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São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2003
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S.O.S. FAMÍLIA

Rosely Sayão

Acreditar em Papai Noel é fundamental

Esta é uma época em que a criança se torna alvo de toda a atenção do mercado publicitário. Para que o comércio explore toda a sua possibilidade de vendas no período, Papai Noel ganha status de garoto-propaganda principal das campanhas, de vendedor-mor de brinquedos e diversões de todos os tipos. E lá vem, de novo, a criança com a lista de "presentes" que espera ganhar no Natal. E é bom lembrar que algumas não pedem, exigem. E os pais as atendem, ou melhor, obedecem-lhes, muitas vezes com sacrifício e sem nenhuma convicção.
Já comentei esse prático costume das listas de presentes que se alastrou por todas as comemorações e festividades: Natal, casamento, aniversário etc. A moda pegou porque é um costume prático e útil, já que todos acham que ganhar o que se precisa ou o que se quer é sempre gostoso e, para quem vai dar o presente, é muito menos trabalhoso. Mas também é bem pouco humano. Por quê? Porque a relação da pessoa que espera e vai ganhar com a pessoa que vai oferecer algo deixa de ser a prioridade, e o que passa a ter maior valor nessa ocasião é o bem chamado presente.
Mas o que poderia importar, na verdade, é que o presente pode ter sentido de presença: alguém se ocupa com a missão de procurar e encontrar algo que faça sentido para aquela determinada pessoa, que simbolize o vínculo que há entre elas. Essas tais listas são bem interessantes nas festas de amigo-secreto em empresas, já que nelas as relações são bem impessoais. Mas, de pais para filhos, entre amigos e pessoas que realmente se querem bem, não fazem sentido nenhum, a não ser o de consumo.
Voltemos à criança e à relação dela com o Natal e com o Papai Noel. Já houve tempo em que deixar a criança -principalmente a de menos de seis anos- acreditar nessa figura foi considerado ato totalmente incorreto. Com os mais velhos, quase nunca foi problema, já que eles, como consequência do crescimento, abandonavam esses mitos do mundo da imaginação infantil. Por sorte, hoje pais e profissionais reconhecem que essa crença não atrapalha a vida da criança.
O mundo da criança pequena é bem diferente do mundo do adulto. Sua imaginação interfere na sua vida real e vice-versa. Esse mundo imaginário é repleto de seres inventados por ela mesma e por outros que ela conheceu por ter sido apresentada pela cultura em que vive. Esses personagens aparecem apenas de quando em quando e em certas ocasiões especiais, e Papai Noel é, entre eles, um dos mais importantes. Mas muitos adultos não conseguem se dar conta da importância desse acontecimento na vida da criança. Num mundo em que as sensações são mais importantes que as emoções, ter um personagem com quem se identificar e se emocionar é, na vida da criança, fato fundamental.
Muitos pais ainda acreditam que tudo o que a criança precisa e quer no Natal para ficar alegre e satisfeita são muitos presentes, muitos brinquedos. O que a criança precisa e quer mesmo é um presente carregado de afeto, não mais brinquedos apenas. E isso ela não consegue ao ganhar um presente encomendado nem ao acreditar que Papai Noel é um vendedor sedutor de alguma loja de presentes para crianças que ela conheceu.
Contar aos filhos as histórias mágicas de Papai Noel, contextualizar o personagem e, principalmente, abdicar de usá-lo como figura educativa -o que ele não é- é que ajuda a criar uma atmosfera de magia e de fantasia com o filho. Dar voz à imaginação da criança e permitir que ela use sua criatividade para manifestar seus desejos, suas expectativas e suas angústias é muito mais importante do que qualquer presente que ela almeje ganhar no Natal. Dessa maneira, Papai Noel deixa de ser um mero vendedor de brinquedos, deixa de ser apenas mais um explorador do consumo e passa a representar afeto e emoção, passa a simbolizar o ambiente afetivo verdadeiramente sincero na família.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail: roselys@uol.com.br


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