São Paulo, Domingo, 02 de Maio de 1999
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EXPATRIADO

Economista vive de mala na mão

da Reportagem Local

O economista João Carlos Paciello Jr., o Joca, 35, tem um apartamento de três quartos em São Paulo, mas sua "casa" é uma mala e seu celular é o único telefone "fixo" onde pode ser localizado.
"Onde é que você está?", pergunta a secretária, sempre que consegue falar com ele. Joca, diretor regional da Enron, uma multinacional do setor de energia, pode estar em pelo menos quatro cidades.
Seu dia-a-dia é um espelho das relações entre as cidades na rede global. Acompanhe sua rotina: na segunda-feira passada, estava em Curitiba. Terça, de passagem por São Paulo indo para o Rio. Quarta e quinta passaria em Florianópolis. Na sexta, de novo no Rio, voltando para São Paulo à noite. Isso tudo em uma semana normal.
Nas "anormais", pode aparecer uma reunião em Houston, nos EUA, onde fica a sede da empresa, e terá que ir para lá, às vezes precisando voltar no dia seguinte.
"Essa é a equação da minha vida: moro em São Paulo, meu escritório fica no Rio e eu trabalho no Sul", teoriza. Caixeiro-viajante moderno? "Não, sempre pensei que sou como uma aeromoça."
Como "aeromoça" -comissário de bordo, vá lá- que se preze, Joca não suporta, é claro, comida de avião. Diz conhecer todos os cardápios servidos pelas diferentes companhias aéreas, com um ódio especial dedicado ao rocambole de chocolate servido por uma delas como sobremesa.
Seu trabalho consiste em coordenar a implantação de duas empresas de distribuição de gás no Paraná e em Santa Catarina, beneficiadas pelo gasoduto Bolívia-Brasil, cujo primeiro trecho foi inaugurado em fevereiro passado.
Joca praticamente não vê nada nas cidades onde vai. Por exemplo: adora Florianópolis, acha que a cidade tem "um astral legal", mas não conhece nenhuma praia de lá.
No final do expediente nessas cidades, já cansado depois de um dia cheio, chega ao hotel por volta das 20h30 e fica vendo televisão -ou abre o computador portátil e continua trabalhando.
"Na empresa, todo mundo se comunica via Internet", diz. Se a rede de computadores pode ajudar para que no futuro não precise viajar tanto? Não acredita.
"A Internet aumenta o trabalho, porque estamos sempre recebendo novas tarefas. Além disso, não acho que dê para substituir a presença física. O que posso fazer é criar uma infra-estrutura local, contratar gente lá, mas ainda assim vou ter que seguir viajando."
Antes, Joca era responsável também pelo gerenciamento das empresas nordestinas do grupo, que deixou porque "não estava sendo possível. Eu já não passava mais em São Paulo", diz.
A razão de voltar a São Paulo é uma só: o filho João, 9, a quem dedica todos os finais de semana. Aí o economista se transforma em "tudo". "Sou pai, educador, jogador de futebol, fera do videogame."
Difícil é arrumar namorada -a atual, encontra nos intervalos em que não está viajando ou curtindo o filho em seus vários programas, que só não inclui uma diversão: viajar juntos. (CYNARA MENEZES)




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