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OS NANICOS
Dos oito pequenos, índice inédito desde 1982, a maioria procura utilizar o reduzido espaço na mídia para fortalecer seus nomes; muitos foram indicados diasantes do prazo legal para a inscrição
Disputa paulista registra recorde de microcandidatos
LEONARDO CRUZ
RENATO FRANZINI
DA REDAÇÃO
São Paulo terá neste ano o maior
número de candidatos de partidos pequenos na disputa pelo governo estadual desde 1982, quando as eleições diretas ao cargo foram retomadas. Dos 14 candidatos ao Palácio dos Bandeirantes, 8
são nanicos, 3 a mais do que em
1998, o dobro em relação a 1994 e
5 a mais do que em 1990.
Com pouco tempo na TV e estrutura inferior aos políticos de
grandes partidos, a maioria dos
microcandidatos entra na disputa
sem ter a vitória na eleição como
objetivo principal.
Conscientes de suas limitações,
os nanicos vêem as eleições como
forma de aparecer na mídia, levantar bandeiras e fortalecer seus
nomes e suas legendas para disputas futuras, no Legislativo.
Exemplos desse princípio são os
dois nomes que representam a esquerda entre os pequenos. Anaí
Caproni, do Partido da Causa
Operária, e Dirceu Travesso, do
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, pretendem usar
seus 57 segundos diários na TV
para mostrar que as legendas tradicionais, incluindo o PT, não representam mais os trabalhadores.
"Não dá para construir um partido popular, de massas, sem ir à
mídia, para se credenciar junto à
população", afirma Anaí, 35, do
PCO, legenda de tendência trotskista, formada por ex-petistas.
A construção de um governo
"sem patrões" está no centro das
propostas do PCO. Segundo a
candidata, sua primeira providência no Bandeirantes seria
compor uma equipe de governo
só com representantes de sindicatos e movimentos populares.
"Jamais colocaríamos um banqueiro como João Sayad no governo", diz Anaí, em referência ao
secretário das Finanças da gestão
Marta Suplicy na prefeitura paulistana. Uma das prioridades do
governo do PCO seria extinguir a
PM. "É um corpo repressivo, que
assassina em massa a população.
É o crime organizado", diz Anaí,
que propõe que a comunidade
forme seus grupos de segurança.
Travesso, do PSTU, diz que até
tentou compor com os petistas
nas eleições deste ano, enviando
uma carta à direção do PT propondo uma "frente classista" em
torno de um programa de esquerda, "não necessariamente o nosso". "Eles nunca responderam",
diz o bancário, que foi candidato
pelo PT a vereador de São Paulo
em 1992 -o PSTU, criado em
1994, é outra dissidência do PT.
Para ele, o PSTU é o partido que
defende hoje as teses originais do
PT, de ruptura com o FMI e de
suspensão do pagamento da dívida. "O [José" Genoino tem apoio
até de usineiros hoje", diz, em referência ao candidato petista.
Sobre as chances de vencer, é
explícito: "Não acreditamos que
sejamos eleitos. Achamos as eleições burguesas uma espécie de
farsa". Diz que quer usar o espaço
para "debater" e "criticar o PT".
De surpresa
Em alguns casos, os microcandidatos nem sequer articularam
suas candidaturas. Foram informados pela direção dos partidos e
aceitaram a empreitada.
"Soube há três meses e fiquei
surpreso, claro. Mas acho que você tem de dar a cara a bater", diz
Robson Malek, do Prona, que foi
convidado à disputa pelo presidente do partido, Enéas Carneiro.
Com um minuto na TV, Malek
admite ter poucas chances de vitória. "Se o dr. Enéas tivesse 3 minutos, iria ao segundo turno [da
disputa presidencial]", afirma.
Enéas foi candidato a presidente
em 1989, 1994 e 1998. Neste ano,
tenta se eleger deputado federal.
No Partido Social Liberal, o aviso da disputa foi mais curto ainda.
"No dia 28 [de junho], à tarde, sugeriram meu nome. Fui pego de
surpresa um dia antes da convenção", diz o candidato do partido,
Roberto Siqueira, vereador em
Guarulhos. "Decidimos isso para
ter direito a TV. Vai fortalecer o
partido no Estado."
Questionado sobre suas propostas, disse: "Não sentamos para
definir o plano de governo. Até
sexta, tenho algo a apresentar".
O Partido Verde é o novato na
estratégia de buscar tempo de TV
nas eleições em São Paulo. Frequente aliado do PSDB, neste ano
o PV lançou o advogado ambientalista Antonio Fernando Pinheiro Pedro ao governo.
"Antes, queríamos ver nossas
propostas colocadas em prática,
independentemente da coloração
partidária. Agora, estamos aptos a
exercer funções públicas", diz Pinheiro Pedro.
A eleição deste ano terá novamente Levy Fidelix, 50, do Partido
Renovador Trabalhista Brasileiro,
que reergue sua bandeira do aerotrem. Montar no Estado uma rede
de viadutos que dêem suporte a
trens movidos por eletromagnetismo é o que Fidelix propõe desde 1996, quando disputou a Prefeitura de São Paulo.
"Pode parecer uma idéia megalomaníaca, mas que, com o tempo, ganha adeptos", declara Fidelix, que também defende a canalização subterrânea dos rios Tietê e
Pinheiros, que seriam cobertos
por pistas expressas com pedágio.
Fidelix engrossa o coro dos que
se candidatam para fortalecer a sigla. "Tenho um projeto político-partidário. Com trabalho, conseguiremos eleger 10 deputados federais." O microcandidato aposta
suas fichas em Fernando Collor,
seu mais famoso filiado, que disputa o governo de Alagoas.
O discurso de Fidelix é semelhante ao de Ciro Moura, 56, candidato do Partido Trabalhista
Cristão, antigo PRN. Penúltimo
colocado na corrida para a prefeitura em 2000, Moura diz que o
mais importante "é amassar barro, trabalhar para eleger deputados" de sua coligação, que inclui
os nanicos PSC, PRP e PT do B.
Em 2000, Moura ficou conhecido por centrar críticas à ex-prefeita Luiza Erundina (PSB), que tentava voltar ao Palácio das Indústrias. Agora, Ciro promete investir na proposta de geração de empregos. Em sua visão, para ter
mais postos, São Paulo "deve gastar até o que o Estado não tem".
Questionado se fará um programa de governo detalhado, Moura
é incisivo: "Posso até mandar fazer livrinho bonito, que depois a
gente usa para fazer fogueira".
Caminho inverso
No sentido contrário de candidatos que querem mais se cacifar
para conquistar no futuro uma
vaga de deputado está Carlos
Apolinário, 50.
Após três mandatos seguidos na
Assembléia Legislativa de São
Paulo e um na Câmara, em Brasília, ele deixou o PMDB e se filiou
ao pequeno Partido Geral dos
Trabalhadores, pelo qual cumpre
mandato de vereador na cidade
de São Paulo.
Agora candidato ao governo, o
evangélico Apolinário diz que o
Executivo sempre foi seu sonho.
A segurança será sua prioridade.
"São Paulo não tem cadeia para
todos os presos. Vamos mexer no
Orçamento para abrir vagas."
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