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São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003
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Grupos de SP, Brasília e Florianópolis querem estimular o uso de transporte alternativo e melhorar convivência com motoristas

Ciclistas se unem para ganhar espaço e respeito

Thiago Balbi/Divulgação
O grupo se reúne no último sábado de cada mês e utiliza a faixa da esquerda de ruas e avenidas, como a Paulista


KATIA DEUTNER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Pedalando sua bicicleta, o analista de suporte Júlio César Aragão, 22, economiza uma hora, todos os dias, para chegar ao trabalho. Se fizesse o trajeto de 30 km usando transporte público, Aragão levaria uma hora e 30 minutos. Se ele fosse de automóvel, 45 minutos. "De bike, vou em meia hora, me livro do tráfego e ainda me exercito", diz ele. O analista faz parte de um grupo de ciclistas de São Paulo que batalha por espaço nas movimentadas ruas das grandes cidades e que protesta contra o que eles chamam de "cultura dos carros". Todos os meses, eles ocupam uma pista da avenida Paulista e distribuem panfletos para os motoristas.
"Não estamos atrapalhando o trânsito, nós somos o trânsito." Esse é o lema do grupo, cuja manifestação, que reúne em média 50 ciclistas mensalmente, tem um nome curioso: Passeio de Massa Crítica.
Os ciclistas se apropriaram de um conceito científico. Na física, a expressão "massa crítica" indica a quantidade mínima de material necessária para sustentar uma reação em cadeia. A adaptação dessa idéia ao universo das bicicletas aparece em um documentário sobre ciclistas na China, do norte-americano Ted White. Apesar do grande número de bicicletas que circulam pelo país, os chineses são obrigados a formar grupos para atravessar as ruas em segurança, pois a sinalização não ajuda.
Nos Estados Unidos, a idéia de formar "massas críticas" de bicicletas surgiu em San Francisco. Desde então, o passeio acontece na última sexta-feira de cada mês, em pleno horário de pico, no final da tarde. No meio do trânsito congestionado, os ciclistas californianos acreditam ser mais fácil mostrar as vantagens de deixar o carro em casa e usar meios alternativos de transporte -bicicleta, patins, patinete, skate-, reduzindo a poluição e economizando tempo e dinheiro.
No Brasil, o movimento começou em São Paulo há oito meses. Os passeios são feitos na manhã do último sábado de cada mês -coincidentemente, em janeiro cai no dia do aniversário de São Paulo (leia mais ao lado). O horário e o ponto de encontro são sagrados, nunca mudam. Segundo os participantes, é importante estabelecer uma rotina para que cada vez mais ciclistas sozinhos se integrem ao movimento, que não tem líderes, não é vinculado a nenhuma instituição e nem possui patrocínio.
Geralmente, os motoristas são receptivos com o passeio, que também é chamado de bicicletada e está sendo realizado em Florianópolis e Brasília. Mas alguns se irritam com os ciclistas, embora eles ocupem apenas uma faixa das avenidas. Em um dos passeios, um cobrador de lotação gritou: "Vão para o mato. Aqui não é lugar de bicicleta!". Além de ter sido grosseiro, ele está errado.
O Código Nacional de Trânsito regulamenta a circulação de bicicletas. Quando não há ciclovia, ciclofaixa ou acostamento, o ciclista tem direito de ocupar "os bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores". Se um automóvel passa a menos de 1,5 m de uma bicicleta, o motorista está cometendo uma infração e pode até ser multado.
Os ciclistas também precisam pedalar conforme a lei. E com capacete, por segurança. As bicicletas são obrigadas a ter campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais e espelho retrovisor do lado esquerdo.
Os participantes da bicicletada esforçam-se para melhorar a convivência entre motoristas e ciclistas. "O motorista não nos percebe como ciclistas, mas como obstáculos. Mas, quanto mais agimos de maneira responsável no trânsito, mais o motorista nos respeita", explica o revisor de textos João Carlos Campos, 33.


ONDE
Em São Paulo: sábado, 25/1, às 10h; concentração na esquina da avenida Paulista com a rua da Consolação (em frente à livraria Belas Artes)
Informações: www.bicicletada.org (São Paulo e Florianópolis) e www.moutainbikebrasilia.com.br/bicicletada.htm (Brasília)


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