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Regra boa é a que funciona

LAURA MATTOS
EDITORA DA “FOLHINHA”

Fiz o clássico quando engravidei do Fernando: comprei todos os livros que passaram pela minha frente sobre maternidade e bebês.

Tinha um famoso na época, "Nana, Nenê", com um subtítulo incrível: "Como Resolver o Problema da Insônia do seu Filho". Fernando ainda estava na barriga, mas vai que fosse dado à insônia...

E aqueles cursos de maternidade que ensinam a trocar fralda e dar banho em bonecas? Não, esses eu não fiz. Eu fui além: tinha uma massagista-doula, daquelas que acompanham o parto, que ia, a cada massagem, dando uma nova aula. Assim, aprenderia tudo no tempo exato... -a parte da boneca eu pulei; a fralda e o banho, presumi, seriam tarefas simples.

Então Fernando nasceu em 14 de janeiro de 2005. Com a doula do nosso lado. Minha mãe passou a primeira semana em casa, tudo ia bem.

Na hora que ela cruzou a porta para ir embora, ele estava dormindo, calminho. Quem chorou fui eu.

E, então, diante de qualquer novidade (e elas nunca param de acontecer quando se tem um filho), eu dizia: "Eu li no livro que..."

E o bebê chorava, não dormia a noite toda, não mamava de duas em duas horas, nem de três em três, escorregava da minha mão e tomava caldo na banheirinha (quem mandou não fazer a aula com a boneca...).

A gente tentou algumas vezes implementar o método do "Nana, Nenê", que determina os minutos exatos que se deve deixar o bebê chorando no berço. Não dava certo (isso pode raramente acontecer, mas a culpa é dos pais, não do método, esclarece o livro).

Até que, numa madrugada de muita choradeira, cansaço e do já velho dilema "pega ou não pega no colo", finalmente resolvi dar meu grito de liberdade: "Quero que esse 'Nana, Nenê' vá pra p.q.p.". E peguei o Fernando, que dormiu feliz no colo.

"POWER RANGERS"

Três anos após ter conseguido romper com tantas regras insuportáveis, criei coragem para engravidar de novo. Dessa vez, não podia nem sentir o cheiro de livro de maternidade que dava enjoo.

Também não tinha massagista-doula. E o Henrique não nasceu na mesma maternidade do Fernando, escolhida minuciosamente. Não tinha vaga. Era 30 de abril de 2009, véspera de feriado, um monte de cesária pré-agendada e lá fui eu com a bolsa rompida para outro hospital.

Henrique dormiu a noite toda desde o primeiro dia. E o Fernando, com o irmão ali, também resolveu dormir.

O bebê ia mamando quando tinha fome, dormindo quando tinha sono. Tomava banho quando encontrávamos um bom momento, não na hora certa, segundo os livros (normalmente após a shantala, massagem para bebês que uma vez me fez encharcar um colchão de óleo "com cheiro de bebê"...).

Ficava no berço, no carrinho, no edredon no chão, na rede, no colo dos avós, dos tios, da babá. E via "Power Rangers" com o irmão na TV. Não era mais bonzinho que o primeiro. Quem se tornou mais boazinha fui eu.

Porque, com esses dois moleques fofos, consegui enfim entender, para a vida toda, uma frase que o pediatra me disse logo que me viu bitolada nos livros: "Regra boa é aquela que funciona".

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