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TERRORISMO
Apoio a Israel, estagnação do processo de paz e presença de tropas
norte-americanas no golfo Pérsico alimentam antiamericanismo
Política externa acirra extremismos
Precisamos dar prioridade à saúde, à educação e ao desenvolvimento econômico ou novos "Osamas" vão surgir", diz Jessica Stern, especialista em terrorismo
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
Os atentados nunca teriam ocorrido se o
conflito no Oriente
Médio tivesse sido resolvido. O terrorismo não é um
fenômeno de uma semana. Eu
mesmo me surpreendi de que algo semelhante não houvesse se
passado antes." A afirmação do
rei Abdullah, da Jordânia, vai ao
encontro da análise que cientistas
políticos e especialistas em terrorismo fizeram à Folha, embora o
monarca hachemita se expresse
de forma bem mais enfática.
Nos últimos meses, Abdullah e
o presidente do Egito, Hosni Mubarak, disseram reiteradas vezes a
George W. Bush que o antiamericanismo alcançava níveis sem
precedentes na região e que não
descartavam atos de violência,
apesar de não figurarem a dimensão da tragédia na Costa Leste.
À exceção do Iraque, os países
islâmicos e os árabes condenaram
publicamente as mortes, que podem chegar a milhares, mas a
hostilidade em relação aos EUA
cresce na região-berço de três importantes religiões monoteístas.
"Creio que os EUA sejam odiados no Oriente Médio, por causa
de seu apoio acrítico, mais US$ 3
bilhões a US$ 4 bilhões por ano,
sustentando incondicionalmente
a ocupação israelense, incluindo o
fornecimento de helicópteros, caças F-16 e mísseis usados para reforçar a ocupação", observa
Phyllis Bennis, do Institute for Policy Studies, em Washington.
Enquanto se buscavam sobreviventes em Nova York, Israel invadia Jericó, primeira cidade palestina a se tornar autônoma na Cisjordânia (em 1994), com tanques
e helicópteros. Em Jenin, ao menos 13 palestinos foram mortos e
mais de cem ficaram feridos.
"Os EUA também são odiados
porque armaram regimes repressores, que oprimem o próprio povo. Sem levar em conta o impacto
das sanções na população civil do
Iraque e os bombardeios quase
diários ao país, que já duram dez
anos. Tudo isso foi eliminado da
cobertura jornalística nos EUA,
mas não da consciência árabe."
Grupos extremistas surgiram
em meio ao conflito israelo-árabe,
que gerou ao menos cinco conflitos, ou em resposta à presença de
tropas estrangeiras no golfo Pérsico, convocadas após a invasão do
Kuait. Outros combatem o regime de seu próprio país, como na
Argélia, na Tunísia e no Egito.
Na Guerra Fria, os EUA apoiaram líderes anti-soviéticos, ditadores, incluindo sul-americanos,
e o terrorista saudita Bin Laden.
"A cada nova guerra, os EUA se
tornavam mais atrelados a Israel",
diz o historiador israelense Avi
Schlaim. Segundo o Jihad Islâmico, "os ataques são o resultado direto da política norte-americana".
Para o analista político Mohamad Mahr, "a estagnação do processo de paz fomenta o extremismo. Cerca de 1,2 milhão de palestinos vivem na faixa de Gaza, a
maior "prisão" do mundo. É o ambiente ideal para o extremismo".
Mahr afirma que "seria um ato de
coragem repensar o papel do país
na região, deixando de vetar o envio de observadores internacionais aos territórios ocupados".
Já Philip Heymann, ex-assessor
do Departamento de Estado dos
EUA, alega que "a política dos
EUA no Oriente Médio não é
muito bem-vista, mas não é possível prever se uma mudança na
abordagem impediria a tragédia".
"Osamas"
"Precisamos dar prioridade à
saúde, à educação e ao desenvolvimento econômico, ou novos
"Osamas" vão continuar a surgir.
Sem dúvida, o que outros povos
pensam de nós deve ser levado
em conta. Ser temido somente
não é suficiente para garantir nossa segurança", afirma Jessica
Stern, especialista em terrorismo
e política externa de Harvard.
"Bin Laden teria dito na terça-feira que está pronto para morrer
e que, se os militares norte-americanos conseguirem matá-lo, centenas de outros "Osamas" vão
substituí-lo. Eu encontrei alguns
desses "Osamas". Eles aparecem
em muitos países e professam diversas religiões. Em geral, aderem
a movimentos extremistas por
um sentimento intenso de segregação", explica a especialista.
O islamismo não é a única religião que produz extremistas, de
acordo com Stern, que cita ataques de judeus em Jerusalém, comuns antes da criação de Israel.
Em 1946, 91 pessoas morreram na
explosão do hotel King David.
"Qualquer um de nós é capaz de
um comportamento extremista
por uma causa que defendemos",
argumenta o psicólogo norte-americano Clark McCauley, autor
de "Pesquisando o Terrorismo".
O isolamento do Afeganistão,
tal qual o do Iraque, favorece uma
ideologia extremista. O Taleban,
que controla quase todo o território afegão, patrocina execuções
em praça pública, apedrejamentos e amputações. Sob seu jugo, as
mulheres perderam os direitos civis e quase não têm acesso a atendimento médico público.
Para Amy Sands, diretora-assistente do Centro para Estudos de
Não-Proliferação de Armas dos
EUA e especialista em terrorismo,
os ataques à Costa Leste tiveram
como objetivo demonstrar a vulnerabilidade do país caso não
modifique sua política externa.
Logo após a tragédia, foi reforçada a segurança em bases norte-americanas no Kuait. Adotaram-se medidas similares em todo o
golfo Pérsico, onde os EUA mantêm até 25 mil tropas, que já foram alvo de bombas. Bases militares e embaixadas são constamente colocadas em alerta após receberem ameaças terroristas.
Em 1983, terroristas suicidas
mataram 241 militares norte-americanos e quase cem franceses
em Beirute, com uma diferença
de sete segundos. Depois, vieram
os ataques contra bases dos EUA
na Arábia Saudita e a tentativa no
ano passado de afundar o destróier USS Cole, no Iêmen.
De acordo com o xeque Jihad
Hassan Hammadeh "atentados
suicidas só são válidos em campos de batalha. Nesses locais,
quem faz isso é visto como mártir.
Em lugar que não é campo de batalha, a ação não é válida, apenas
onde há uma guerra declarada. Aí
a violência já está estabelecida".
Segundo a CIA, a natureza e a
estrutura do terrorismo antiamericano mudaram radicalmente
nos últimos anos. Atualmente, esse terrorismo é dominado por
grupos independentes e descentralizados como o de Bin Laden.
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