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ENTREVISTA
Presidente da empresa votou contra a quebra do monopólio, mas admite que mudança foi benéfica
Dutra descarta "trem da alegria" e defende sindicalistas na Petrobras
Lalo de Almeida/Folha Imagem
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Funcionário da Petrobras faz manutenção em dutos na encosta da serra do Mar, em Cubatão (SP) |
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
"A Petrobras está bem melhor do que o
Brasil." Essa é a opinião do presidente da
companhia, José Eduardo Dutra, 46. Como senador do PT em 1995, Dutra votou contra a quebra do monopólio da companhia. Em entrevista à Folha, afirmou não se arrepender da decisão, mas admite que a mudança fez bem à Petrobras.
Folha - Qual foi o resultado da
quebra do monopólio?
José Eduardo Dutra - Foi positivo. A Petrobras preparou-se para
a competição. Modernizou sua
estrutura organizacional e as práticas de gestão, passou a ter índices maiores de lucratividade.
Folha - O senhor votou contra o
fim do monopólio. Arrepende-se?
Dutra - Não me arrependo. Foi
bom para a Petrobras, mas não tenho segurança para dizer se foi
bom para o país. Ainda não há o
necessário distanciamento histórico para uma avaliação.
Folha - O que o PT mudou na gestão da empresa?
Dutra - Quando assumi, havia
expectativa de mudança no modelo de gestão. Mas a Petrobras
está bem melhor do que o Brasil e
tem necessidades menores de
mudança. Apenas intensificamos
o pilar da responsabilidade social.
Folha - Quantas pessoas o senhor
indicou para ocupar cargos?
Dutra - Indiquei sete pessoas para trabalhar ligadas ao gabinete da
presidência. Sou presidente da
maior empresa do Brasil e tenho
menos assessores do que tinha
como senador de oposição. Disseram que fiz um "trem da alegria",
mas isso é facilmente desmentido.
Folha - O senhor também foi criticado por colocar sindicalistas e
pessoal do PT em cargos técnicos.
Dutra - O chefe de gabinete, Diego Hernandez, o assessor da presidência Armando Tripodi e o gerente de comunicação, Wilson
Santa Rosa, são ex-sindicalistas.
As nomeações dos gerentes da
Bahia e do Rio Grande do Norte
também foram questionadas,
mas eles não foram dirigentes sindicais, e sim da Aepet [Associação
dos Engenheiros da Petrobras].
Não acho degradante ser sindicalista. O presidente Lula, vários ministros e eu fomos dirigentes sindicais [Dutra foi presidente do
Sindicato dos Mineiros de Sergipe, de 1989 a 94].
Folha - Os senhor encontrou irregularidades de gestão?
Dutra - Não cheguei com o propósito de transformar a empresa
em delegacia de polícia. Vou administrá-la olhando para a frente,
e não pelo retrovisor.
Folha - O presidente Lula exigiu
um índice de nacionalização na
aquisição de plataformas. Um dos
efeitos, pelo que se viu, foi o encarecimento das propostas. Não foi
uma decisão equivocada?
Dutra - O encarecimento das
propostas não se deu pela exigência de conteúdo nacional, mas por
uma mudança tributária, no Rio,
que impôs um custo adicional de
ICMS [Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços]. A
exigência não tem caráter meramente ideológico ou nacionalista.
É bom para a Petrobras que existam mais empresas aptas a participar das licitações. A fiscalização
também fica mais fácil se a produção for no Brasil.
Folha - Por que o crescimento da
Petrobras não reverte em preços
menores para a gasolina?
Dutra - O lucro de R$ 9 bilhões
no primeiro semestre foi alcançado sem aumento dos preços do
diesel, da gasolina e do gás de cozinha. Pelo contrário, reduzimos
o preço da gasolina em 10% em
abril. A companhia recebe R$ 0,53
pelo litro de gasolina, que é vendido à média de R$ 2 nos postos. O
preço está alto porque o preço do
petróleo está alto.
Folha - Por que o país não consegue aproveitar industrialmente reservas de gás que descobre?
Dutra - Com a descoberta na bacia de Santos [de 70 bilhões de
metros cúbicos], vamos rediscutir
a estratégia da companhia, para
incluir um plano de massificação
do uso de gás natural.
Folha - O acordo para a compra de
gás da Bolívia será renegociado?
Dutra - O acordo com a Bolívia
foi feito com base em uma expectativa de consumo de combustível
pelas termelétricas que não se
confirmou. Ha uma cláusula que
permite a revisão das condições
pactuadas a cada cinco anos, em
razão de desequilíbrio econômico
financeiro do contrato, o que é o
nosso caso. Queremos modificar
os volumes e os preços contratados. Temos a obrigação de pagar
por 24 milhões de m3 de gás, mas
consumimos apenas 12 milhões.
A renegociação é fundamental
para que possa aumentar o consumo no Brasil e, consequentemente, para que a Petrobras possa
comprar mais da Bolívia.
Folha - O governo privatizou o setor petroquímico, entre 1992 e 96.
Por que a Petrobras quer voltar a
investir nele?
Dutra - Ela saiu por decisão de
governo, não por interesse empresarial. A petroquímica é a extensão do petróleo e todas as
grande companhias petrolíferas
atuam nesse segmento. Não propomos a reestatização do setor,
nem queremos ter monopólio.
Queremos atuar em parceria, focados nas áreas que tenham
maior sinergia com o nosso negócio: poliolefinas: resinas, polietileno e polipropileno.
Faremos um saneamento do
nosso portfólio, porque a Petrobras tem participação acionária
em uma série de indústrias, mas
sem participação na gestão. Vamos nos afastar de algumas e aumentar a participação em outras.
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