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SÃO PAULO
Mapa eleitoral evidencia que polarização tem raízes geográficas
Votação de petista encolhe em relação à dela mesma em 2000
Marta só vence Serra nos extremos da cidade
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os quase oito pontos percentuais que separaram José Serra
(PSDB) de Marta Suplicy (PT) ao
final das eleições de domingo sintetizam o que deseja o eleitorado
paulistano, mas escondem uma
cidade geograficamente dividida.
Uma análise do mapa de votação da capital mostra que as eleições municipais aprofundaram a
distância entre o centro e a periferia, polarizando a disputa.
Há áreas nas bordas da capital
em que mais de 60% dos eleitores
escolheram Marta Suplicy (PT). O
movimento é inverso ao que
aconteceu nas regiões mais urbanizadas em relação a José Serra
(PSDB). E não houve nenhuma
única região em que o vencedor
tenha sido um terceiro candidato.
A petista venceu em 14 das 41
zona eleitorais consideradas pela
Folha. Todas elas são em pontos
extremos da cidade.
O dado já é suficiente para evidenciar a concentração de votos,
mas esses redutos tiveram uma
segunda identidade nas eleições.
É exatamente entre essas 14 zonas eleitorais em que Marta venceu que estão as únicas dez áreas
nas quais o eleitorado proporcional da petista cresceu em comparação ao desempenho que ela teve
em 2000. Ou seja: a maioria dos
moradores das franjas da cidade
vota em Marta -e essa maioria
cresceu nos últimos quatro anos.
Nas 31 zonas mais centrais, no
entanto, os índices de votação da
petista caíram nesse período
-em nove deles, inclusive, abaixo dos percentuais de votos válidos obtidos por José Genoino em
2002, quando o ex-deputado foi
candidato a governador.
No geral da cidade, Marta teve
35,82% dos votos válidos neste
ano. Em 2000, chegou a 38,13%.
Para o cientista político Carlos
Ranulfo, na Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), o cenário é "compatível com a trajetória
do PT". "A [Luiza] Erundina fez
uma administração muito direcionada para a periferia [93-96], e,
agora, o investimento de Marta
também está se voltando para lá."
O vôo do tucano
José Serra venceu Marta Suplicy
em 27 das 41 zonas eleitorais.
Apesar de mais numerosas, as
áreas são menos populosas, por
isso limitaram a distância final entre os dois candidatos aos já citados oito pontos percentuais.
Do ponto de vista de expansão,
os resultados são animadores para os tucanos. A comparação dos
percentuais de votos válidos obtidos pela legenda em 2000 e em
2004 mostra que o eleitorado do
PSDB cresceu em todas as áreas.
Em 2000, o candidato à Prefeitura de São Paulo era o hoje governador Geraldo Alckmin,
apontado pelas pesquisas como o
principal cabo eleitoral na cidade.
Mas o contraste entre a votação
de Serra e o desempenho do próprio Alckmin na capital quando
foi eleito para o governo coroam a
boa fase tucana: Serra teve proporcionalmente mais votos válidos do que Alckmin em 36 das 41
zonas de votação da cidade.
"Serra ganhou o eleitor do [Paulo] Maluf. Não o malufista, mas o
que tem características parecidas
de renda e escolaridade, sem ser
ideológico", avalia a cientista política Argelina Figueiredo, pesquisadora do Cebrap.
Comendo para as bordas
A julgar pelos mapas de votação, os analistas podem ter razão.
Mas o destino dos tradicionais
eleitores de Paulo Maluf ainda dá
margem a interpretações.
Por um lado, Maluf teve neste
ano os piores índices de votação
-abaixo dos 11,91% obtidos no
total da cidade- exatamente nas
zonas em que Marta venceu, o
que pode significar que os eleitores malufistas da extrema periferia já migraram para a petista no
primeiro turno da eleição.
Por outro, José Serra impôs as
maiores distância à adversária no
corredor mais rico da cidade e no
chamado centro-leste -tradicional reduto malufista no qual o pepebista teve também neste ano índices de votação superiores a sua
média na cidade. A questão agora
é saber para onde vão migrar esses votos no segundo turno.
"Hoje, Marta tem uma base eleitoral forte e numerosa na periferia, mas Serra cresceu na área central e engoliu também o eleitorado do Maluf. Isso explica a vitória
dele", avalia Argelina.
Colaborou RAFAEL CARRIELO, da Reportagem Local
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