São Paulo, Domingo, 02 de Maio de 1999
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BRASIL

Revolução urbana derruba as fronteiras

da Reportagem Local

Depois de uma urbanização explosiva, que concentrou população nas grandes metrópoles -principalmente do Sudeste- ao longo dos anos 70 e 80, o Brasil está passando por mudanças na distribuição de sua população.
A marca desta década é a interiorização do crescimento e a formação de novas aglomerações urbanas. Essas são algumas das principais conclusões do mais aprofundado estudo sobre o tema realizado no país nos últimos anos e que está em fase de conclusão.
"Caracterização e Tendências da Rede Urbana do Brasil" é coordenado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com apoio do IBGE e da Unicamp, além de outras instituições, como o Seade (Serviço Estadual de Análise de Dados de São Paulo).
Em meio século, o Brasil sofreu um dos mais rápidos processos de urbanização do mundo: de 46% em 1940, as cidades passaram a abrigar 75% da população brasileira em 1991.
A industrialização tornou os centros urbanos responsáveis por 90% de tudo o que é produzido no país. Esse processo levou a uma concentração de pessoas em grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente 3ª e 15ª maiores cidades do mundo.
Nos anos 90, a urbanização brasileira continua forte: já atingiu 80% da população e deve chegar a 88% em 2025 -segundo projeções nas Nações Unidas. Mas adquiriu novas características.
A tendência atual e que deve se manter no futuro é a interiorização do crescimento populacional. Em lugar de se concentrar nas metrópoles tradicionais, há um aumento mais acelerado de população nas antigas periferias nacionais.
A interiorização se traduz no "espraiamento" do fenômeno de formação de metrópoles. São os casos, por exemplo, de Goiânia e Campinas (SP). Ou em aglomerações urbanas não-metropolitanas, como Cabo Frio (RJ) e Itajaí (SC) -todas com taxas de crescimento superiores à média do país.

CIDADES MÉDIAS
Reflexo disso, as cidades médias, entre 100 mil e 500 mil habitantes, foram as que registraram o maior crescimento absoluto nos anos 90. Juntas, passaram a abrigar 36,7 milhões de brasileiros em 1996, contra 31,9 milhões em 1991.
Ao mesmo tempo, segundo o estudo coordenado pelo Ipea, "em praticamente todas as regiões brasileiras, as pequenas cidades apresentam saldos migratórios negativos". Ou seja, vêm expulsando mais gente do que recebendo.
Protagonistas do processo de urbanização até a década passada, as regiões metropolitanas vêm apresentando crescimento relativamente baixo nos anos 90: 7,8% em média entre 1991 e 1996.
Uma explicação levantada pelo estudo está ligada à terceirização da economia das metrópoles. Ela provocou uma queda no padrão de renda e redução dos postos de trabalho assalariados. Em outras palavras: piora na qualidade das relações trabalhistas.
Sem perspectiva de proporcionar uma ascensão social, essas cidades perderam seu poder de atrair levas de migrantes.
"O bloqueio à mobilidade, representado pela redução do crescimento econômico", diz o estudo, "pode ter incentivado uma menor migração em direção às principais metrópoles, como deve também ter favorecido a migração de retorno (às regiões de origem dos migrantes)".
Seguindo uma tendência mundial, os moradores que permaneceram nas regiões metropolitanas passaram também por um processo de centrifugação: pressionados pelo encarecimento do custo de vida, foram empurrados da cidade central para o seu entorno.
Enquanto o número de habitantes no núcleo das regiões metropolitanas cresceu em média 3,1%, a população das cidades periféricas aumentou 14,7% em cinco anos.
Na Grande São Paulo, por exemplo, a capital paulista registrou um crescimento de apenas 2% entre 1991 e 1996. Mas a população da vizinha Guarulhos cresceu 23,4% no mesmo período.

NOVAS AGLOMERAÇÕES
Além de propor uma nova classificação da rede urbana (leia texto na página ao lado), o estudo identificou um intenso processo de formação de aglomerações urbanas no país. Elas já chegam a 49 e concentram 45% dos brasileiros (73 milhões de habitantes).
As aglomerações são caracterizadas pela concentração de pessoas e atividades econômicas em uma mesma área. São cidades cujas malhas urbanas podem ou não ser interligadas fisicamente (conurbadas). O essencial de uma aglomeração urbana é a grande mobilidade de seus moradores e o intenso fluxo de bens e serviços entre as cidades que a formam.
Num dos casos mais comuns, as pessoas moram em uma cidade, mas se deslocam para trabalhar, fazer compras ou ir à escola no município vizinho.
A tendência de multiplicação das aglomerações implica mudanças também na gestão urbana, afirma Diana Motta (Ipea), coordenadora do "Caracterização e Tendências da Rede Urbana do Brasil".
Para lidar com problemas que dizem respeito a vários municípios (lixo, captação de água, segurança e transporte, por exemplo), ela defende a formação de consórcios entre as prefeituras.
Todas essas transformações mudaram também os conceitos tradicionais de urbano e rural. Apesar de ainda haver êxodo do campo, entre 1992 e 1997 -segundo o Projeto Rurbano (coordenado pela Unicamp)- a população rural brasileira com 10 anos ou mais de idade cresceu em 530 mil pessoas.
Além do crescimento das ocupações não-agrícolas no meio rural, um dos fatores determinantes desse fenômeno foi o crescimento da mobilidade: muitas pessoas continuam morando na área rural, mas trabalham nas cidades (e vice-versa). Ou seja, os conceitos tradicionais de população urbana e rural são insuficientes para explicar as novas relações entre o campo e a cidade. (JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)




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