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Quando o barulho detona o corpo
Nada de novo acontece com o corpo
quando a pessoa está na quietude, mas,
quando está sob barulho, sim. "Momentos de meditação são necessários para a
saúde, senão a pessoa fica eufórica e os
reflexos se tornam mais rápidos, o que altera o metabolismo e gera estresse", diz
Fernando Pimentel, neurofisiologista da
Universidade Federal de Minas Gerais.
A exposição à noite a ruídos superiores
a 30 decibéis (dB) -até esse limite, o som
equivale ao de uma tranqüila noite no
campo- pode levar pessoas mais sensíveis a ter um sono superficial, gerando
sonolência e cansaço ao longo do dia. O
pior tipo de ruído é o intermitente, que
ocorre por alguns segundos, como o de
um alarme de carro ou de uma ambulância passando.
Sob a ação de ruídos de 50 dB (uma
conversa normal) a 85 dB (um liqüidificador em funcionamento), o corpo começa a sentir efeitos de estresse. Os sintomas variam de um constante estado de
alerta até a acentuação de problemas cardiovasculares e digestivos e diabetes.
"Um estudo feito em Berlim, na Alemanha, mostrou que, em locais com ruído
de fundo de 70 dB, a ocorrência de infarto
de miocárdio é 20% maior", diz Pimentel. Outros efeitos são a diminuição da
resposta imunológica e da capacidade de
cicatrização dos tecidos.
Há também a liberação de endorfina,
substância que gera sensação de bem-estar e pode causar dependência. Isso explicaria, segundo alguns especialistas, por
que algumas pessoas precisam de barulho mesmo quando deveriam preferir o
silêncio -caso, por exemplo, de pessoas
que só conseguem dormir com a televisão ou o rádio ligados.
Os ruídos perturbam a capacidade de
concentração e de desenvolvimento intelectual. Há estudos que relacionam o baixo desempenho de estudantes ao barulho do ambiente (da escola ou da sala de
aula, por exemplo).
Porém, nessa faixa de som, os efeitos
nefastos são relativos, porque dependem
da interpretação pessoal e do tempo de
exposição ao ruído. Ou seja, há quem fique irritado com a música do caminhão
de gás, e há quem não se importe ou até
goste dela. Um exemplo a respeito do
tempo de exposição: um papo animado
pode ser revigorante, mas encarar um falatório durante horas seguidas é capaz de
deixar a pessoa estafada.
A partir de 85 dB (um show de rock),
não importa se o som é agradável, ele é,
necessariamente, prejudicial ao corpo,
em especial à audição: as cerca de 2.000
células da cóclea de cada ouvido começam a se degenerar. Essas células são responsáveis por transformar as vibrações
sonoras nos impulsos elétricos que vão
para o cérebro. Quando há sobrecarga de
energia, elas começam a morrer.
Para ter uma idéia, a cada 3 dB, a quantidade de energia que essas células recebem dobra. Aumentar o volume de 90 dB
para 93 dB pode ser mais grave do que se
imagina.
Quando a exposição a sons altos é curta
e pouco freqüente, pode acontecer o chamado zumbido temporário, além de uma
sensação de abafamento do som. Isso significa que as células foram afetadas, mas
se regeneraram.
Quando o estilo de vida é muito barulhento, elas podem se extinguir aos poucos, sem que a própria pessoa note. Segundo Sady Selaimen, presidente da Sociedade Brasileira de Otologia, é comum
pacientes irem aos consultórios com
queixa de zumbido e então descobrirem
a perda de audição ou vice-versa. "As
duas coisas, em geral, ocorrem juntas",
afirma Selaimen.
O zumbido contínuo, em geral, é um
aviso antecipado da surdez e pode durar
a vida toda, mesmo quando a pessoa perdeu completamente a audição. Ambos os
problemas também podem ser causados
por sons curtos e muito intensos, como
os de explosões.
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