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s.o.s. família
rosely sayão
Pai e mãe podem pensar diferente a educação
Os médicos obstetras estão cada vez mais
acostumados com a presença do pai na
hora do parto. Ele está presente na vida do filho desde o nascimento e amplia, cada dia um
pouco mais, essa participação. Não se contenta mais em fazer apenas figuração. Os pais querem, de fato, interferir nos rumos da vida
dos filhos e, principalmente, da educação. E isso -vejam que interessante- tem gerado
muitas reclamações das mães.
Não é contraditório que o que antes era motivo de reclamação pela ausência agora o é pela presença? E de que reclamam as mães? Da
dificuldade de educar em conjunto.
Elas, que, por muito tempo, tiveram de decidir quais atitudes tomar com os filhos e de arcar sozinhas com tal responsabilidade, agora
não sabem exatamente como lidar com a participação do pai de seus filhos.
A mãe não quer deixar o filho sair sozinho
ainda, mas o pai acha que já está na hora de ele
aprender a se virar no mundo; o pai quer levar
a filha para a escola de carro, mas a mãe quer
que ela aprenda a usar o transporte coletivo.
Quando em conflito, a mãe quer conversar e
tudo acaba na maior discussão com a filha,
mas, para o pai, isso se resolve sem muita conversa e assim se evita a gritaria final. Esses são
alguns exemplos enviados por leitores que
querem saber como sair da encrenca. E numa
coisa eles têm razão: é encrenca mesmo o que
vivem, já que o filho, em geral bem esperto, logo descobre as discordâncias entre os pais e
sempre dá um jeito de, de acordo com seus interesses, capitalizar para si algum tipo de vantagem.
Uma coisa é certa: é muito melhor que o pai
e a mãe -e não apenas um deles- atuem
juntos na educação. Muita gente acha que pai
e mãe precisam pensar do mesmo modo sobre a educação do filho. Mas não é preciso unificar opiniões e ações, não é fundamental
igualar as atitudes do pai e da mãe. Aliás, isso
seria quase impossível, dadas as diferenças
pessoais.
A educação do filho até pode ser enriquecida
quando os pais pensam de modo diferente.
Mas o difícil é o pai e a mãe saberem lidar com
as próprias diferenças sem moralizar, sem
avaliar as opiniões um do outro segundo as referências de certo e errado no ato de educar.
O mais comum é a mãe achar que o pai está
errado e vice-versa. Como não sabemos o que
é certo e o que é errado na educação familiar,
podemos concluir que, na verdade, o que pai e
mãe disputam é o poder de cada um na determinação dos rumos da educação dos filhos.
Dá para resolver isso? Claro que sim, mas
não sabemos como, já que só no mundo contemporâneo o exercício da paternidade tem-se mostrado tão atuante e, por isso, este é o
tempo de criar as saídas para os impasses estabelecidos. Mas há algumas pistas que podem
ajudar. Uma delas é a de que nem tudo precisa
ser acertado entre pai e mãe. Se o filho está
com o pai, pode muito bem seguir as orientações dele naquele momento. Quando está
com a mãe, que atenda à orientação dela, mesmo que seja diferente das dadas pelo pai em situação semelhante. E nem vamos considerar o
argumento de que o filho vai ficar confuso
com essa diferença de condução.
Ele não pode ser subestimado a esse ponto.
Ele aprenderá logo -antes mesmo que os
pais possam esperar- a identificar o que cada
um exige ou pede dele para saber agir.
Mas, é claro, os pais devem conversar sobre
pontos que consideram importantes para, em
situações desse tipo, acordarem atitudes que
adotarão com o filho. E aí é que será preciso,
da parte de ambos, disponibilidade para ceder
e mudar. E, principalmente, para reconhecer a
importância da participação dos dois na educação dos filhos. Como estamos acostumados
com o modelo "a mãe educa e o pai provê",
tem sido difícil para a mulher compartilhar o
papel educativo. Aceitar dividir essa responsabilidade não é fácil, mas talvez seja fundamental para os filhos e para a construção dos papéis de pai e de mãe na atualidade.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre
outros; e-mail: roselys@uol.com.br
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