|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Grupos de SP, Brasília e Florianópolis querem estimular o uso de transporte alternativo e melhorar convivência com motoristas
Ciclistas se unem para ganhar espaço e respeito
Thiago Balbi/Divulgação
|
O grupo se reúne no último sábado de cada mês e utiliza a faixa da esquerda de ruas e avenidas, como a Paulista |
KATIA DEUTNER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Pedalando sua bicicleta, o analista de suporte Júlio César Aragão, 22, economiza uma hora, todos os dias, para chegar ao trabalho. Se fizesse o
trajeto de 30 km usando transporte público, Aragão levaria uma hora e 30
minutos. Se ele fosse de automóvel, 45 minutos. "De bike, vou em meia hora,
me livro do tráfego e ainda me exercito", diz ele. O analista faz parte de um
grupo de ciclistas de São Paulo que batalha por espaço nas movimentadas
ruas das grandes cidades e que protesta
contra o que eles chamam de "cultura
dos carros". Todos os meses, eles ocupam uma pista da avenida Paulista e distribuem panfletos para os motoristas.
"Não estamos atrapalhando o trânsito,
nós somos o trânsito." Esse é o lema do
grupo, cuja manifestação, que reúne em
média 50 ciclistas mensalmente, tem um
nome curioso: Passeio de Massa Crítica.
Os ciclistas se apropriaram de um conceito científico. Na física, a expressão
"massa crítica" indica a quantidade mínima de material necessária para sustentar uma reação em cadeia. A adaptação
dessa idéia ao universo das bicicletas aparece em um documentário sobre ciclistas
na China, do norte-americano Ted White. Apesar do grande número de bicicletas que circulam pelo país, os chineses
são obrigados a formar grupos para atravessar as ruas em segurança, pois a sinalização não ajuda.
Nos Estados Unidos, a idéia de formar
"massas críticas" de bicicletas surgiu em
San Francisco. Desde então, o passeio
acontece na última sexta-feira de cada
mês, em pleno horário de pico, no final
da tarde. No meio do trânsito congestionado, os ciclistas californianos acreditam
ser mais fácil mostrar as vantagens de
deixar o carro em casa e usar meios alternativos de transporte -bicicleta, patins,
patinete, skate-, reduzindo a poluição e
economizando tempo e dinheiro.
No Brasil, o movimento começou em
São Paulo há oito meses. Os passeios são
feitos na manhã do último sábado de cada mês -coincidentemente, em janeiro
cai no dia do aniversário de São Paulo
(leia mais ao lado). O horário e o ponto
de encontro são sagrados, nunca mudam. Segundo os participantes, é importante estabelecer uma rotina para que cada vez mais ciclistas sozinhos se integrem
ao movimento, que não tem líderes, não
é vinculado a nenhuma instituição e nem
possui patrocínio.
Geralmente, os motoristas são receptivos com o passeio, que também é chamado de bicicletada e está sendo realizado
em Florianópolis e Brasília. Mas alguns se
irritam com os ciclistas, embora eles ocupem apenas uma faixa das avenidas. Em
um dos passeios, um cobrador de lotação
gritou: "Vão para o mato. Aqui não é lugar de bicicleta!". Além de ter sido grosseiro, ele está errado.
O Código Nacional de Trânsito regulamenta a circulação de bicicletas. Quando
não há ciclovia, ciclofaixa ou acostamento, o ciclista tem direito de ocupar "os
bordos da pista de rolamento, no mesmo
sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores". Se um automóvel passa a menos de 1,5 m de uma bicicleta, o
motorista está cometendo uma infração
e pode até ser multado.
Os ciclistas também precisam pedalar
conforme a lei. E com capacete, por segurança. As bicicletas são obrigadas a ter
campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais e espelho
retrovisor do lado esquerdo.
Os participantes da bicicletada esforçam-se para melhorar a convivência entre motoristas e ciclistas. "O motorista
não nos percebe como ciclistas, mas como obstáculos. Mas, quanto mais agimos
de maneira responsável no trânsito, mais
o motorista nos respeita", explica o revisor de textos João Carlos Campos, 33.
ONDE
Em São Paulo: sábado, 25/1, às 10h; concentração na esquina da
avenida Paulista com a rua da Consolação (em frente à livraria Belas
Artes)
Informações: www.bicicletada.org (São Paulo e Florianópolis) e
www.moutainbikebrasilia.com.br/bicicletada.htm (Brasília)
Texto Anterior: poucas e boas: Equipamento exercita mãos, braços e ombros Próximo Texto: outras idéias - fábio steinberg: Ano novo, marca nova Índice
|