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BRASIL
Revolução urbana derruba as fronteiras
da Reportagem Local
Depois de uma urbanização explosiva, que concentrou população nas grandes metrópoles
-principalmente do Sudeste-
ao longo dos anos 70 e 80, o Brasil
está passando por mudanças na
distribuição de sua população.
A marca desta década é a interiorização do crescimento e a formação de novas aglomerações urbanas. Essas são algumas das principais conclusões do mais aprofundado estudo sobre o tema realizado no país nos últimos anos e que
está em fase de conclusão.
"Caracterização e Tendências da
Rede Urbana do Brasil" é coordenado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com
apoio do IBGE e da Unicamp, além
de outras instituições, como o Seade (Serviço Estadual de Análise de
Dados de São Paulo).
Em meio século, o Brasil sofreu
um dos mais rápidos processos de
urbanização do mundo: de 46%
em 1940, as cidades passaram a
abrigar 75% da população brasileira em 1991.
A industrialização tornou os
centros urbanos responsáveis por
90% de tudo o que é produzido no
país. Esse processo levou a uma
concentração de pessoas em grandes metrópoles como São Paulo e
Rio de Janeiro, respectivamente 3ª
e 15ª maiores cidades do mundo.
Nos anos 90, a urbanização brasileira continua forte: já atingiu
80% da população e deve chegar a
88% em 2025 -segundo projeções
nas Nações Unidas. Mas adquiriu
novas características.
A tendência atual e que deve se
manter no futuro é a interiorização
do crescimento populacional. Em
lugar de se concentrar nas metrópoles tradicionais, há um aumento
mais acelerado de população nas
antigas periferias nacionais.
A interiorização se traduz no "espraiamento" do fenômeno de formação de metrópoles. São os casos, por exemplo, de Goiânia e
Campinas (SP). Ou em aglomerações urbanas não-metropolitanas,
como Cabo Frio (RJ) e Itajaí (SC)
-todas com taxas de crescimento
superiores à média do país.
CIDADES MÉDIAS
Reflexo disso, as cidades médias,
entre 100 mil e 500 mil habitantes,
foram as que registraram o maior
crescimento absoluto nos anos 90.
Juntas, passaram a abrigar 36,7 milhões de brasileiros em 1996, contra 31,9 milhões em 1991.
Ao mesmo tempo, segundo o estudo coordenado pelo Ipea, "em
praticamente todas as regiões brasileiras, as pequenas cidades apresentam saldos migratórios negativos". Ou seja, vêm expulsando
mais gente do que recebendo.
Protagonistas do processo de urbanização até a década passada, as
regiões metropolitanas vêm apresentando crescimento relativamente baixo nos anos 90: 7,8% em
média entre 1991 e 1996.
Uma explicação levantada pelo
estudo está ligada à terceirização
da economia das metrópoles. Ela
provocou uma queda no padrão de
renda e redução dos postos de trabalho assalariados. Em outras palavras: piora na qualidade das relações trabalhistas.
Sem perspectiva de proporcionar uma ascensão social, essas cidades perderam seu poder de
atrair levas de migrantes.
"O bloqueio à mobilidade, representado pela redução do crescimento econômico", diz o estudo,
"pode ter incentivado uma menor
migração em direção às principais
metrópoles, como deve também
ter favorecido a migração de retorno (às regiões de origem dos migrantes)".
Seguindo uma tendência mundial, os moradores que permaneceram nas regiões metropolitanas
passaram também por um processo de centrifugação: pressionados
pelo encarecimento do custo de vida, foram empurrados da cidade
central para o seu entorno.
Enquanto o número de habitantes no núcleo das regiões metropolitanas cresceu em média 3,1%, a
população das cidades periféricas
aumentou 14,7% em cinco anos.
Na Grande São Paulo, por exemplo, a capital paulista registrou um
crescimento de apenas 2% entre
1991 e 1996. Mas a população da vizinha Guarulhos cresceu 23,4% no
mesmo período.
NOVAS AGLOMERAÇÕES
Além de propor uma nova classificação da rede urbana (leia texto
na página ao lado), o estudo identificou um intenso processo de formação de aglomerações urbanas
no país. Elas já chegam a 49 e concentram 45% dos brasileiros (73
milhões de habitantes).
As aglomerações são caracterizadas pela concentração de pessoas e
atividades econômicas em uma
mesma área. São cidades cujas malhas urbanas podem ou não ser interligadas fisicamente (conurbadas). O essencial de uma aglomeração urbana é a grande mobilidade de seus moradores e o intenso
fluxo de bens e serviços entre as cidades que a formam.
Num dos casos mais comuns, as
pessoas moram em uma cidade,
mas se deslocam para trabalhar,
fazer compras ou ir à escola no
município vizinho.
A tendência de multiplicação das
aglomerações implica mudanças
também na gestão urbana, afirma
Diana Motta (Ipea), coordenadora
do "Caracterização e Tendências
da Rede Urbana do Brasil".
Para lidar com problemas que dizem respeito a vários municípios
(lixo, captação de água, segurança
e transporte, por exemplo), ela defende a formação de consórcios
entre as prefeituras.
Todas essas transformações mudaram também os conceitos tradicionais de urbano e rural. Apesar
de ainda haver êxodo do campo,
entre 1992 e 1997 -segundo o Projeto Rurbano (coordenado pela
Unicamp)- a população rural
brasileira com 10 anos ou mais de
idade cresceu em 530 mil pessoas.
Além do crescimento das ocupações não-agrícolas no meio rural,
um dos fatores determinantes desse fenômeno foi o crescimento da
mobilidade: muitas pessoas continuam morando na área rural, mas
trabalham nas cidades (e vice-versa). Ou seja, os conceitos tradicionais de população urbana e rural
são insuficientes para explicar as
novas relações entre o campo e a
cidade.
(JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)
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