São Paulo, sábado, 13 de março de 2010

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REPERCUSSÃO

Artistas fazem homenagem a Glauco

Convidados pela Folha, 17 desenhistas, como Angeli, Laerte, Adão e Paulo Caruso relembram o trabalho do cartunista

LAERTE, cartunista:
"O Glauco era como o Garrincha, o Jorge Ben. Trabalhava na intuição, o sujeito segue o faro, tem uma linha própria. Nos anos 80, ele foi um sopro de renovação, um tipo de humor bastante independente em relação à postura antiditatorial da época. Perde-se uma pessoa maravilhosa e doce, mas o trabalho dele fica."

ANGELI, cartunista:
"Comentavam que ele era a Rita Lee do cartum brasileiro. No meio da pancadaria da ditadura, ele fazia uma brincadeirinha fútil, que acaba mudando nossa visão das coisas. Trouxe um humor leve, anárquico e moleque -uma coisa fora dos padrões do cartum da época, em que todo mundo só fazia charges de guerrilha."

OTAVIO FRIAS FILHO, diretor de Redação da Folha:
"Glauco foi um grande artista e um ser humano admirável. Sua obra ficará na memória das gerações que amaram seus desenhos e no traço dos muitos artistas jovens que sua imaginação influenciou. Era uma pessoa que tinha a doçura de uma criança e a serenidade de um sábio. Sua morte e a de seu filho Raoni são motivo de profunda tristeza, especialmente na Folha, casa profissional do cartunista há mais de três décadas."

RUY CASTRO, jornalista:
"O traço mais original de sua geração e de muitas gerações. Quando conheci Glauco, em 1983, ele já desenhava aqueles bonecos perplexos e acelerados, cheios de pernas e sempre em movimento, que eram a sua marca e de mais ninguém. Fixou cedo seu estilo, coisa rara em cartunistas."

MARCELO RUBENS PAIVA, escritor:
"O Glauco foi o grande representante no universo das neuroses paulistas, urbanas, a perdida entre as ilusões da contracultura e a realidade. Ninguém vai se conformar jamais com um artista se ir no auge de sua criatividade. De repente o cara ser vítima dessa loucura. A loucura que nos inspira é a loucura que nos mata."

ZIRALDO, cartunista:
"Ele sempre foi a alegria da festa. Tinha uma agilidade mental muito grande, era crítico, debochado -num bom sentido. Ele era perfeito nisso. É uma perda brutal para todos nós, e fico com raiva e vergonha dessa violência. Demorará para passar. Há muito tempo não sentia uma dor tão grande."

MARIO BORTOLOTTO, dramaturgo:
"Descobri Glauco nos anos 80, cresci lendo ele e a geração dele. Ele deixou uma obra muito grande, mas é uma pena que não saberemos o que ele poderia ainda criar. Temos de estar preparados pra violência, fui vítima dela e, agora, o Glauco. Não podemos tentar ser bons-moços e fingir que nada está acontecendo, porque está."

NUNO RAMOS, artista visual:
"Ele tinha essa coisa vagabunda, vira-lata, fácil e solta do traço, uma espécie de dejeto urbano. Não era um traço tão caprichado como o do Angeli. O Henfil seria o patrono do caminho dele. Ele tinha personagens incríveis. Eu lia todo dia."

CHICO CARUSO, cartunista:
"Conheci o Glauco no Salão de Humor de Piracicaba. Tinha um espírito anárquico, suas charges eram muito engraçadas e jovens. Era surpreendente que fosse tão iconoclasta e ao mesmo tempo bispo."

LOURENÇO MUTARELLI, cartunista:
"Ele tinha um trabalho único. Tenho muito carinho e admiração por ele. Fiquei muito sensibilizado. É algo que a gente não quer aceitar, mas é obrigado a aceitar."

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, presidente da República:
"Glauco foi um grande cronista da sociedade brasileira, entendia os usos e costumes da nossa gente e expressava isso com inteligência e humor. Fiquei triste com a notícia de sua morte e chocado com as circunstâncias inaceitáveis que também levaram seu filho Raoni. Foi uma perda tremenda."

JOSÉ SERRA, governador de SP:
"Lamento a morte trágica e precoce do cartunista Glauco, ocorrida ontem. Dono de um traço caligráfico, ele criou toda uma galeria de personagens, alguns tão familiares que são hoje parte do nosso cotidiano nas tirinhas dos jornais. Era um crítico dos usos e costumes do nosso país sem perder a leveza e o humor tão brasileiro de seu desenho."

RITA LEE, cantora:
"Sem as tirinhas de Glauco a gente vai rir menos pois Los Tres Amigos ficam desfalcados. Tô passada, meu..."

JUCA FERREIRA, ministro da Cultura:
"Glauco encarnava uma soma de qualidades tão rara a ponto de parecer ficcional: o anarquismo explosivo que marcava os personagens, a doçura com as pessoas e a condição de fundador de uma igreja. Essa sua natureza se choca de maneira inexplicável com a morte violenta dele e do filho, pelo que transmito meu abraço de conforto à família."

CACO GALHARDO, cartunista:
"Encontrei o Glauco poucas vezes, ele tinha uma puta estrela. Tinha o talento de repetir a mesma piada há dez anos e todo mundo continuava rindo. É genial. Talvez seja o último dos moicanos, o maluco beleza, o doidão. Você olhava para o cara e logo entendia que ele estava em outra galáxia."

MARCELO TAS, apresentador:
"Foi um cara muito delicado, viajante no sentido mais belo da palavra. Ele deixa um traço inconfundível, coisa que só os grandes artistas deixam. Conseguiu expressar a loucura dos dias que a gente vive com muita beleza."


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