São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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SÃO PAULO

Mapa eleitoral evidencia que polarização tem raízes geográficas

Votação de petista encolhe em relação à dela mesma em 2000

Marta só vence Serra nos extremos da cidade

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os quase oito pontos percentuais que separaram José Serra (PSDB) de Marta Suplicy (PT) ao final das eleições de domingo sintetizam o que deseja o eleitorado paulistano, mas escondem uma cidade geograficamente dividida.
Uma análise do mapa de votação da capital mostra que as eleições municipais aprofundaram a distância entre o centro e a periferia, polarizando a disputa.
Há áreas nas bordas da capital em que mais de 60% dos eleitores escolheram Marta Suplicy (PT). O movimento é inverso ao que aconteceu nas regiões mais urbanizadas em relação a José Serra (PSDB). E não houve nenhuma única região em que o vencedor tenha sido um terceiro candidato.
A petista venceu em 14 das 41 zona eleitorais consideradas pela Folha. Todas elas são em pontos extremos da cidade.
O dado já é suficiente para evidenciar a concentração de votos, mas esses redutos tiveram uma segunda identidade nas eleições.
É exatamente entre essas 14 zonas eleitorais em que Marta venceu que estão as únicas dez áreas nas quais o eleitorado proporcional da petista cresceu em comparação ao desempenho que ela teve em 2000. Ou seja: a maioria dos moradores das franjas da cidade vota em Marta -e essa maioria cresceu nos últimos quatro anos.
Nas 31 zonas mais centrais, no entanto, os índices de votação da petista caíram nesse período -em nove deles, inclusive, abaixo dos percentuais de votos válidos obtidos por José Genoino em 2002, quando o ex-deputado foi candidato a governador.
No geral da cidade, Marta teve 35,82% dos votos válidos neste ano. Em 2000, chegou a 38,13%.
Para o cientista político Carlos Ranulfo, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o cenário é "compatível com a trajetória do PT". "A [Luiza] Erundina fez uma administração muito direcionada para a periferia [93-96], e, agora, o investimento de Marta também está se voltando para lá."

O vôo do tucano
José Serra venceu Marta Suplicy em 27 das 41 zonas eleitorais. Apesar de mais numerosas, as áreas são menos populosas, por isso limitaram a distância final entre os dois candidatos aos já citados oito pontos percentuais.
Do ponto de vista de expansão, os resultados são animadores para os tucanos. A comparação dos percentuais de votos válidos obtidos pela legenda em 2000 e em 2004 mostra que o eleitorado do PSDB cresceu em todas as áreas.
Em 2000, o candidato à Prefeitura de São Paulo era o hoje governador Geraldo Alckmin, apontado pelas pesquisas como o principal cabo eleitoral na cidade.
Mas o contraste entre a votação de Serra e o desempenho do próprio Alckmin na capital quando foi eleito para o governo coroam a boa fase tucana: Serra teve proporcionalmente mais votos válidos do que Alckmin em 36 das 41 zonas de votação da cidade.
"Serra ganhou o eleitor do [Paulo] Maluf. Não o malufista, mas o que tem características parecidas de renda e escolaridade, sem ser ideológico", avalia a cientista política Argelina Figueiredo, pesquisadora do Cebrap.

Comendo para as bordas
A julgar pelos mapas de votação, os analistas podem ter razão. Mas o destino dos tradicionais eleitores de Paulo Maluf ainda dá margem a interpretações.
Por um lado, Maluf teve neste ano os piores índices de votação -abaixo dos 11,91% obtidos no total da cidade- exatamente nas zonas em que Marta venceu, o que pode significar que os eleitores malufistas da extrema periferia já migraram para a petista no primeiro turno da eleição.
Por outro, José Serra impôs as maiores distância à adversária no corredor mais rico da cidade e no chamado centro-leste -tradicional reduto malufista no qual o pepebista teve também neste ano índices de votação superiores a sua média na cidade. A questão agora é saber para onde vão migrar esses votos no segundo turno.
"Hoje, Marta tem uma base eleitoral forte e numerosa na periferia, mas Serra cresceu na área central e engoliu também o eleitorado do Maluf. Isso explica a vitória dele", avalia Argelina.


Colaborou RAFAEL CARRIELO, da Reportagem Local


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