São Paulo, Domingo, 02 de Maio de 1999
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DE ÔNIBUS

Arquiteto se diz bóia-fria do ensino

da Reportagem Local

Mogi das Cruzes é uma cidade a 50 km a leste de São Paulo, tem 313 mil habitantes, está a caminho do mar-mas não tem praia-, e parece não ter atrativos suficientes para que alguém se desloque até lá duas vezes em um mesmo dia.
Mas é exatamente isso que faz, duas vezes por semana -todas as segundas e quintas-feiras-, o arquiteto Decio Amadio, 47.
Ele mora na capital, onde tem seu escritório, e ensina Desenho Urbano na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Brás Cubas, de Mogi, município que pertence à Região Metropolitana de São Paulo.
O horário é "supermaluco", como o próprio arquiteto define: ele acorda às 5h30 para pegar o ônibus fretado pelos professores de São Paulo que também ensinam lá e às 11h, como não tem "nada para fazer" em Mogi, volta para a capital.
Às 17h30, toma novamente o ônibus para dar as aulas noturnas, e às 23h30 faz a rota de volta para casa. "Quando chego, estou acabado", conta.
Como ele, Amadio estima que 60% dos professores que ensinam na faculdade moram e têm escritórios ou outro trabalho remunerado em São Paulo. Para o arquiteto, que também acompanha um projeto seu em Bragança (80 km ao norte de São Paulo), o emprego fixo em Mogi é a principal fonte de renda.
"Parece que há uma tendência de expansão do trabalho para fora da Grande São Paulo", opina o arquiteto. Entre os professores, existe até uma brincadeira de se chamarem uns aos outros de "bóias-frias" do ensino, porque já há quem se divida entre três ou quatro diferentes locais de trabalho.

TRÂNSITO E CHUVA
Amadio se sente um "expert" nisso: antes de começar a trabalhar em Mogi, há sete anos, se dividia entre São Paulo e Santos (72 km a sudeste da capital), onde participou de um projeto durante um ano e meio.
A vida que o arquiteto e seus colegas professores levam tem um inimigo: o tráfico. Decio Amadio diz que o horário para ir (cedo pela manhã) e voltar (à noite) é tranquilo, fora da hora do rush: em 50 minutos chegam e vêm de lá.
O grande problema é sua saída no meio da tarde. "Aí, a Marginal (Tietê, via expressa de São Paulo) está uma loucura. Em uma das enchentes, saí de lá às 11h, consegui chegar no escritório às 15h e daí para voltar a Mogi foi outra confusão."
Segundo o professor, durante o período de chuvas em São Paulo os alunos ficaram vários dias sem ter aula porque era praticamente impossível para os professores chegar lá.
Já a rotina das viagens de ônibus não chega a ser um problema para Amadio. "Se fosse a semana inteira, acho que começaria a complicar, mas como são só dois dias, para mim é tranquilo."
Para esquecer a paisagem que se repete indefinidamente pela janela do ônibus, o arquiteto lê, dorme ou conversa com os colegas -eles têm até um dia favorito de bate-papo, as segundas-feiras, quando as notícias dos jornais no domingo são uma desculpa para puxar assunto e matar o tempo.
(CYNARA MENEZES)




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