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RESGATE
Bombeiros perdem as esperanças
Equipes admitem ser "improvável" encontrar sobreviventes nos escombros do WTC
Associated Press
![](../images/e1809042001.jpg) |
Casal de turistas, em ônibus de passeio, tira fotos da Time Square, ainda vazia seis dias depois do atentado contra o WTC, em Nova York |
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
GABRIELA ATHIAS
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
No sétimo dia do atentado terrorista que derrubou as torres gêmeas do World Trade Center,
bombeiros de Nova York disseram à Folha, pela primeira vez,
ser "improvável" encontrar sobreviventes. Oficialmente, há
5.422 desaparecidos de pelo menos 70 nacionalidades diferentes.
A perspectiva é a mesma de um
médico que trabalha para oito representações consulares na cidade e de empresas que tinham escritórios nas torres. Até agora,
apenas 5 pessoas foram retiradas
com vida. A última, na quarta.
Os esforços das equipes que trabalham na área -um exército de
cerca de 2.000 pessoas- estavam
concentrados nos seis andares de
subsolo do WTC, onde ficavam os
estacionamentos e o comércio.
Pela localização, distante do local do choque, e por se tratar de
plataformas resistentes, era provável que ali ainda houvesse vida.
"Desde terça, nossa esperança
estava lá", disse à Folha o bombeiro Wayne Picone, 50, que liderou uma das equipes ao subsolo.
Anteontem, eles chegaram ao nível B6, o último. "Está tudo limpo,
não há ninguém." Segundo seu
companheiro Charles Barzydlo,
46, "não é impossível, mas é improvável que ainda haja gente
com vida" nos escombros.
Barzydlo conta que parte das
seis plataformas cedeu, mas algumas regiões do estacionamento
-as que ainda não foram inundadas- estão intocadas. "Seria o
lugar perfeito para se abrigar."
Mas os soldados não ouviram nenhum barulho. "Além das áreas
limpas, o que encontramos foram
fornalhas", disse, citando o calor
produzido pelo fogo.
Pouco a pouco, as autoridades
preparam a transição dos esforços das equipes: de procura de sobreviventes para resgate de corpos. Não é uma tarefa fácil.
"Nós vamos continuar procurando por sobreviventes", afirmou ontem o prefeito de Nova
York, Rudolph Giuliani, "porque
há situações em que as pessoas
conseguem resistir até mesmo
por mais de seis dias".
Segundo o prefeito, a busca por
sobreviventes só pára quando os
chefes das equipes de resgate o
avisarem oficialmente de que não
há mais esperança. "Mas ainda
não chegamos lá", disse ele.
Reunião e buscas
O que os bombeiros diziam à
beira dos destroços do WTC era
repetido, quase simultaneamente,
no Hotel Millenium, centro de
Manhattan, por representantes da
Marsh Inc. aos parentes de 313
funcionários desaparecidos.
No encontro, o vice-presidente
da companhia, Fran Bonsignore,
disse que as buscas realizadas pela
empresa em 46 hospitais não levaram à localização de ninguém e
que um dos aviões atingiu a torre
norte exatamente entre o 96º e o
103º andar -a empresa ocupava
do 93º ao 100º-, o que, segundo
ele, torna improvável que exista
algum sobrevivente na área.
Entre os 313 funcionários da
Marsh Inc. está a contadora mineira Sandra Fajardo Smith, 37.
Após o encontro, a família de Sandra disse que só lhe resta "esperar
pelo comunicado oficial".
O médico brasileiro Albert
Levy, 52, concorda que as chances
de haver sobreviventes são muito
baixas. Durante a semana passada, Levy -que presta serviços aos
consulados do Brasil, da França,
do Canadá, da Austrália, da Bélgica, de Mali, do Senegal e de Uganda- visitou os hospitais de Nova
York atrás de feridos. Segundo o
médico, eles quase não existem.
"Há três ou quatro dias os hospitais não recebem mais feridos.
Só mortos", disse à Folha, por telefone. Sobre os brasileiros, Levy é
breve. Diz que foi procurado por
muitas famílias, mas que, até agora, só atendeu a problemas respiratórios e choques emocionais.
"As pessoas conhecidas, que
trabalhavam nas torres e talvez
precisassem de socorro, estão todas sob os escombros."
Até o início da tarde, o médico
apostava na existência de sobreviventes no subsolo. No final do dia,
porém, em contato com os proprietários do WTC, recebeu a notícia de que o local estava vazio.
Brasileiros
Oficialmente, são oito os brasileiros desaparecidos desde a queda das torres. Entre domingo e a
noite de ontem, nenhum nome
foi acrescentado à lista. Isso significa que não houve novas famílias
em contato com as autoridades.
O consulado em Nova York localizou 76 pessoas e informou que
outras 9 não foram incluídas nas
buscas porque as informações
fornecidas são incompletas.
Colaboraram Flávio Ferreira e José
Sacchetta, de Nova York
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