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Velório teve cantoria e ritual Daime
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os hinários do Mestre
Irineu, canções de marcha
alegre entoadas durante
cerimônias do Santo Daime são geralmente acompanhadas de dança ao som
de sanfona e percussões.
Ontem, no entanto, eles
foram entoados à capela
durante a missa de corpo
presente do cartunista
Glauco Vilas Boas e do filho Raoni, restrita a amigos e familiares.
A dez passos de onde pai
e filho foram alvejados,
cerca de 200 frequentadores da igreja Céu de Maria
alternaram hinos e orações, vestidos de branco e
divididos por gênero: homens à direita, de terno e
gravata, mulheres à esquerda, de saia longa e coroa na cabeça.
Em duas janelas ao fundo do salão, servia-se o chá
alucinógeno.
Cercada de verde, casa e
igreja ocupam o mesmo
terreno, separadas por
uma cruz de Caravaca,
com duas travas, não uma.
Do lado oposto às duas
construções, amigos e parentes espalhavam-se por
um gramado elevado que
dá vistas para o "skyline"
de São Paulo.
Até as 20h de ontem,
quase 500 pessoas haviam
comparecido à solenidade,
entre eles Laerte e Angeli.
Menos de 24 horas após
o aniversário de 53 anos de
Glauco, amigos chegavam
do interior e litoral do Estado para a missa.
Dentro do templo, o lugar do altar é ocupado por
uma grande imagem de
Mestre Irineu, que recebeu a doutrina do Santo
Daime nos anos 30 e fundou uma religião tipicamente brasileira.
Sentados em círculos ao
redor de um mastro central para o qual convergem
centenas de fios com bandeirolas coloridas, alguns
fardados (como são chamados os religiosos iniciados) abandonavam o canto contínuo para chorar de
forma convulsiva, amparados por colegas.
A viúva de Glauco, Beatriz Galvão, ainda muito
abalada com o testemunho do duplo assassinato,
permaneceu por pouco
tempo na cerimônia.
"É um momento de forte emoção. Glauco era um
sujeito de paz", disse César Augusto Vilas Boas, 58,
o Pelicano, irmão do cartunista. Para ele, não está
definido quem assumirá o
posto de Glauco no Céu de
Maria. "Raoni parecia predestinado a herdar essa
posição. Mas aí aconteceu
essa tragédia", lamentou.
Ao fundo, o canto dos
fardados dizia: "São doze
horas da noite/Meu irmão
se mudou/O sono da eternidade/Deus do céu quem
te chamou".
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