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Total flex
Parece até vantagem, mas a hipermobilidade é umacondição genética que pode causar problemas nas articulações e na coluna
FLÁVIA MANTOVANI
DE SÃO PAULO
Sabe aquela pessoa que
põe a mão no chão com a
maior facilidade, sem dobrar
os joelhos? Essa elasticidade
toda, apesar de parecer só
um motivo para se gabar nas
aulas de educação física, pode trazer prejuízos.
A chamada hipermobilidade articular é uma característica genética considerada
benigna, mas que pode predispor a tendinite, escoliose
e até incontinência urinária.
"É um defeito dos tecidos
moles, como tendões e ligamentos. Essas pessoas estão
sempre se machucando, com
dor, problema na coluna",
diz a fisioterapeuta Neuseli
Lamari, professora da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto).
Ela descobriu, em pesquisa, que a hipermobilidade
era a causa de grande parte
das queixas de dor na coluna, no ombro e no joelho em
trabalhadores de indústrias
-na área têxtil, 27,7% dos casos tinham essa origem.
Segundo Lamari, a hipermobilidade afeta 30% da população e é mais comum em
mulheres e crianças.
O diagnóstico é feito por
um teste simples, que gera
uma pontuação de 4 a 9, dependendo do grau.
O problema provoca uma
instabilidade articular que
pode levar a lesões -é comum torcer ou virar o pé.
A autônoma Danielle Terenci, 27, que tem hipermobilidade de grau 8, sabe o que é
isso. "Viro o pé o tempo todo,
até parada. É muito engraçado: já caí na faculdade, conversando com amigos. Do
nada, eu desmontei."
Danielle diz que desde pequena percebia ter uma elasticidade exagerada, mas
achava apenas engraçado.
Isso até ajudava nas aulas de
flamenco, que praticou por
seis anos. "Eu achava o máximo fazer movimentos que
ninguém conseguia."
É até comum que os portadores procurem atividades
como dança, circo ou esportes, em que a elasticidade seja uma vantagem.
Há quatro anos, Danielle foi
ao médico por conta de dores
no corpo. Descobriu que tem
fibromialgia, mais comum
em quem é hipermóvel.
Em mulheres, a hipermobilidade também causa incontinência urinária. A musculatura da região pélvica
(onde está a bexiga) é formada por tecidos moles, que ficam frouxos. Isso favorece a
perda involuntária da urina.
Pessoas com esse problema também podem ter artrite, diz Suely Roizenblatt, reumatologista da Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo). "A hipermobilidade
favorece o desgaste precoce
das articulações."
Não há cura nem tratamento para a hipermobilidade, mas é possível tratar suas
consequências, como problemas na coluna.
Uma reeducação postural
pode prevenir lesões. "Orientamos que os pacientes não
forcem as articulações e não
façam atividades de impacto", afirma Roizenblatt.
Segundo a fisioterapeuta
Neuseli Lamari, a falta de
diagnóstico da hipermobilidade é um problema. "O
ideal é que todo mundo soubesse disso cedo para prevenir as complicações."
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