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É um tipo de poluição invisível, sem cheiro e pouco conhecida, mas que interfere em aparelhos eletrônicos e na saúde do homem
Ondas eletromagnéticas poluem o ar das cidades
Eder Chiodetto/Folha Imagem
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Foto tirada de dentro de antena da av. Paulista, local de maior concentração de poluição eletromagnética de São Paulo |
DANIELA FALCÃO
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Quem passa pela Paulista -uma das avenidas de maior circulação de São Paulo e do
país- se expõe à poluição ambiental mais debatida nos últimos 20 anos: a eletromagnética.
Como não pode ser vista, sentida nem cheirada,
pouca gente se dá conta de que ela existe.
Mas o campo eletromagnético emitido por antenas de TV, de
celular e rádio provoca interferência em aparelhos eletroeletrônicos -de marcapassos e válvulas cardíacas a rádios e computadores- e ainda pode afetar plantas, animais e até o homem.
Em janeiro passado, uma antena de celular em Campinas
(SP) teve de ser removida depois que técnicos do CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) detectaram, no consultório dentário que ficava num prédio em
frente à antena, níveis de radiação eletromagnética acima da
faixa de segurança.
A antena teve sua posição mudada para proteger os moradores
e as pessoas que trabalhavam no edifício dos efeitos térmicos do
excesso de radiação -como queimaduras e parada cardíaca.
Esse tipo de poluição também já obrigou uma montadora de
veículos a alterar o sistema de injeção eletrônica de um protótipo
que estava sendo testado porque o carro apresentava defeito sempre que passava pela avenida Paulista.
Perda de memória e câncer
A poluição causada por antenas de celular, TV e rádio é conhecida como radiação por radiofrequência. Ao contrário da poluição causada por raios X e gama,
ela é fraca demais para quebrar a ligação de moléculas e células, o
que provoca danos graves à saúde. Entretanto também preocupa,
e não apenas pelos efeitos térmicos.
Pesquisas feitas nos EUA, na Inglaterra e na Austrália indicam
que a exposição contínua a campos de radiofrequência pode provocar sensação de cansaço, mudanças de comportamento, perda
de memória, mal de Parkinson, mal de Alzheimer e até câncer.
Tudo depende da frequência e da intensidade das ondas emitidas pela antena, do tempo de exposição e, sobretudo, da distância
em que a pessoa fica da fonte emissora.
Essas pesquisas são alvo de questionamentos por parte da comunidade científica internacional porque nenhuma conseguiu
demonstrar de que maneira as ondas eletromagnéticas alteram o
funcionamento do organismo (leia texto na página 12).
Mesmo assim, a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma
que os riscos levantados até agora "demandam urgência no desenvolvimento de programas que levem a um consenso científico
que possibilite a clarificação desses assuntos".
Enquanto o consenso não vem, a recomendação é prudência e fiscalização intensa para impedir que as antenas emitam campos eletromagnéticos acima do limite considerado
seguro para a saúde humana. A Comissão Internacional de
Proteção às Radiações Não-Ionizantes, órgão ligado à OMS
encarregado de orientar o debate internacional sobre o assunto, estabelece que nenhuma antena deve emitir radiação
superior a 435 microwatts por cm2.
Já está cientificamente provado que, acima desse valor, o
campo eletromagnético eleva a temperatura do corpo e pode
causar queimaduras, catarata, má-formação fetal, derrame e
parada cardíaca.
Embora a OMS recomendasse fiscalização intensa para
driblar esses problemas, não havia no Brasil nenhuma legislação limitando a emissão de radiação por radiofrequência.
Com a proliferação das antenas de celulares, o clima de desconfiança sobre potenciais efeitos nocivos das antenas aumentou. Algumas prefeituras decidiram não esperar pela
Anatel, o órgão regulador, e criaram limites municipais.
Campinas saiu à frente. Em outubro de 98 aprovou lei fixando o limite de 100 microwatts por cm2 -quatro vezes
mais rígido do que o sugerido pela OMS. Bauru seguiu o
exemplo e, seis meses depois, estabeleceu o mesmo valor.
Porto Alegre foi mais flexível e fixou a radiação máxima em
580 microwatts por cm2. Finalmente, em julho passado, a
Anatel decidiu que, enquanto não for elaborada a legislação
nacional, vale o valor recomendado pela OMS. Como as três
cidades já haviam estabelecido seus próprios limites, a confusão foi criada. A pedido da Folha, a Abricem (Associação
Brasileira de Compatibilidade Eletromagnética) fez uma medição
em alguns pontos da avenida Paulista na semana passada e constatou que, no trecho em frente à antena da TV Globo, a radiação
varia de 25 microwatts por cm2 a 97,8 microwatts por cm2. É alta,
mas aceitável. Medições feitas em 97 em antenas de celular instaladas no Paraíso e no largo de São Bento (centro de SP) detectaram campos magnéticos ainda mais altos, de 135,8 microwatts
por cm2 e 206,2 microwatts por cm2, respectivamente. Se fosse em
Campinas ou Bauru, as torres teriam de ser deslocadas.
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