|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRANSPORTE
MAIS LEVE E RESISTENTE, VEÍCULO PODERÁ RODAR ATÉ 250 KM COM APENAS
1 LITRO DE COMBUSTÍVEL
Vem aí o hipercarro...
MARCELO LEITE
especial para a Folha
Para quem acredita que os automóveis representam a libertação
do indivíduo no mundo urbano e
industrial e o direito de ir e vir, um
fundamento da cidadania, está
chegando a era da hiperliberdade.
"Freie Fahrt für freie Bürger"
(pista livre para cidadãos livres),
dizem os alemães, que projetam os
veículos de passeio mais cobiçados
do mundo. Mas é na América, pátria da poderosa combinação simbólica carro e cinema, que está
nascendo o carro do século 21.
O nome, se não diz tudo, diz
muito: hipercarro. Por enquanto é
só uma idéia, menos ainda do que
os carros-conceito que fabricantes
montam artesanalmente para embasbacar o público. Ela não se encontra nas pranchetas de Detroit
ou nos estandes de Genebra, mas
na cabeça de visionários exilados
no prédio ecologicamente correto
do Rocky Mountain Institute, nas
montanhas Rochosas. Não se vai
encontrá-lo em salão algum, só na
Internet: www.hypercar.com.
Perto do que se pretende com o
hipercarro, os 1.405 kg e os 5,05
quilômetros por litro fazem do novo Passat V6 menos do que uma
carroça de R$ 72 mil. Para começar, o combustível do importado
que fascina executivos brasileiros é
mais que obsoleto, a fedorenta gasolina. Já é consenso, hoje, que no
futuro só haverá lugar sob o capô
para eletricidade, mais silenciosa,
limpa e eficiente.
Só com as tecnologias existentes
e materiais como fibra de carbono,
já na primeira década do novo século seria possível melhorar o consumo de energia por um fator dez,
ou seja, chegar a 50 km/l. Quando a
tecnologia das células de combustível (veja quadro) estiver plenamente adaptada, e seu custo começar a cair, a eficiência pode alcançar 250 km/l. Seria possível viajar
de São Paulo ao Rio com o correspondente a menos de dois litros de
gasolina -provavelmente hidrogênio, cuja combustão (queima)
produz o inofensivo vapor d'água.
Segundo Amory Lovins, profeta
do hipercarro, seu ovo de Colombo está em romper a compulsão
dos projetistas em aumentar o peso dos carros, mesmo com o uso de
metais mais leves, como o alumínio. Automóveis mais leves podem
rodar com motores menos potentes -e, portanto, eles mesmos
mais leves. A partir daí, ganhos se
sucederiam, como numa cascata.
"Os consumidores comprarão
hipercarros porque serão carros
melhores, não porque economizam combustível -assim como as
pessoas compram CDs e não discos de vinil", escreveu Lovins no
ensaio "Hipercarros: A Próxima
Revolução Industrial" (www.rmi.
org/hypercars/osaka).
Melhorando a aerodinâmica e
outras fontes de perdas de energia,
como a transmissão, acredita que
se possa terminar cortando dois
terços da gordura de pesos-pesados como o Passat, sem diminuir o
espaço interno e o conforto. Hoje,
95% da energia extraída do combustível é desperdiçada movendo
o próprio veículo, não seus passageiros. Para um símbolo da modernidade, o desempenho é decepcionante. Em lugar de dar asas para o cidadão, os carros de hoje o
condenam a arrastar por aí enormes tanques de combustível.
Embarcando um bocado de eletrônica e automatizando a navegação, os hipercarros poderiam autodirigir-se em superestradas inteligentes, liberando seus motoristas
para ler ou trabalhar nos trajetos
mais longos. Nada impede também que eles sejam hibridizados
com outros conceitos, como o RUF
do dinamarquês Palle Jensen, um
dos sistemas duais em discussão.
Até alcançar uma grande artéria de
tráfego, o veículo é um carro que
pode ser manobrado livremente. A
partir daí, seria transformado numa espécie de vagão individual de
um trem de alta velocidade.
Quanto disso ainda terá algo a
ver com a liberdade de escolher os
próprios caminhos, cabe ao cinema do futuro dizer. Nas cidades de
concreto e asfalto de hoje, todos
acabam escolhendo os mesmos.
Texto Anterior: Habitação: Favelas vão abrigar 1 bilhão de pessoas Próximo Texto: ...para ficar preso no megacongestionamento Índice
|