São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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BELO HORIZONTE


Petista fala que partido deve enxergar que país é maior que SP

Oposição que prefeito eleito faz é semelhante à de Aécio no PSDB



Pimentel quer usar vitória para descentralizar PT

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O economista Fernando Pimentel (PT), 53, reeleito prefeito de Belo Horizonte na maior votação em primeiro turno da capital mineira, com 68,49% dos votos, considera que o resultado o qualifica para combater a centralização política do PT em São Paulo. É uma oposição semelhante à do governador tucano Aécio Neves (MG) em relação ao PSDB.
"É preciso que o Brasil comece a se enxergar maior do que São Paulo, a se enxergar na sua totalidade",disse ele ontem à Agência Folha. Ele afirmou ainda que pretende "ocupar o espaço político necessário e trazer, com isso, benefícios para a cidade. A seguir, os principais trechos da entrevista.
 

Agência Folha - O sr. disse que o resultado inédito em Belo Horizonte o credencia como ator no contexto político nacional e que vai fazer valer isso. Como?
Fernando Pimentel-
Em relação ao governo federal, sei que um resultado desse melhora a condição de acesso aos ministérios e ao próprio presidente em benefício da cidade. Quero trabalhar nessa direção, não para tirar proveito pessoal. Ocupar o espaço político necessário e trazer, com isso, benefícios para a cidade, na forma de verba, de uma atenção mais qualificada do governo federal. A política é assim, tem eleição também para isso, é uma espécie de termômetro para medir o seu cacife.

Agência Folha - Tal como o governador Aécio Neves, que crítica o PSDB, o partido dele, o sr. critica o PT por causa da centralização excessiva do poder em São Paulo. Isso mostra que existe uma questão política que os une também.
Pimentel-
O que estamos observando, e o próprio presidente Lula sabe disso, é que o equilíbrio federativo é muito importante. O Brasil é um país muito grande, muito diversificado, com culturas regionais muito fortes. Um país assim não pode estar centralizado em um único lugar. Não é porque é São Paulo, se fosse aqui em Minas ou no Rio Grande do Sul, também estaria errado.
É preciso ter um equilíbrio maior das forças políticas, econômicas, culturais. Sei que isso não se consegue apenas pela vontade das pessoas. Não basta o presidente Lula querer para mudar isso, porque a realidade é que o PIB (Produto Interno Bruto) está concentrado em São Paulo.
Mas, ao dizer isso, estamos dizendo que é preciso que o Brasil comece a se enxergar maior do que São Paulo, a se enxergar na sua totalidade. Um país do tamanho do Brasil precisa ter mais centros de decisão do que apenas em um único lugar, um único Estado, por mais competente que seja aquele Estado.

Agência Folha -A forma como o PT e o governo federal entraram na disputa eleitoral em São Paulo, que o próprio governador Aécio Neves classificou como "exagerado", não é uma forma de fortalecer o contestado poder político paulista?
Pimentel-
Vamos qualificar isso: às vezes, a imprensa é rigorosamente crítica, severa em relação ao meu partido. Eu não vi essa severidade toda em outras ocasiões quando o PSDB no poder fazia as mesmas coisas que o PT faz, e eu não acho que estão ferindo a ética, não. Deslocava seus quadros para cobrir politicamente situações de disputa eleitoral, como nós fizemos agora. Não estamos infringindo a legislação.
O envolvimento maior do PT se justifica. Não é por ser São Paulo, mas porque essa disputa tem muita repercussão nacional e os quadros que estão disputando lá são figuras de projeção nacional. Não é isso que vai desequilibrar mais o quadro federativo.

Agência Folha -O que seria, então?
Pimentel-
A questão é mais de longo prazo. Precisamos ter dentro dos partidos políticos, dentro dos fóruns políticos brasileiros, uma postura mais descentralizada, mais federativa. Vale para o meu partido e vale para o PSDB.


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