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EXPATRIADO
Economista vive de mala na mão
da Reportagem Local
O economista João Carlos Paciello Jr., o Joca, 35, tem um apartamento de três quartos em São Paulo, mas sua "casa" é uma mala e seu
celular é o único telefone "fixo"
onde pode ser localizado.
"Onde é que você está?", pergunta a secretária, sempre que consegue falar com ele. Joca, diretor regional da Enron, uma multinacional do setor de energia, pode estar
em pelo menos quatro cidades.
Seu dia-a-dia é um espelho das
relações entre as cidades na rede
global. Acompanhe sua rotina: na
segunda-feira passada, estava em
Curitiba. Terça, de passagem por
São Paulo indo para o Rio. Quarta
e quinta passaria em Florianópolis.
Na sexta, de novo no Rio, voltando
para São Paulo à noite. Isso tudo
em uma semana normal.
Nas "anormais", pode aparecer
uma reunião em Houston, nos
EUA, onde fica a sede da empresa,
e terá que ir para lá, às vezes precisando voltar no dia seguinte.
"Essa é a equação da minha vida:
moro em São Paulo, meu escritório fica no Rio e eu trabalho no
Sul", teoriza. Caixeiro-viajante
moderno? "Não, sempre pensei
que sou como uma aeromoça."
Como "aeromoça" -comissário
de bordo, vá lá- que se preze, Joca
não suporta, é claro, comida de
avião. Diz conhecer todos os cardápios servidos pelas diferentes
companhias aéreas, com um ódio
especial dedicado ao rocambole de
chocolate servido por uma delas
como sobremesa.
Seu trabalho consiste em coordenar a implantação de duas empresas de distribuição de gás no Paraná e em Santa Catarina, beneficiadas pelo gasoduto Bolívia-Brasil,
cujo primeiro trecho foi inaugurado em fevereiro passado.
Joca praticamente não vê nada
nas cidades onde vai. Por exemplo:
adora Florianópolis, acha que a cidade tem "um astral legal", mas
não conhece nenhuma praia de lá.
No final do expediente nessas cidades, já cansado depois de um dia
cheio, chega ao hotel por volta das
20h30 e fica vendo televisão -ou
abre o computador portátil e continua trabalhando.
"Na empresa, todo mundo se comunica via Internet", diz. Se a rede
de computadores pode ajudar para
que no futuro não precise viajar
tanto? Não acredita.
"A Internet aumenta o trabalho,
porque estamos sempre recebendo novas tarefas. Além disso, não
acho que dê para substituir a presença física. O que posso fazer é
criar uma infra-estrutura local,
contratar gente lá, mas ainda assim
vou ter que seguir viajando."
Antes, Joca era responsável também pelo gerenciamento das empresas nordestinas do grupo, que
deixou porque "não estava sendo
possível. Eu já não passava mais
em São Paulo", diz.
A razão de voltar a São Paulo é
uma só: o filho João, 9, a quem dedica todos os finais de semana. Aí o
economista se transforma em "tudo". "Sou pai, educador, jogador
de futebol, fera do videogame."
Difícil é arrumar namorada -a
atual, encontra nos intervalos em
que não está viajando ou curtindo
o filho em seus vários programas,
que só não inclui uma diversão:
viajar juntos.
(CYNARA MENEZES)
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