São Paulo, Segunda-feira, 15 de Fevereiro de 1999
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FOLIA
Embora com mais tradição do que os trios, grupos são pouco conhecidos
Blocos de Salvador resistem à indústria do Carnaval

DANIELA FALCÃO
enviada especial a Salvador

LUIZ FRANCISCO

CHRISTIANNE GONZÁLEZ


da Agência Folha em Salvador

Longe dos holofotes das TVs, das rádios e dos patrocinadores, blocos afros, de índios e afoxés lutam para sobreviver em um Carnaval que permite cada vez menos amadorismo. Embora tenham mais tradição e história do que os blocos de trio, esses grupos são quase desconhecidos fora de Salvador.
Com uma música menos comercial que o axé e o pagode dos trios elétricos (quase não há instrumentos elétricos), os blocos sofrem com a falta de recursos e lutam todos os anos para não sucumbir à força da indústria do Carnaval.
Sobreviveram graças à determinação de seus integrantes e ao apoio de "padrinhos" importantes. Caetano Veloso é presença certa na saída no Ilê Aiyê (afro) na madrugada de sexta para sábado.
Gilberto Gil saiu no afoxé Filhos de Gandhy e Carlinhos Brown "adotou" o Apaches do Tororó.
A primeira diferença com os blocos de trio é a localização da sede. Enquanto blocos como o Eva, Inter Asa e Cheiro de Amor ficam em shoppings nos bairros nobres, os afros, índios e afoxés se localizam em casas pequenas na periferia.
O horário e o local em que desfilam reforçam os contrastes. A maioria dos tradicionais sai à noite de suas sedes e só chega ao Campo Grande no início da madrugada.
Os blocos de trio passam pelo Campo Grande à tarde e concentram quase toda a atenção da mídia. Ou saem no circuito Barra-Ondina, onde está a maioria dos hotéis de luxo e turistas dispostos a pagar R$ 500 para pular três dias protegidos por seguranças.

Filhos de Gandhy
Para comemorar 50 anos de fundação, o maior bloco carnavalesco de Salvador, Filhos de Gandhy, foi às ruas com 10 mil associados. Além do meia Raí, do São Paulo, também participaram do desfile os cantores e compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Com duas horas de atraso em relação à programação oficial, os primeiros integrantes do bloco de afoxé só saíram da sede -um casarão centenário localizado no Pelourinho- às 17h de ontem.
Pela primeira vez nos últimos 20 anos, o desfile começou na praça Municipal. O bloco foi fundado em 18 de fevereiro de 1949 e só aceita homens entre seus associados.


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