São Paulo, sábado, 13 de março de 2010

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Suspeito de crime é amigo da família

"Cadu" Sundfeld Nunes frequentava a igreja Céu de Maria, fundada pelo cartunista; pai e filho levaram 4 tiros cada um

Testemunhas dizem que acusado, ainda foragido, estava transtornado e queria ser levado à mãe e apresentado como Jesus

DA REPORTAGEM LOCAL

O cartunista e líder religioso Glauco Vilas Boas, 53, e o filho dele, Raoni, 25, foram assassinados a tiros por volta da 0h de ontem, em frente à casa em que moravam na cidade de Osasco (Grande São Paulo). O principal suspeito do crime é um antigo conhecido da família, que foi identificado pela polícia como sendo Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24.
Glauco vivia em uma das dez casas construídas em torno da sede da igreja Céu de Maria. O lugar fica em uma faixa de mata atlântica pendurada no maciço que forma o pico do Jaraguá.
Fundada em meados dos 1990 pelo cartunista, a Céu de Maria se baseia em princípios religiosos do Santo Daime. No local, realizam-se rituais em que os fiéis consomem a bebida alucinógena feita da folha de planta chacrona e do cipó de mariri, originários da Amazônia. O estudante suspeito do crime frequentou vários cultos.
Segundo membros da comunidade daimista, Sundfeld parou de ir à igreja no meio do ano passado. No dia 25 de janeiro, foi a uma festa na casa do cartunista. Foi sua última aparição, antes dos duplo assassinato.
Moradores da comunidade afirmaram que o rapaz era dependente químico (cocaína).
Vinha tentando de livrar da droga por intermédio dos rituais daimistas. "Ele era amigo da família, mas parecia que tinha problemas mentais; não falava coisa com coisa", disse o zelador da igreja e devoto, Glauber Salmazo.
Segundo a polícia, Sundfeld Nunes chegou a ser preso há dois anos por porte de droga.
Na quarta-feira passada, Glauco promoveu uma festa para comemorar aniversário de 53 anos. Na ocasião, 200 pessoas estiveram na chácara. Sundfeld Nunes não foi.
Quatro testemunhas relataram à polícia que o acusado apareceu na entrada da propriedade por volta de 0h de ontem, quando os moradores já se tinham recolhido para dormir.
Portava uma pistola 765 e uma faca. "Ele estava transtornado", disse Orlando Cardoso de Almeida, primo do cartunista, que mora na comunidade.
Na estrada de terra que passa na porta da chácara, ele teria rendido uma enteada de Glauco. Obrigou-a a levá-lo à casa do cartunista.
Sundfeld Nunes, que todos no lugar conhecem por "Cadu", bateu na mulher do artista, na nora dele e, por fim, desferiu coronhadas no rosto do próprio Glauco. Gritava. Queria encontrar a mãe. Dizendo-se Jesus Cristo, exigia que Glauco confirmasse à mãe essa identidade.
Glauco concordou em levar o rapaz até a mãe, e fazer o que ele pedia. Preparava-se para sair, quando Raoni, um dos seus filhos, chegou à comunidade. Voltava da universidade onde estudava. O jovem assustou-se ao ver o pai sangrando pelo nariz, resultado da coronhada.
Segundo as testemunhas, Sundfeld Nunes apontou a arma para a própria cabeça. Disse que se mataria. De repente, disparou dez vezes contra Glauco e Raoni. Cada um recebeu quatro tiros. Glauco, no rosto, peito e abdômen. Raoni, no peito e no abdômen.
A mulher de Glauco, a enteada dele, a mulher de Raoni e uma quarta pessoa que estava na casa levaram pai e filho ao hospital Albert Sabin, na Lapa (zona oeste de SP). Mas eles já chegaram mortos.
O suspeito teria fugido em um Gol cinza. Segundo os familiares das vítimas, no veículo havia mais uma ou duas pessoas que até a noite de ontem não haviam sido identificadas.
Na manhã de ontem, o advogado de Glauco, Ricardo Handro, chegou a dizer que o crime resultara de uma tentativa de assalto. A hipótese foi descartada, por infundada.
A polícia disse ontem ter pedido para a família interceder para que o rapaz se entregue. Os familiares, no entanto, afirmam desconhecer o paradeiro dele. Até a conclusão desta edição, Sundfeld Nunes ainda não tinha advogado constituído e a polícia estudava pedir sua prisão temporária.
Ontem, a igreja central do Santo Daime no país, sediada na comunidade de Céu do Mapiá, no sul do Amazonas, realizou cerimônia em homenagem a Glauco. À noite, cerca de 200 integrantes cantaram os cânticos compostos pelo cartunista, que visitou a comunidade pela última vez em janeiro.

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Leia especial sobre Glauco
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