São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

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OS NANICOS

Dos oito pequenos, índice inédito desde 1982, a maioria procura utilizar o reduzido espaço na mídia para fortalecer seus nomes; muitos foram indicados diasantes do prazo legal para a inscrição

Disputa paulista registra recorde de microcandidatos

LEONARDO CRUZ
RENATO FRANZINI
DA REDAÇÃO

São Paulo terá neste ano o maior número de candidatos de partidos pequenos na disputa pelo governo estadual desde 1982, quando as eleições diretas ao cargo foram retomadas. Dos 14 candidatos ao Palácio dos Bandeirantes, 8 são nanicos, 3 a mais do que em 1998, o dobro em relação a 1994 e 5 a mais do que em 1990.
Com pouco tempo na TV e estrutura inferior aos políticos de grandes partidos, a maioria dos microcandidatos entra na disputa sem ter a vitória na eleição como objetivo principal.
Conscientes de suas limitações, os nanicos vêem as eleições como forma de aparecer na mídia, levantar bandeiras e fortalecer seus nomes e suas legendas para disputas futuras, no Legislativo.
Exemplos desse princípio são os dois nomes que representam a esquerda entre os pequenos. Anaí Caproni, do Partido da Causa Operária, e Dirceu Travesso, do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, pretendem usar seus 57 segundos diários na TV para mostrar que as legendas tradicionais, incluindo o PT, não representam mais os trabalhadores.
"Não dá para construir um partido popular, de massas, sem ir à mídia, para se credenciar junto à população", afirma Anaí, 35, do PCO, legenda de tendência trotskista, formada por ex-petistas.
A construção de um governo "sem patrões" está no centro das propostas do PCO. Segundo a candidata, sua primeira providência no Bandeirantes seria compor uma equipe de governo só com representantes de sindicatos e movimentos populares.
"Jamais colocaríamos um banqueiro como João Sayad no governo", diz Anaí, em referência ao secretário das Finanças da gestão Marta Suplicy na prefeitura paulistana. Uma das prioridades do governo do PCO seria extinguir a PM. "É um corpo repressivo, que assassina em massa a população. É o crime organizado", diz Anaí, que propõe que a comunidade forme seus grupos de segurança.
Travesso, do PSTU, diz que até tentou compor com os petistas nas eleições deste ano, enviando uma carta à direção do PT propondo uma "frente classista" em torno de um programa de esquerda, "não necessariamente o nosso". "Eles nunca responderam", diz o bancário, que foi candidato pelo PT a vereador de São Paulo em 1992 -o PSTU, criado em 1994, é outra dissidência do PT.
Para ele, o PSTU é o partido que defende hoje as teses originais do PT, de ruptura com o FMI e de suspensão do pagamento da dívida. "O [José" Genoino tem apoio até de usineiros hoje", diz, em referência ao candidato petista.
Sobre as chances de vencer, é explícito: "Não acreditamos que sejamos eleitos. Achamos as eleições burguesas uma espécie de farsa". Diz que quer usar o espaço para "debater" e "criticar o PT".

De surpresa
Em alguns casos, os microcandidatos nem sequer articularam suas candidaturas. Foram informados pela direção dos partidos e aceitaram a empreitada.
"Soube há três meses e fiquei surpreso, claro. Mas acho que você tem de dar a cara a bater", diz Robson Malek, do Prona, que foi convidado à disputa pelo presidente do partido, Enéas Carneiro.
Com um minuto na TV, Malek admite ter poucas chances de vitória. "Se o dr. Enéas tivesse 3 minutos, iria ao segundo turno [da disputa presidencial]", afirma.
Enéas foi candidato a presidente em 1989, 1994 e 1998. Neste ano, tenta se eleger deputado federal.
No Partido Social Liberal, o aviso da disputa foi mais curto ainda. "No dia 28 [de junho], à tarde, sugeriram meu nome. Fui pego de surpresa um dia antes da convenção", diz o candidato do partido, Roberto Siqueira, vereador em Guarulhos. "Decidimos isso para ter direito a TV. Vai fortalecer o partido no Estado."
Questionado sobre suas propostas, disse: "Não sentamos para definir o plano de governo. Até sexta, tenho algo a apresentar".
O Partido Verde é o novato na estratégia de buscar tempo de TV nas eleições em São Paulo. Frequente aliado do PSDB, neste ano o PV lançou o advogado ambientalista Antonio Fernando Pinheiro Pedro ao governo.
"Antes, queríamos ver nossas propostas colocadas em prática, independentemente da coloração partidária. Agora, estamos aptos a exercer funções públicas", diz Pinheiro Pedro.
A eleição deste ano terá novamente Levy Fidelix, 50, do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro, que reergue sua bandeira do aerotrem. Montar no Estado uma rede de viadutos que dêem suporte a trens movidos por eletromagnetismo é o que Fidelix propõe desde 1996, quando disputou a Prefeitura de São Paulo.
"Pode parecer uma idéia megalomaníaca, mas que, com o tempo, ganha adeptos", declara Fidelix, que também defende a canalização subterrânea dos rios Tietê e Pinheiros, que seriam cobertos por pistas expressas com pedágio.
Fidelix engrossa o coro dos que se candidatam para fortalecer a sigla. "Tenho um projeto político-partidário. Com trabalho, conseguiremos eleger 10 deputados federais." O microcandidato aposta suas fichas em Fernando Collor, seu mais famoso filiado, que disputa o governo de Alagoas.
O discurso de Fidelix é semelhante ao de Ciro Moura, 56, candidato do Partido Trabalhista Cristão, antigo PRN. Penúltimo colocado na corrida para a prefeitura em 2000, Moura diz que o mais importante "é amassar barro, trabalhar para eleger deputados" de sua coligação, que inclui os nanicos PSC, PRP e PT do B.
Em 2000, Moura ficou conhecido por centrar críticas à ex-prefeita Luiza Erundina (PSB), que tentava voltar ao Palácio das Indústrias. Agora, Ciro promete investir na proposta de geração de empregos. Em sua visão, para ter mais postos, São Paulo "deve gastar até o que o Estado não tem".
Questionado se fará um programa de governo detalhado, Moura é incisivo: "Posso até mandar fazer livrinho bonito, que depois a gente usa para fazer fogueira".

Caminho inverso
No sentido contrário de candidatos que querem mais se cacifar para conquistar no futuro uma vaga de deputado está Carlos Apolinário, 50.
Após três mandatos seguidos na Assembléia Legislativa de São Paulo e um na Câmara, em Brasília, ele deixou o PMDB e se filiou ao pequeno Partido Geral dos Trabalhadores, pelo qual cumpre mandato de vereador na cidade de São Paulo.
Agora candidato ao governo, o evangélico Apolinário diz que o Executivo sempre foi seu sonho. A segurança será sua prioridade. "São Paulo não tem cadeia para todos os presos. Vamos mexer no Orçamento para abrir vagas."


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