São Paulo, Domingo, 02 de Maio de 1999
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SÃO PAULO
CAPITAL PERDE INDÚSTRIAS E POPULAÇÃO PARA MUNICÍPIOS VIZINHOS, MAS GANHA MAIOR DESTAQUE NO CENÁRIO MUNDIAL
Influência cresce, mas cidade pára

da Reportagem Local

São Paulo está parando. Mas a área de influência da capital paulista continua crescendo em população e em importância econômica no cenário nacional e mundial.
A nova dinâmica do crescimento paulistano não está mais restrita ao município ou mesmo à Região Metropolitana. A população e a produção se espraiaram para o entorno da capital, dentro de um raio de 150 km que passou a ser conhecido como macrometrópole.
O município e a Grande São Paulo detêm hoje uma fatia menor da produção industrial. Em 1980, a Grande São Paulo concentrava 64% do valor adicionado pela indústria paulista na produção. Em 1995, esse percentual caíra para 52%. A fatia da cidade de São Pau-lo caiu junto, de 36% para 22%.
Mas o êxodo da produção industrial não foi muito longe. Cresceu a participação dos municípios da Região Metropolitana (como Guarulhos e Barueri) e de outras regiões da macrometrópole -como Campinas, que alcançou um peso igual ao da capital.
É o que mostra levantamento feito pela Fundação Seade, do governo do Estado, para o estudo "Caracterização e Tendências da Rede Urbana do Brasil". "O investimento sai um pouco da Região Metropolitana de São Paulo, mas vai para o seu entorno, para Campinas, São José dos Campos e Sorocaba", diz Fátima Araújo, do Seade.

ENTORNO
A macrometrópole concentra 87% dos US$ 24 bilhões de investimentos industriais previstos no Estado de 1995 a 2000. Dentro dela, destacam-se as regiões de Campinas (US$ 7,6 bilhões ou 31%), da Grande São Paulo (US$ 5,4 bilhões ou 22%), e de São José dos Campos (US$ 5,2 bilhões ou 21,5%).
Se parte das linhas de produção se deslocou para a periferia, as sedes administrativas dos grandes conglomerados ficaram na capital. Das 100 maiores empresas privadas do país, 37 estão baseadas na cidade e outras 15, em outros municípios da macrometrópole.
Ao mesmo tempo, São Paulo registrou um crescimento de serviços especializados (como consultoria legal, administrativa e financeira) que atendem essas grandes empresas. Mas isso tem implicações sobre o espaço urbano.
Em "As Cidades na Economia Mundial", Saskia Sassen, professora da Universidade de Chicago, explica que os níveis de lucro no setor internacionalizado e suas atividades subsidiárias, como restaurantes e hotéis, tornaram cada vez mais difícil aos setores tradicionais competir por espaço.
"Lojas de bairro que atendem às necessidades locais são substituídas por butiques elegantes, e restaurantes que atendem àquelas elites urbanas que agora gozam de altos rendimentos", escreve.
Pelo lado positivo, São Paulo integra todas as listas de cidades globais elaboradas por pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Não só por intermediar as relações econômicas do Brasil com o exterior, mas também do mundo com o Mercosul.
"São Paulo tem o essencial para fazer o engate na rede global: concentra a gestão financeira, as sedes dos principais bancos do país, sendo o principal ponto de entrada do investimento externo. E isso é estratégico para fechar negócios", diz Fátima Araújo.
O lado perverso dessa mudança, que espraiou a produção mas manteve os centros decisórios em São Paulo, é que muitos empregos foram exportados e, com eles, uma grande massa de pessoas.
A capital expulsou 478 mil habitantes entre 1991 e 1996. Grande parte migrou para as cidades vizinhas, como Guarulhos, que importou 112 mil novos moradores.
Outra parcela foi para as fronteiras da macrometrópole. A região de Campinas recebeu 173 mil migrantes. A de Sorocaba, 59 mil.
Essas transformações aumentaram as desigualdades dentro da cidade de São Paulo.
De um lado, a nova estrutura ocupacional produz alguns empregos que exigem extrema qualificação e pagam muito bem (como nos bancos de investimentos). De outro, gera demanda por serviços pouco especializados e mal remunerados, como limpeza de prédios.
Quanto maior o fosso entre os mais pobres e os mais ricos, maior a violência. A isso, soma-se o colapso da infra-estrutura urbana, traduzido em enchentes, congestionamentos e piora dos serviços telefônicos. O resultado é uma aparente contradição: aumento da importância econômica da cidade e perda de qualidade de vida.

POLÍTICAS PÚBLICAS
Mas isso não precisa ser assim. Especialista em cidades globais, Hamilton Tolosa diz que o engate na globalização pode ocorrer de forma mais ordenada se existirem políticas públicas com esse fim.
"Sem financiamento público ou privado, desenvolvimento de ciência e tecnologia e treinamento de mão-de-obra podemos ser meros montadores e não conseguir irradiar os efeitos da globalização. Além de ficarmos cada vez mais passivos e dependentes das decisões que são tomadas no exterior."
Professor da Universidade Cândido Mendes, Tolosa propõe uma parceria entre Rio e São Paulo para enfrentar o processo de globalização: "Juntas, as duas cidades representam um mercado com dimensão e grau de diversificação produtiva comparável às mais importantes metrópoles do Primeiro Mundo. O sucesso da inserção do país dependerá da capacidade das duas metrópoles integrarem as suas economias", afirma.
As soluções passam pelo planejamento ao nível da macrometrópole e por ações locais que incentivem a participação da população na tomada de decisões.
(JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)



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