São Paulo, Domingo, 02 de Maio de 1999
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VIAJAR É PRECISO

Gerente vê a mulher só no fim-de-semana

Niels Andreas/Folha Imagem
Vista do centro de Nova York, uma das principais cidades globais


CYNARA MENEZES
da Reportagem Local

O avô de Arthur Ferretti, 33, gerente de sistemas, adora dizer para o bem-sucedido neto que no tempo dele não havia Internet nem computador, mas todos os dias às 17h tomava chá com a mulher.
É uma provocação. Ferretti não só não tem tempo de tomar o chá das cinco com sua mulher, Anelise, como não pode nem mesmo brincar de tomar o chá com a filha, Marina, 5, desde que começou a trabalhar, sempre viajando muito.
"Parece que as viagens me perseguem", diz. Quando se formou em processamento de dados e em economia, Ferretti foi trabalhar na Caterpillar e acabou, para sua surpresa, tendo que passar um ano nos Estados Unidos.
Ele é um exemplo típico de trabalhador globalizado. Nos últimos seis meses, foram mais de 45 mil milhas voadas (o equivalente a ir a Buenos Aires 45 vezes) para seus novos empregadores na Kodak Polychrome Graphics.
O trabalho que Ferretti desempenha é complicadíssimo de explicar a um brasileiro comum. "Eu implanto sistemas de gestão, infra-estrutura e telecomunicações em empresas", tenta simplificar. O fato é que é obrigado a viver entre Argentina, Uruguai, Chile e Brasil. Duas ou três vezes por ano tem reuniões nos EUA ou no México.
Sua "base", como diz, é São Paulo, onde está apenas nos fins-de-semana, para desfrutar com Marina e Anelise -ainda que sem muito tempo de sobra para o tal chá.
Anelise, a mulher, é relações-públicas de uma empresa e não viaja. Fica sozinha com a filha durante a semana -sua família mora no interior-, e, é claro, se queixa do trabalho do marido.
Ele, não. "Sei que é difícil, mas eu gosto do meu trabalho. Desde os 15 anos sou viciado em computador", diz. De tanto viajar, Ferretti não vê muita diferença entre os países que visita. "É tudo igual. Como viajo por países que falam espanhol, só vejo mudar o sotaque", opina.
Em sua rotina de escritório a escritório, daí para os almoços com executivos e às reuniões, o cenário parece fazer menos diferença que o cardápio sem arroz com feijão.


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