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SÃO PAULO
CAPITAL PERDE INDÚSTRIAS E POPULAÇÃO PARA MUNICÍPIOS VIZINHOS, MAS GANHA MAIOR
DESTAQUE NO CENÁRIO MUNDIAL
Influência cresce, mas cidade pára
da Reportagem Local
São Paulo está parando. Mas a
área de influência da capital paulista continua crescendo em população e em importância econômica
no cenário nacional e mundial.
A nova dinâmica do crescimento
paulistano não está mais restrita
ao município ou mesmo à Região
Metropolitana. A população e a
produção se espraiaram para o entorno da capital, dentro de um raio
de 150 km que passou a ser conhecido como macrometrópole.
O município e a Grande São Paulo detêm hoje uma fatia menor da
produção industrial. Em 1980, a
Grande São Paulo concentrava
64% do valor adicionado pela indústria paulista na produção. Em
1995, esse percentual caíra para
52%. A fatia da cidade de São Pau-lo caiu junto, de 36% para 22%.
Mas o êxodo da produção industrial não foi muito longe. Cresceu a
participação dos municípios da
Região Metropolitana (como Guarulhos e Barueri) e de outras regiões da macrometrópole -como
Campinas, que alcançou um peso
igual ao da capital.
É o que mostra levantamento feito pela Fundação Seade, do governo do Estado, para o estudo "Caracterização e Tendências da Rede
Urbana do Brasil". "O investimento sai um pouco da Região Metropolitana de São Paulo, mas vai para o seu entorno, para Campinas,
São José dos Campos e Sorocaba",
diz Fátima Araújo, do Seade.
ENTORNO
A macrometrópole concentra
87% dos US$ 24 bilhões de investimentos industriais previstos no
Estado de 1995 a 2000. Dentro dela,
destacam-se as regiões de Campinas (US$ 7,6 bilhões ou 31%), da
Grande São Paulo (US$ 5,4 bilhões
ou 22%), e de São José dos Campos
(US$ 5,2 bilhões ou 21,5%).
Se parte das linhas de produção
se deslocou para a periferia, as sedes administrativas dos grandes
conglomerados ficaram na capital.
Das 100 maiores empresas privadas do país, 37 estão baseadas na
cidade e outras 15, em outros municípios da macrometrópole.
Ao mesmo tempo, São Paulo registrou um crescimento de serviços especializados (como consultoria legal, administrativa e financeira) que atendem essas grandes
empresas. Mas isso tem implicações sobre o espaço urbano.
Em "As Cidades na Economia
Mundial", Saskia Sassen, professora da Universidade de Chicago,
explica que os níveis de lucro no
setor internacionalizado e suas atividades subsidiárias, como restaurantes e hotéis, tornaram cada vez
mais difícil aos setores tradicionais competir por espaço.
"Lojas de bairro que atendem às
necessidades locais são substituídas por butiques elegantes, e restaurantes que atendem àquelas elites urbanas que agora gozam de altos rendimentos", escreve.
Pelo lado positivo, São Paulo integra todas as listas de cidades globais elaboradas por pesquisadores
brasileiros e estrangeiros. Não só
por intermediar as relações econômicas do Brasil com o exterior,
mas também do mundo com o
Mercosul.
"São Paulo tem o essencial para
fazer o engate na rede global: concentra a gestão financeira, as sedes
dos principais bancos do país, sendo o principal ponto de entrada do
investimento externo. E isso é estratégico para fechar negócios",
diz Fátima Araújo.
O lado perverso dessa mudança,
que espraiou a produção mas
manteve os centros decisórios em
São Paulo, é que muitos empregos
foram exportados e, com eles, uma
grande massa de pessoas.
A capital expulsou 478 mil habitantes entre 1991 e 1996. Grande
parte migrou para as cidades vizinhas, como Guarulhos, que importou 112 mil novos moradores.
Outra parcela foi para as fronteiras da macrometrópole. A região
de Campinas recebeu 173 mil migrantes. A de Sorocaba, 59 mil.
Essas transformações aumentaram as desigualdades dentro da cidade de São Paulo.
De um lado, a nova estrutura
ocupacional produz alguns empregos que exigem extrema qualificação e pagam muito bem (como
nos bancos de investimentos). De
outro, gera demanda por serviços
pouco especializados e mal remunerados, como limpeza de prédios.
Quanto maior o fosso entre os
mais pobres e os mais ricos, maior
a violência. A isso, soma-se o colapso da infra-estrutura urbana,
traduzido em enchentes, congestionamentos e piora dos serviços
telefônicos. O resultado é uma
aparente contradição: aumento da
importância econômica da cidade
e perda de qualidade de vida.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Mas isso não precisa ser assim.
Especialista em cidades globais,
Hamilton Tolosa diz que o engate
na globalização pode ocorrer de
forma mais ordenada se existirem
políticas públicas com esse fim.
"Sem financiamento público ou
privado, desenvolvimento de ciência e tecnologia e treinamento de
mão-de-obra podemos ser meros
montadores e não conseguir irradiar os efeitos da globalização.
Além de ficarmos cada vez mais
passivos e dependentes das decisões que são tomadas no exterior."
Professor da Universidade Cândido Mendes, Tolosa propõe uma
parceria entre Rio e São Paulo para
enfrentar o processo de globalização: "Juntas, as duas cidades representam um mercado com dimensão e grau de diversificação
produtiva comparável às mais importantes metrópoles do Primeiro
Mundo. O sucesso da inserção do
país dependerá da capacidade das
duas metrópoles integrarem as
suas economias", afirma.
As soluções passam pelo planejamento ao nível da macrometrópole e por ações locais que incentivem a participação da população
na tomada de decisões.
(JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)
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