São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002
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Riscos psicológicos da aplicação na bolsa

Ele ainda era um feto de um mês e já possuía investimentos na Bolsa de Valores de São Paulo. Francisco Pontin, hoje com dez meses de vida, tem ações de empresas como Itaú, Petrobras e Gerdau. Ele ainda não fala, mas, se o fizesse, talvez perguntasse ao pai, o professor Joel Arnaldo Pontin, 39: "Mas por que isso?". E a resposta seria algo como: "Porque queremos que você estude no exterior".
Aliás, esse objetivo começou a ser traçado pelo pai antes mesmo de o filho ser gerado. "Quando decidimos ter um filho, comecei a pesquisar a melhor forma de investir. Fiquei uns três meses entre poupança, renda fixa, PGBL, até optar pela Bolsa de Valores", explica. "Quero que ele faça um intercâmbio no exterior quando estiver no colegial."
Aos interessados em assegurar o estudo do filho no futuro investir em ações pode ser arriscado. "Melhor seria optar pelas ações como investimento complementar a uma poupança, por exemplo", diz o planejador financeiro Louis Frankenberg.
Sem medo de correr riscos, o consultor em gestão de investimentos Walter Brasil Mundell foi mais longe que Pontin. Não só optou em investir na bolsa pensando lá na frente como, quando o garoto ainda tinha cinco anos, fez um gráfico para ilustrar a mensagem: "Ações devem ser compradas quando custam pouco e vendidas quando estão caras".
Será que Pedro, hoje com 13 anos, compreendeu o gráfico na época? "Claro que sim, perfeitamente! Tanto que ele gostou do negócio e investe o próprio dinheiro que eu dou para ele por semana", conta Mundell. Para estimular o filho a prosseguir na empreitada, o pai propôs: "Até você completar 21 anos, cada vez que decidir investir, eu aposto a mesma quantia que você!".
Sobre essa participação ativa logo cedo no mundo das finanças, a psicóloga especializada no atendimento a crianças Silvana Rabello, da PUC-SP, faz uma ponderação: "Se os pais não mostrarem que os valores fundamentais da vida vão além do ter ou não ter dinheiro, o resultado pode ser catastrófico em termos de relação humana. A criança pode preferir dinheiro a amizades, por exemplo".
Miriam Debieux Rosa, psicanalista que coordena o laboratório de psicanálise e sociedade da PUC e da USP, alerta os pais para que não se excedam nas exigências, pois a criança pode sentir que não corresponde às expectativas dos pais, o que pode causar depressão no filho.



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