em que aves vivem
cerca de 45 dias entre sair do
ovo e ir ao abate, o mito do uso
de hormônios de crescimento
na avicultura ganhou força.
"Spams" alertam sobre o risco
de puberdade precoce em
crianças. De leigos a médicos,
não é raro encontrar quem cite
o "frango cheio de hormônio"
como um perigo à saúde.
Mas hormônios de crescimento, ou substâncias anabolizantes, não são empregados na
criação de aves. O que há é o uso
de compostos promotores de
crescimento produzidos pela
indústria farmacêutica -geralmente por laboratórios que
também fazem medicamentos
para humanos.
Os especialistas garantem
que o medo do hormônio não
passa de um mito. "É um grande mal-entendido. Não existe
nenhuma possibilidade de haver uso de hormônio em frangos de corte. Os animais não
respondem a essa substância",
explica a professora Andréa
Machado Leal Ribeiro, coordenadora do laboratório de nutrição animal do departamento de
zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O pesquisador Gerson
Scheuermann, da Embrapa
Suínos e Aves (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), diz que, como qualquer outro animal, os frangos têm hormônios naturais. "Mas não são
usados hormônios exógenos na
criação", afirma o agrônomo,
doutor em produção animal.
Melhoramento genético
Segundo os pesquisadores, o
melhoramento genético feito
durante décadas é um dos grandes responsáveis pelo maior
ganho de peso em pouco tempo. "Ano após ano, são selecionadas as melhores aves, as que
ganham mais peso, as que têm
melhor performance", esclarece Scheuermann.
O melhoramento é impulsionado, segundo Ribeiro, pelo fato de a galinha ter muitos pintinhos, o que permite fazer uma
seleção melhor. "A vaca, por
exemplo, tem um bezerro por
ano. Já a galinha bota 280 ovos
anualmente", compara. "Nossas avós conheciam um frango
diferente do que temos hoje.
Em duas gerações, a ave mudou
muito. As pessoas simplificam
e acham que foram os hormônios", completa.
Segundo ela, estudos já avaliaram o uso de hormônios em
aves, mas os resultados não foram bons. "Não encontraram
nada que estimulasse o crescimento além do próprio potencial genético do animal."
Os avanços na nutrição (com
rações consideradas mais balanceadas do que a dieta de humanos), o controle ambiental
(com regulagem de luz e de
temperatura) e o desenvolvimento na prevenção e no tratamento de doenças também são
apontados como fatores que fazem o frango crescer rápido.
Promotor de crescimento
Apesar de não serem utilizados hormônios, criadores convencionais colocam na ração os
promotores de crescimento.
São antibióticos usados em dosagem muito menor do que a
recomendada para fins terapêuticos. Por melhorarem as
condições do intestino dos animais, evitando diarréias, os
produtos fazem com que aproveitem melhor o que comem.
Em muitos países da Europa,
essas substâncias são proibidas. O argumento é que elas poderiam contribuir para a resistência das bactérias aos antibióticos, tornando os remédios
desse tipo ineficazes para
doenças humanas.
"É uma discussão recente no
mundo, às vezes acalorada. A
principal causa da resistência
bacteriana são os antibióticos
usados pelos próprios humanos. Além disso, a substância
não se deposita nos músculos
dos animais nem deixa resíduos", diz Scheuermann.
A segurança dos antibióticos
não é unanimidade. "Ninguém
pode dizer com certeza que não
deixam resíduos. Exames não
detectam moléculas inteiras
dessas substâncias. Quimicamente, os resíduos podem ter
outra estrutura", observa Luiz
Carlos Demattê Filho, gerente
de produção animal da Korin. A
empresa, seguidora dos princípios da agricultura natural da
Igreja Messiânica, não faz uso
de antibióticos nas criações de
frangos.
Mesmo entre os criadores
convencionais, a prática é suspender a inclusão dessas substâncias na ração nos sete dias
que antecedem o abate. E, devido às restrições européias, os
produtores brasileiros vêm trocando o uso delas por alternativas como extratos vegetais,
probióticos e enzimas.
Do ovo ao frango
Para saber de onde vêm as
opções de frango que hoje disputam as panelas, a reportagem da Folha visitou três diferentes criadouros de aves -um
convencional (Amarelinho),
um do tipo "verde" (Korin) e
um orgânico certificado (Coq).
