São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2001

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REAÇÃO

Itália propõe cúpula do G-8 e União Européia apóia EUA

Premiê Berlusconi diz ser "inconcebível deixar EUA sozinhos"

UE apóia EUA por meio da Otan, mas diverge sobre eventual ação militar

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MILÃO

MARCELO STAROBINAS
EM LONDRES

O premiê italiano, Silvio Berlusconi, defendeu ontem a convocação de um encontro de emergência do G-8 (grupo que reúne os sete países mais industrializados mais a Rússia) para estudar soluções de combate ao terrorismo.
"A Itália se coloca à disposição do mundo para organizar outra cúpula do G-8 e planejar uma agenda para a luta contra o terrorismo", afirmou o primeiro-ministro, durante discurso no Parlamento, em Roma. "É inconcebível deixar os EUA sozinhos em um momento difícil como esse."
Há menos de dois meses, a própria Itália recebeu a última reunião do grupo, em Gênova. O encontro foi marcado pelos confrontos entre manifestantes anti-globalização e policiais, que provocaram uma morte e prejuízos de US$ 45 milhões à cidade.
A próxima cúpula do G-8 está marcada apenas para junho do ano que vem, no Canadá.
Berlusconi ainda propôs que os 12 países que compõem a UE (União Européia) adotem luto oficial amanhã, o que foi aceito no início da noite por Bruxelas, durante reunião dos 15 países que integram o bloco europeu.
Por sua proposta, ao meio-dia, por um minuto, toda a Europa ficará em silêncio em respeito às tragédias de anteontem nos EUA.
A Itália continua em estado de alerta, com segurança reforçada nos seus aeroportos e em órgãos ligados ao governo americano -em agosto, uma bomba explodiu no Tribunal de Veneza pouco antes de uma visita do premiê.
Ontem, foram cancelados quatro vôos que sairiam de Roma com destino a Israel. Outros dez aviões de companhias americanas estão parados no aeroporto da capital. Em grandes cidades, como Roma e Milão, policiais vigiam lojas do McDonald's, do Burger King e do Hard Rock Cafe.
A segurança também foi reforçada em Nápoles, onde funciona uma base militar dos EUA.

Apoio político
A UE (União Européia) decidiu ontem expressar um apoio político a Washington que fosse além das declarações oficiais de pesar e de homenagens às vítimas.
Optou por fazer isso no âmbito da Otan (aliança militar ocidental liderada pelos EUA), endossando a proposta de considerar os atentados como um ataque a todos os membros da aliança.
Embora nem todos os 15 membros da UE façam parte da Otan, os principais países do bloco integram a aliança militar.
"Há muita discussão ocorrendo no âmbito da Otan que não seria apropriado discutir aqui", afirmou o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Jack Straw, durante a reunião dos ministros da UE em Bruxelas.
Numa demonstração de unidade, o secretário-geral da Otan, o britânico George Robertson, foi chamado a participar da reunião: "Nós estamos juntos. Somos duas organizações com uma mensagem, uma mensagem forte, de que não vamos aceitar o terrorismo", afirmou.
Embora a decisão, em princípio, abra caminho para uma eventual retaliação conjunta aos autores do atentado, os aliados europeus não irão necessariamente pegar em armas para agir ao lado dos EUA contra os terroristas.
A representante sueca, Anna Lindh, e o alemão, Joschka Fischer, disseram que ainda é cedo para se falar em ofensivas militares, já que o inimigo ainda não foi identificado.
Já a França, normalmente reticente a se envolver em ações dos EUA, especialmente quando elas dizem respeito ao Oriente Médio, já que o país tem uma relação próxima com alguns países árabes, deu indícios de que, dessa vez, poderá estar do lado dos americanos. O presidente Jacques Chirac deve ir a Washington na próxima semana para se encontrar com o presidente George W. Bush.
Em Londres, o premiê Tony Blair defendeu um apoio decidido aos EUA. Segundo ele, o Reino Unido e seus aliados precisam agir com empenho e rapidez ao lado dos EUA nas investigações para solucionar e prender os responsáveis pela operação.
"Os EUA podem ter sido os escolhidos por esses terroristas, mas o ataque foi dirigido a nós todos, e, portanto, é imperativo que fiquemos juntos para derrotá-los", declarou o premiê.
"Pessoas de todas as fés, e todos aqueles com convicções democráticas, têm uma causa em comum: identificar essa máquina do terror e desmontá-la o mais rápido possível."
Dentre os países da UE, o Reino Unido é o mais próximo aliado militar dos EUA. Blair se negou a comentar de que forma pretende ajudar o governo americano.
Mas o governo de Washington espera contar com informações dos serviços de inteligência britânico, além de um apoio mais concreto com armas e tropas, caso isso se mostre necessário.
Em 1986, aviões americanos partiram de bases aéreas britânicas para bombardear a capital da Líbia, Trípoli, em retaliação a um atentado a uma discoteca frequentada por soldados dos EUA em Berlim.
O Reino Unido também foi a principal força aliada de Washington na Guerra do Golfo. Até hoje, os dois países mantêm operações conjuntas no Iraque.


Com agências internacionais


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