São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002
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Congelar cordão umbilical para curar doenças no futuro

A idéia surgiu como um filme de ficção científica. O jornalista Pedro Bial, 44, pensou: "Se existe todo esse debate sobre o cordão umbilical ser um celeiro de células-tronco, será que alguém já está congelando o sangue do cordão dos filhos?".
Ele foi atrás da resposta e descobriu que sim. Hoje, o sangue retirado do cordão umbilical de seu filho com Isabel Diegues, José Pedro, de dois meses, divide espaço com cerca de outros 300. Todos estão guardados a 196C abaixo de zero na Criopraxis, clínica que mantém o banco de cordões umbilicais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Já está comprovado: "Quem teve o sangue de seu cordão congelado (que, na verdade, é o sangue da placenta da mãe que ficou retido no cordão durante o parto) com certeza não vai precisar de um transplante de medula óssea no futuro", diz Radovan Borojevic, professor titular de estologia e embriologia da UFRJ e responsável pelo banco de cordões da universidade.
Isso porque as células-tronco obtidas, injetadas no paciente que necessita do transplante, alojam-se por conta própria na medula óssea, regenerando-a, explica Borojevic. "Em Nova York, na Europa e até no Brasil, pacientes receberam células-tronco do cordão de outra pessoa e o resultado foi positivo", diz.
Animados com essa possibilidade real de prevenção, pais estão aderindo ao congelamento de cordões. "Quando soube da novidade, não pensei duas vezes em congelar o cordão da minha filha. Espero que ela nunca precise, mas, se acontecer o pior, ela já está com a medula pronta!", diz a médica carioca Renata Freitas, 33.
"Se um dia algum de meus filhos tiver leucemia e precisar de um transplante de medula, terei a solução", diz a coordenadora de eventos Míriam Lizaso de Siqueira, 34, mãe que congelou os cordões dos filhos gêmeos Gabriel e Marcella.
Para a publicitária Gisela Toledo, 26, que conviveu com um amigo vítima de leucemia, guardar o cordão da filha "foi o melhor seguro de vida que poderia ter feito para ela".
As possibilidades de uso, ainda que não comprovadas cientificamente, animam os pais. "Sei que, no futuro, é possível que essas células-tronco sejam utilizadas para substituir tecidos danificados, por exemplo", diz o pai dos gêmeos, Marcelo Machado de Siqueira, 34.
Já existem no Brasil ensaios clínicos que indicam que essas células podem regenerar músculos cardíacos e reparar cartilagens e ossos, explica Borojevic. "Os estudos foram feitos com células-tronco da medula óssea, que são iguais às obtidas com o cordão umbilical", completa.
Na França e no Japão, reconstituições de tecido hepático foram realizadas com sucesso, e nos EUA os resultados de estudos em pacientes vítimas de lesão nervosa têm sido muito profícuos, diz Borojevic.
Para a geneticista da USP Lygia Pereira da Veiga, daqui a uns cinco anos esses benefícios devem se tornar realidade. Segundo Andrezza Ribeiro, hemoterapeuta do banco de sangue do hospital Albert Einstein (SP), onde também é feito congelamento de cordão umbilical (há 80 deles sendo mantidos lá), "a maioria das pessoas que congelam o cordão de seus filhos aqui são médicos; acreditamos na rápida evolução desse processo".



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