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Opinião

Zona sul tem "Divino" e até zona sul

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Vamos combinar que a zona sul não existe. Ou que são tantas que não cabe falar da região como se fosse um todo homogêneo ou mais ou menos homogêneo. Fico com o exemplo do meu pedaço da zona sul, Mirandópolis (oficialmente Saúde): fica espremida entre o Jabaquara e Indianópolis, sendo Jabaquara o equivalente ao "Divino", o bairro da novela "Avenida Brasil", enquanto Indianópolis seria a "zona sul" da novela.

Contrastes como esse -ou até mais agudos- marcam toda a geografia da região.

Eu acordo com o trinado paradisíaco dos passarinhos, som ameaçado de extinção ou já extinto em boa parte da cidade. Mas basta andar 500 metros e trombo com a avenida 23 de Maio, em que "trinam" apenas carros, ônibus, caminhões, motos -um pedaço, enfim, do inferno que é São Paulo em todas as zonas.

"Meu" bairro é formado por uma porção de ruas estreitas, de pouco trânsito e mais casas que apartamentos, cortadas aqui e ali por ruas mais largas, de muitos carros e mais apartamentos que casas.

"Divino" e "zona sul", inferno e paraíso convivem, pois, na região.

Fica difícil, por isso, dizer qual é cara da zona sul. Seria o Borba Gato, a horrenda estátua plantada às portas de Santo Amaro? Ou o Monumento às Bandeiras (mais conhecido como "puxa-puxa"), no Ibirapuera? Ah, a zona sul é a única zona de São Paulo que tem um aeroporto, o de Congonhas, aliás o mais movimentado do Brasil.

Mais recentemente, a região ganhou a ponte Octavio Frias de Oliveira, vulgo ponte estaiada. Um bom símbolo? Não para o meu gosto. É apenas mais uma indicação de que a cidade se rendeu totalmente ao automóvel.

De todo modo, estou longe de ser o indicado para falar de zona sul. Nasci no Bixiga, cresci entre Pinheiros e a Lapa e só me instalei por aqui já adulto. Mesmo assim, foi num prédio à beira da Rubem Berta/23 de Maio. Ou seja, não morava na zona sul mas em um autorama.

Talvez a zona sul seja isso, um autorama, um ponto de passagem rumo a bairros que, embora encravados todos na região, falam pouco uns com os outros.

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