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AMBIENTE
Petrobras chegou a ser a maior poluidora do país, mas investimento em programa de prevenção reduziu danos
Acidentes e vazamentos de óleo mancham imagem da empresa
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Dezoito de janeiro de 2000 entrou para a história da Petrobras como o dia em que a empresa percebeu que seu sistema de controle operacional e seu plano de emergência contra acidentes
ambientais ainda deixavam muito a desejar, embora
fossem alvo de atenção e investimentos desde 1997. E a
constatação foi feita da pior maneira possível.
Naquela manhã, a baía de Guanabara (RJ) virou uma grande
mancha negra, com 1,4 milhão de
litros de óleo que vazaram da Reduc (Refinaria Duque de Caxias).
A Petrobras levou nove horas para iniciar a contenção do material.
O óleo sujou praias, matou animais e abalou a imagem da companhia. Um abalo que ganhou
força em 2001, quando acidentes
seguidos deram à empresa o posto de maior poluidora do país.
As multas ambientais somam
centenas de milhões de reais (só
no Paraná, são R$ 340,5 milhões),
e a empresa é ré em pelo menos
três ações indenizatórias: pelo
derramamento de 4 milhões de litros de óleo cru no rio Iguaçu
(PR), em 2000; pelo vazamento de
57 mil litros de diesel na serra do
Mar paranaense, em 2001; e pelo
acidente da baía de Guanabara.
"A questão ambiental já era
nossa preocupação, mas aprendemos que sempre há algo a ser
melhorado. Decidimos, então, fazer do limão uma limonada", diz
Cláudio Fontes Nunes, gerente-executivo de segurança, ambiente
e saúde da Petrobras.
A "limonada" atende pelo nome de Pegaso (Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional), que consumiu, em três anos, R$ 3,8 bilhões e reduziu em 97% o volume
total de vazamentos. Em 2000, os
derramamentos somaram 5,8 milhões de litros; em 2001, foram da
ordem de 2,6 milhões de litros;
em 2002, o volume foi de 197 mil
litros; e, até julho, de 176 mil litros.
Resultado, em grande parte, do
maior controle sobre os dutos,
por meio da automação de 7.000
km de tubulações (para detecção
imediata de problemas) e do investimento em equipamentos.
Embora a Petrobras diga não ter
uma análise das causas dos acidentes do início da década, o Sindicato dos Petroleiros sustenta
que o período coincidiu com o
vencimento da "validade" dos dutos, que já deveriam, então, ter
passado por manutenções.
Foram ainda instalados pelo
país nove Centros de Defesa Ambiental, que auxiliam no combate
a derramamentos. Cada um tem
cerca de 20 funcionários e apetrechos como lanchas, balsas e barreiras de absorção.
Os ganhos são comemorados,
mas a questão que nem mesmo a
Petrobras conseguiu responder é
se o investimento limpou a sua
imagem. "Talvez precisemos divulgar mais as melhorias porque a
mídia dá muita importância a
questões como um vazamento
pequeno, de 20 litros", diz Nunes.
Para Isaura Fraga, presidente da
Feema (Fundação Estadual de
Engenharia do Meio Ambiente,
do Rio), a recuperação é uma
questão de tempo e de a empresa
se manter no caminho certo.
"A Petrobras sempre foi o coração do carioca. Com o vazamento, as pessoas se sentiram agredidas por um processo produtivo
do qual se orgulhavam. A empresa perdeu o afeto da população."
Já os ambientalistas, embora reconheçam melhorias, ainda são
críticos. "Dois anos depois do acidente no rio Iguaçu, a Petrobras
fez uma propaganda dizendo que
ele já estava totalmente recuperado. É tecnicamente impossível solucionar tudo em dois anos, e nenhum relatório sobre a qualidade
da fauna e da flora do rio foi divulgado", diz Clóvis Borges, presidente da Sociedade de Proteção à
Vida Selvagem, ONG do Paraná.
O Greenpeace, por sua vez, faz
um "convite" para o futuro. "Sabe
o que faria todo brasileiro ter orgulho da Petrobras? Se ela fizesse
investimentos sérios na pesquisa
e na viabilização de fontes de
energia alternativas ao petróleo e
ao gás. É a verdadeira prevenção
porque, por mais que invista em
controle, o setor petrolífero sempre será poluidor", diz Jonh Butcher, coordenador da ONG.
A Petrobras diz que pretende
gastar, por ano, US$ 26 milhões
(ou 1,5% do faturamento líquido
do primeiro semestre) em projetos de fontes renováveis.
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