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Suspeito de crime é amigo da família
"Cadu" Sundfeld Nunes frequentava a igreja Céu de Maria, fundada pelo cartunista; pai e filho levaram 4 tiros cada um
Testemunhas dizem que acusado, ainda foragido, estava transtornado e queria ser levado à mãe e apresentado como Jesus
DA REPORTAGEM LOCAL
O cartunista e líder religioso
Glauco Vilas Boas, 53, e o filho
dele, Raoni, 25, foram assassinados a tiros por volta da 0h de
ontem, em frente à casa em que
moravam na cidade de Osasco
(Grande São Paulo). O principal suspeito do crime é um antigo conhecido da família, que
foi identificado pela polícia como sendo Carlos Eduardo
Sundfeld Nunes, 24.
Glauco vivia em uma das dez
casas construídas em torno da
sede da igreja Céu de Maria. O
lugar fica em uma faixa de mata
atlântica pendurada no maciço
que forma o pico do Jaraguá.
Fundada em meados dos
1990 pelo cartunista, a Céu de
Maria se baseia em princípios
religiosos do Santo Daime. No
local, realizam-se rituais em
que os fiéis consomem a bebida
alucinógena feita da folha de
planta chacrona e do cipó de
mariri, originários da Amazônia. O estudante suspeito do
crime frequentou vários cultos.
Segundo membros da comunidade daimista, Sundfeld parou de ir à igreja no meio do ano
passado. No dia 25 de janeiro,
foi a uma festa na casa do cartunista. Foi sua última aparição,
antes dos duplo assassinato.
Moradores da comunidade
afirmaram que o rapaz era dependente químico (cocaína).
Vinha tentando de livrar da
droga por intermédio dos rituais daimistas. "Ele era amigo
da família, mas parecia que tinha problemas mentais; não falava coisa com coisa", disse o
zelador da igreja e devoto,
Glauber Salmazo.
Segundo a polícia, Sundfeld
Nunes chegou a ser preso há
dois anos por porte de droga.
Na quarta-feira passada,
Glauco promoveu uma festa
para comemorar aniversário de
53 anos. Na ocasião, 200 pessoas estiveram na chácara.
Sundfeld Nunes não foi.
Quatro testemunhas relataram à polícia que o acusado
apareceu na entrada da propriedade por volta de 0h de ontem, quando os moradores já se
tinham recolhido para dormir.
Portava uma pistola 765 e uma
faca. "Ele estava transtornado",
disse Orlando Cardoso de Almeida, primo do cartunista,
que mora na comunidade.
Na estrada de terra que passa
na porta da chácara, ele teria
rendido uma enteada de Glauco. Obrigou-a a levá-lo à casa do
cartunista.
Sundfeld Nunes, que todos
no lugar conhecem por "Cadu",
bateu na mulher do artista, na
nora dele e, por fim, desferiu
coronhadas no rosto do próprio
Glauco. Gritava. Queria encontrar a mãe. Dizendo-se Jesus
Cristo, exigia que Glauco confirmasse à mãe essa identidade.
Glauco concordou em levar o
rapaz até a mãe, e fazer o que
ele pedia. Preparava-se para
sair, quando Raoni, um dos
seus filhos, chegou à comunidade. Voltava da universidade
onde estudava. O jovem assustou-se ao ver o pai sangrando
pelo nariz, resultado da coronhada.
Segundo as testemunhas,
Sundfeld Nunes apontou a arma para a própria cabeça. Disse
que se mataria. De repente, disparou dez vezes contra Glauco
e Raoni. Cada um recebeu quatro tiros. Glauco, no rosto, peito e abdômen. Raoni, no peito e
no abdômen.
A mulher de Glauco, a enteada dele, a mulher de Raoni e
uma quarta pessoa que estava
na casa levaram pai e filho ao
hospital Albert Sabin, na Lapa
(zona oeste de SP). Mas eles já
chegaram mortos.
O suspeito teria fugido em
um Gol cinza. Segundo os familiares das vítimas, no veículo
havia mais uma ou duas pessoas que até a noite de ontem
não haviam sido identificadas.
Na manhã de ontem, o advogado de Glauco, Ricardo Handro, chegou a dizer que o crime
resultara de uma tentativa de
assalto. A hipótese foi descartada, por infundada.
A polícia disse ontem ter pedido para a família interceder
para que o rapaz se entregue.
Os familiares, no entanto, afirmam desconhecer o paradeiro
dele. Até a conclusão desta edição, Sundfeld Nunes ainda não
tinha advogado constituído e a
polícia estudava pedir sua prisão temporária.
Ontem, a igreja central do
Santo Daime no país, sediada
na comunidade de Céu do Mapiá, no sul do Amazonas, realizou cerimônia em homenagem
a Glauco. À noite, cerca de 200
integrantes cantaram os cânticos compostos pelo cartunista,
que visitou a comunidade pela
última vez em janeiro.
FOLHA ONLINE
Leia especial sobre Glauco
www.folha.com.br/100712
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