São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2000
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S.O.S. família

Obediência se aprende com os pais

"Por que os filhos desobedecem tanto aos pais?"-pergunta-se, chorando, a personagem da novela das 20h cuja filha, de mais ou menos 10 anos, acabou de sofrer um acidente. Corta para um dos capítulos anteriores: a mãe está brava com a filha por ela ter atravessado, de bicicleta, um cruzamento que considera perigoso. "Quantas vezes já disse para você não fazer isso?" -pergunta a mãe à garota, e pede, e implora à filha que não repita o feito. Sim, mas por que as crianças desobedecem tanto aos pais, afinal? Por que é preciso que os pais digam uma, duas, três, mil vezes a mesma coisa? Por um motivo simples: o compromisso da criança é com o prazer, com o tempo presente, com o que tem vontade de fazer. E isso é absolutamente natural. Quando a criança quer uma coisa, ela procura, de todas as maneiras, conseguir. E para isso usa todos os recursos que tem. Não basta a mãe ou o pai dizer que ela não deve fazer determinada coisa ou que ela precisa fazer outra. É preciso mais: além de falar, explicar, é preciso assegurar-se de que ela cumprirá o determinado. Se os pais apenas falam, e falam, e falam, vão falar mil vezes e, assim mesmo, a criança dificilmente atenderá. Criança não é como o adulto que é capaz de conter um comportamento, um impulso, uma vontade por conta própria. Não, ela ainda está aprendendo a fazer isso. Ou melhor, ela está em tempo de aprender, caso alguém a ensine. Mas parece que os pais têm tratado as crianças como adultos nessa questão: em vez de conter a criança e ensinar que ela pode aprender isso, esperam que ela se contenha. Se o exemplo usado tivesse ocorrido na vida real, o acidente poderia ter sido evitado se a mãe, em vez de simplesmente pedir à filha que atendesse sua orientação, a tivesse proibido de sair de bicicleta até que fosse capaz de evitar aquele caminho, por exemplo. Qualquer outra medida serviria, desde que garantisse que a filha não se arriscasse. Mesmo já com idade suficiente para entender a explicação da mãe sobre os riscos daquela determinada esquina, a filha ainda não tem idade para resistir à tentação de fazer o que tanto gosta. Os pais não podem abandonar o filho à mercê de si mesmo; isso significa deixar de proteger, deixar de cuidar, deixar de expressar o amor que têm pelo filho. Isso significa deixar de ocupar o lugar de pai, de mãe, de quem deve educar.


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