São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2000
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A glândula, localizada na região do pescoço, pode agravar outros problemas, como depressão, queda na audição e anemia
Culpa da obesidade não está sempre na tireóide

DA REPORTAGEM LOCAL

Quem estava acostumado a usar a tireóide como bode expiatório para justificar os quilos a mais na balança vai ter de arranjar outra desculpa e parar de se esconder atrás da glândula. Médicos endocrinologistas de várias correntes têm se empenhando em inocentar a tireóide no que diz respeito à obesidade. "Ela está sendo usada como bode expiatório. Na verdade, as pessoas que engordam por causa de problemas na tireóide são uma exceção, e não a regra", explica o endocrinologista Marcello Bronstein.
"Em Serra Leoa, não há obesos e há muita gente com problema de tireóide", reitera o médico João Hamilton Romaldini, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
Bronstein critica o uso a torto e a direito do hormônio da tireóide por obesos que querem emagrecer. "Isso não tem o menor sentido, a menos que eles sofram de hipotireoidismo, quando a glândula trabalha menos que o esperado", adverte.
Para Romaldini, a tireóide não é sempre a vilã de quem enfrenta problemas para emagrecer. "Outras glândulas, como a supra-renal e a hipófise, e até mesmo o hipotálamo (região do cérebro responsável pela sensação de saciedade) estão mais relacionados com a obesidade do que a tireóide", diz. Localizada no pescoço, a glândula é essencial para o bom funcionamento do corpo porque fabrica hormônios que ativam o metabolismo. Pouca gente sabe, mas o poder da tireóide não se limita ao cérebro, interferindo nas funções sexuais, no grau de oleosidade da pele e no coração. Um desequilíbrio mais grave na glândula pode até levar à morte.
Embora minimizem a importância da tireóide nos desequilíbrios de peso, os médicos atribuem a ela uma série de problemas de saúde que não são corretamente diagnosticados. De acordo com Romaldini, há mulheres que fazem tratamento de reposição hormonal sem necessidade. "Por falta de diagnóstico, não se detecta que o problema é na tireóide", diz. Outro caso bastante comum de diagnóstico falho é a depressão causada pelo hipotireoidismo. O paciente toma o antidepressivo sem realmente precisar dele porque o problema na glândula do pescoço não é detectado de imediato.
Em geral, problemas na tireóide têm origem genética, mas todos devem se preocupar com possíveis alterações. "Os exames devem ser feitos a partir da gravidez, para evitar que o feto nasça sem tireóide, o que causaria retardo mental", diz Romaldini.


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