São Paulo, sábado, 13 de março de 2010

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Velório teve cantoria e ritual Daime

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os hinários do Mestre Irineu, canções de marcha alegre entoadas durante cerimônias do Santo Daime são geralmente acompanhadas de dança ao som de sanfona e percussões.
Ontem, no entanto, eles foram entoados à capela durante a missa de corpo presente do cartunista Glauco Vilas Boas e do filho Raoni, restrita a amigos e familiares.
A dez passos de onde pai e filho foram alvejados, cerca de 200 frequentadores da igreja Céu de Maria alternaram hinos e orações, vestidos de branco e divididos por gênero: homens à direita, de terno e gravata, mulheres à esquerda, de saia longa e coroa na cabeça.
Em duas janelas ao fundo do salão, servia-se o chá alucinógeno.
Cercada de verde, casa e igreja ocupam o mesmo terreno, separadas por uma cruz de Caravaca, com duas travas, não uma.
Do lado oposto às duas construções, amigos e parentes espalhavam-se por um gramado elevado que dá vistas para o "skyline" de São Paulo.
Até as 20h de ontem, quase 500 pessoas haviam comparecido à solenidade, entre eles Laerte e Angeli.
Menos de 24 horas após o aniversário de 53 anos de Glauco, amigos chegavam do interior e litoral do Estado para a missa.
Dentro do templo, o lugar do altar é ocupado por uma grande imagem de Mestre Irineu, que recebeu a doutrina do Santo Daime nos anos 30 e fundou uma religião tipicamente brasileira.
Sentados em círculos ao redor de um mastro central para o qual convergem centenas de fios com bandeirolas coloridas, alguns fardados (como são chamados os religiosos iniciados) abandonavam o canto contínuo para chorar de forma convulsiva, amparados por colegas.
A viúva de Glauco, Beatriz Galvão, ainda muito abalada com o testemunho do duplo assassinato, permaneceu por pouco tempo na cerimônia.
"É um momento de forte emoção. Glauco era um sujeito de paz", disse César Augusto Vilas Boas, 58, o Pelicano, irmão do cartunista. Para ele, não está definido quem assumirá o posto de Glauco no Céu de Maria. "Raoni parecia predestinado a herdar essa posição. Mas aí aconteceu essa tragédia", lamentou.
Ao fundo, o canto dos fardados dizia: "São doze horas da noite/Meu irmão se mudou/O sono da eternidade/Deus do céu quem te chamou".


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