Cada uma das granjas produtoras segue um modelo específico de manejo, sendo as duas
últimas inspiradas em princípios de equilíbrio ecológico e de
baixo impacto ambiental.
Aprovar ou não a presença de
antibióticos promotores de
crescimento misturados à ração é o primeiro ponto que as
diferencia. A ele, somam-se
preocupações com a densidade
de animais nos alojamentos e a
exposição à luz. Nos galpões, é
comum que o período de claridade seja estendido para que os
frangos comam mais.
Nas criações convencionais
de frango, recorre-se aos antibióticos com freqüência. "São
fórmulas reguladoras do intestino. Evitam desperdício de ração e desconforto para os animais", explica o veterinário
Carlos Zanchetta, que supervisiona as criações de frango da
marca Amarelinho (convencional), no interior de São Paulo.
Os 200 produtores parceiros
da marca recebem pintos criados durante um ciclo de 45 dias
e alimentados com lotes de ração feitos seguindo essa premissa. Crescem confinados em
galpões em que até doze frangos dividem o mesmo metro
quadrado. Têm cerca de quatro
horas diárias de escuro.
Nos frangos do tipo "verde",
da Korin, também no interior
de São Paulo, a regulação intestinal das aves é feita com probióticos (microorganismos vivos, como lactobacilos).
O frango da Korin não é orgânico porque o milho e o farelo
de soja usados na ração não são
oriundos desse modo de cultivo. A densidade de aves na
granja visitada é maior do que a
da convencional, mas os animais têm duas horas diárias a
mais de escuro. O tempo de vida supera o da convencional em
apenas dois dias.
"Foram dez anos de pesquisa
até chegarmos a esse sistema,
que concentra preocupações
com as cadeias ambiental e social", comenta o gerente de produção animal Luiz Carlos Demattê Filho.
Orgânico
Visualmente, não há diferenças entre a granja convencional
e a granja "verde". Já na Domaine Agroecológica, no interior do Espírito Santo, a diferença é evidente.
Ali são criadas as aves da
marca Coq, que levam o selo de
orgânicas certificadas do IBD
(Instituto Biodinâmico, certificadora de produtos orgânicos; é
possível conferir produtos certificados no site www.ibd.
com.br).
No modo orgânico, os animais passam o dia no pasto, e a
densidade de alojamento é de
cinco aves por metro quadrado.
São protegidos com receitas
naturais: recebem doses diárias de alho, própolis e plantas
medicinais. Além da ração feita
com milho e sojas orgânicos,
comem vegetais e leguminosas
de hortas desse tipo.
A marca Coq vende frangos,
galinhas e galos. "São aves caipiras, pois a branca é menos resistente e não suportaria esse
tipo de criação", explica a produtora Isabelle Cicatelli. O que
difere o branco do caipira é a linhagem. Nutricionistas afirmam que os dois tipos são
equivalentes como alimento.
Frangos orgânicos vivem 90
dias e não recebem luz artificial. Galinhas e galos vivem 18
meses, tempo do ciclo reprodutivo, e podem receber luz artificial dependendo da idade e da
época do ano, mas têm pelo
menos oito horas de escuridão.
"Na criação orgânica, o manejo é preventivo e tem de ser
bem seguido. Já um frango
criado confinado não experimenta as condições naturais da
sua espécie durante a vida. A
carne não será natural", comenta Cicatelli.
Há quem questione. "Esses
frangos têm acesso à parte externa, o que cria maior possibilidade de contato com pássaros
silvestres, que transmitem a
gripe aviária, por exemplo.
Tanto que, em 2006, a Embrapa recomendou que as aves fossem fechadas, temporariamente, para evitar o risco de contaminação", diz Gerson Scheuermann, da Embrapa.
Nos três modos de criação, as
aves recebem vacinas estipuladas por lei e suplementação vitamínica pré-fabricada misturada à ração.
Derivados
Caldos de frango em tabletes,
"nuggets", empanados e salsichas são feitos com as sobras de
cortes dos animais -as aparas
do peito ou da coxa, por exemplo. Pele e cartilagem também
podem entrar na receita.
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