São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2001

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REAÇÃO

Plano militar deve excluir ocupação

Embora Bush não descarte opções, uma ação ao estilo soviético é vista como muito arriscada

France Presse
O presidente dos EUA, George W. Bush, cumprimenta alguns dos cerca dos 35 mil reservistas convocados para a retaliação americana aos atentados cometidos na semana passada


MICHAEL R. GORDON
DO "THE NEW YORK TIMES"

Quando o presidente George W. Bush e seus principais assessores falam sobre ação militar para pôr fim ao apoio do Afeganistão ao terrorismo, estão se concentrando em ataques que punam o Taleban e solapem seu controle sobre o país, não em ocupação plena.
Ao que parece, nenhum plano de guerra foi definido ainda, e oficialmente o governo Bush insiste em que nenhuma opção militar está excluída.
Sabe-se, no entanto, que o governo está preparando um poderoso ataque militar caso o Taleban, como esperado, se recuse a entregar o terrorista saudita Osama bin Laden.
Uma das principais opções é uma intervenção militar na guerra civil do Afeganistão, em favor da aliança rebelde que controla apenas uma pequena parcela do território afegão. O grupo foi enfraquecido recentemente com o assassinato de seu líder, Ahmad Shah Massoud, que morreu no sábado depois de um atentado a bomba executado apenas dois antes dos ataques aos EUA.
Ao mesmo tempo, os EUA aplicariam ainda mais pressão, por exemplo, persuadindo o Paquistão a bloquear os canais financeiros da organização de Bin Laden e o fluxo de combustível do país ao Afeganistão.
Medidas como essas podem ficar aquém de um golpe fatal contra o Taleban. O que complica os planos da administração americana é a perda do elemento surpresa. O Taleban e os homens de Bin Laden estão esperando um ataque aéreo e esvaziaram suas bases e campos, de acordo com os serviços de inteligência dos EUA.

Estilo soviético
Mas existe o reconhecimento de que seguir adiante e realizar uma ocupação ao estilo soviético com milhares de soldados colocaria os EUA em choque contra boa parte do mundo islâmico e acarretaria sérios riscos.
O governo Bush parece estar à procura de um plano que envolva poderio aéreo e talvez o uso de forças terrestres, com maior intensidade do que o ataque pouco efetivo de mísseis Cruise lançado pelo governo Clinton contra Bin Laden, no Afeganistão, em 1998, mas que, ao mesmo tempo, seja inferior à imensa ofensiva da Guerra do Golfo (1991).
Funcionários do governo indicaram que a ação militar contra o Afeganistão não é necessariamente urgente, já que o elemento surpresa foi perdido.
De fato, o Pentágono precisará de tempo para posicionar suas forças se decidir executar um ataque de grandes proporções em um território distante como o Afeganistão.

Indignação
Mas os americanos sabem igualmente que será mais fácil, politicamente, agir enquanto a indignação mundial está fresca.
A meta americana é clara: destruir as redes terroristas. Mas, já que é difícil localizar terroristas, Washington se concentra também nos governos que os apóiam.
As Forças Armadas americanas tentaram em vão capturar o líder guerrilheiro somali Muhammad Farah Aidid. E não conseguiram derrubar Saddam Hussein a despeito de numerosos ataques.
O governo de Bush pai conseguiu capturar Manuel Noriega, o homem forte do Panamá, mas Washington tinha muitas vantagens naquele caso, incluindo as bases dos EUA no país.
Já Bin Laden é difícil de vigiar, e sua base fica em uma região remota e de topografia difícil. O vice-presidente Dick Cheney declarou ontem que os Estados Unidos nem sequer estão certos de que Bin Laden continue no Afeganistão. Diante da difícil tarefa de descobrir seu paradeiro, o governo Bush ampliou o problema. A teoria é que, embora seja difícil encontrar um terrorista, o governo que o abriga não é.

Eliminar Estados
O secretário assistente da Defesa, Paul Wolfowitz, falou na semana passada sobre "acabar com Estados que patrocinem o terrorismo". Funcionários alegam que ele se equivocou e afirmam que o que Wolfowitz pretendia dizer era "acabar com o apoio dos Estados ao terrorismo".
Em alguns casos, como o do Afeganistão, a questão parece semântica, porque a meta seria derrubar os dirigentes do Taleban caso eles se recusem a colaborar.
Em outros casos, a pressão política econômica e até mesmo militar em escala limitada pode ser aplicada. O governo Bush certamente não assumiu um compromisso de invadir todos os países que, segundo o Departamento de Estado, ajudam os terroristas: Irã, Iraque, Síria, Sudão, Líbia, Cuba e Coréia do Norte.
E é possível que os americanos estejam dispostos a demonstrar certa flexibilidade tática. Alguns funcionários dizem que não excluem a possibilidade de cooperar com o Irã, que apóia os insurgentes inimigos do Taleban. Isso seria uma aplicação do ditado "o inimigo do meu inimigo é meu amigo".
Reconhecendo a dificuldade de sua tarefa militar, o governo Bush também está tentando evitar expectativas de que um ou dois atraques bastarão para acabar com a ameaça comunista mundial. Eles já estão falando de uma campanha militar que levaria anos, e não meses.



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