São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004
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Conhecer as diferenças ajuda a aproximar

Estudos mapeiam as peculiaridades do homem e da mulher

IARA BIDERMAN
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quem tem mais acne e gagueja mais? Quem tem mais dor de cabeça e artrose de joelho? Descobrir as diferenças ocultas entre homens e mulheres é mais do que um joguinho de adivinhação. E muito mais do que uma disputa sobre quem leva vantagem. "As diferenças fazem sentido: a convivência entre os sexos facilita a sobrevivência [da espécie humana]", diz Paulo Bertolucci, neurologista da Unifesp.
O estudo dos gêneros é um caminho para tratar a saúde "de forma mais específica e objetiva", diz o neurologista Abouch Krymchantowski. Saber que determinado distúrbio é mais comum em um dos sexos leva a um diagnóstico mais rápido, diz o reumatologista Daniel Feldman, da Unifesp. E diagnóstico precoce, é sempre bom repetir, é fundamental para o sucesso dos tratamentos, como lembra Roseli Monteiro, da área de prevenção do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Os homens, que são mais sujeitos a desenvolver doenças cardiovasculares, têm motivos em dobro para cultivar hábitos que os protejam dessas doenças, a maior causa de mortes no Brasil e no mundo, diz o cardiologista Antonio de Padua Mansur, diretor da Unidade Clínica de Emergência do Incor. Isso não quer dizer que a mulher não deva se preocupar -os casos crescem entre elas, diz Mansur.
As investigações sobre as diferenças entre o homem e a mulher "ajudam a desenvolver tratamentos mais específicos baseados em um novo critério: gênero", diz Emeran Mayer, diretor do Centro de Ciências Neuroviscerais e Saúde da Mulher da Universidade da Califórnia (Ucla), nos EUA. Mayer é co-autor de um estudo que mostrou que as áreas do cérebro estimuladas pela dor são diferentes no homem e na mulher.
Esse tipo de trabalho, muito comum nos EUA, ainda é pouco realizado aqui. Mas a medicina brasileira acompanha de perto as novidades científicas e já existem grupos de estudos na área. No Instituto de Psiquiatria do HC, o Gender Group (Grupo de Gênero) reúne psiquiatras, psicoterapeutas e psicólogos para pesquisas com homens e mulheres. Os modos femininos e masculinos de olhar o cotidiano e lidar com os conflitos são objeto de estudo e discussão.
O psiquiatra Luiz Cuschnir, coordenador do grupo, acredita que as mulheres têm mais contato com o que sentem e sabem se expressar melhor. Os homens estão mais voltados para executar atividades sem verificar a qualidade emocional do que fazem. Claro que tais características têm profundas ligações com a cultura. Mas estão também em clara concordância com as novas descobertas da neurociência. O estudo da Universidade da Califórnia mostrou, por meio de aparelhos de mapeamento do cérebro, que o estímulo da dor ativou nas mulheres as regiões límbicas do cérebro, relacionadas às emoções. Nos homens, as áreas cerebrais mais estimuladas pela dor foram as cognitivas, os centros analíticos.
A tendência masculina é dominar o hemisfério cerebral esquerdo, mais voltado à análise lógica; as mulheres dominam melhor o lado direito, que propicia uma relação mais holística ou intuitiva com o mundo, diz o neurologista Luís Vilanovas, da Unifesp. Ocorre que o mundo, hoje, exige uma integração entre raciocínio e emoção, diz Cuschnir. Pois o estudo de gêneros pode dar o caminho.
Respostas às perguntas do início: o homem tem mais acne e gagueja mais, e a mulher é quem sofre mais de dor de cabeça e artrose de joelho. Descubra, nas páginas seguintes, mais uma dúzia de diferenças e como a ciência as explica.


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