São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2001

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RESGATE

Bombeiros perdem as esperanças

Equipes admitem ser "improvável" encontrar sobreviventes nos escombros do WTC

Associated Press
Casal de turistas, em ônibus de passeio, tira fotos da Time Square, ainda vazia seis dias depois do atentado contra o WTC, em Nova York


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

GABRIELA ATHIAS
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

No sétimo dia do atentado terrorista que derrubou as torres gêmeas do World Trade Center, bombeiros de Nova York disseram à Folha, pela primeira vez, ser "improvável" encontrar sobreviventes. Oficialmente, há 5.422 desaparecidos de pelo menos 70 nacionalidades diferentes.
A perspectiva é a mesma de um médico que trabalha para oito representações consulares na cidade e de empresas que tinham escritórios nas torres. Até agora, apenas 5 pessoas foram retiradas com vida. A última, na quarta.
Os esforços das equipes que trabalham na área -um exército de cerca de 2.000 pessoas- estavam concentrados nos seis andares de subsolo do WTC, onde ficavam os estacionamentos e o comércio.
Pela localização, distante do local do choque, e por se tratar de plataformas resistentes, era provável que ali ainda houvesse vida.
"Desde terça, nossa esperança estava lá", disse à Folha o bombeiro Wayne Picone, 50, que liderou uma das equipes ao subsolo. Anteontem, eles chegaram ao nível B6, o último. "Está tudo limpo, não há ninguém." Segundo seu companheiro Charles Barzydlo, 46, "não é impossível, mas é improvável que ainda haja gente com vida" nos escombros.
Barzydlo conta que parte das seis plataformas cedeu, mas algumas regiões do estacionamento -as que ainda não foram inundadas- estão intocadas. "Seria o lugar perfeito para se abrigar." Mas os soldados não ouviram nenhum barulho. "Além das áreas limpas, o que encontramos foram fornalhas", disse, citando o calor produzido pelo fogo.
Pouco a pouco, as autoridades preparam a transição dos esforços das equipes: de procura de sobreviventes para resgate de corpos. Não é uma tarefa fácil.
"Nós vamos continuar procurando por sobreviventes", afirmou ontem o prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, "porque há situações em que as pessoas conseguem resistir até mesmo por mais de seis dias".
Segundo o prefeito, a busca por sobreviventes só pára quando os chefes das equipes de resgate o avisarem oficialmente de que não há mais esperança. "Mas ainda não chegamos lá", disse ele.

Reunião e buscas
O que os bombeiros diziam à beira dos destroços do WTC era repetido, quase simultaneamente, no Hotel Millenium, centro de Manhattan, por representantes da Marsh Inc. aos parentes de 313 funcionários desaparecidos.
No encontro, o vice-presidente da companhia, Fran Bonsignore, disse que as buscas realizadas pela empresa em 46 hospitais não levaram à localização de ninguém e que um dos aviões atingiu a torre norte exatamente entre o 96º e o 103º andar -a empresa ocupava do 93º ao 100º-, o que, segundo ele, torna improvável que exista algum sobrevivente na área.
Entre os 313 funcionários da Marsh Inc. está a contadora mineira Sandra Fajardo Smith, 37. Após o encontro, a família de Sandra disse que só lhe resta "esperar pelo comunicado oficial".
O médico brasileiro Albert Levy, 52, concorda que as chances de haver sobreviventes são muito baixas. Durante a semana passada, Levy -que presta serviços aos consulados do Brasil, da França, do Canadá, da Austrália, da Bélgica, de Mali, do Senegal e de Uganda- visitou os hospitais de Nova York atrás de feridos. Segundo o médico, eles quase não existem.
"Há três ou quatro dias os hospitais não recebem mais feridos. Só mortos", disse à Folha, por telefone. Sobre os brasileiros, Levy é breve. Diz que foi procurado por muitas famílias, mas que, até agora, só atendeu a problemas respiratórios e choques emocionais.
"As pessoas conhecidas, que trabalhavam nas torres e talvez precisassem de socorro, estão todas sob os escombros."
Até o início da tarde, o médico apostava na existência de sobreviventes no subsolo. No final do dia, porém, em contato com os proprietários do WTC, recebeu a notícia de que o local estava vazio.

Brasileiros
Oficialmente, são oito os brasileiros desaparecidos desde a queda das torres. Entre domingo e a noite de ontem, nenhum nome foi acrescentado à lista. Isso significa que não houve novas famílias em contato com as autoridades.
O consulado em Nova York localizou 76 pessoas e informou que outras 9 não foram incluídas nas buscas porque as informações fornecidas são incompletas.


Colaboraram Flávio Ferreira e José Sacchetta, de Nova York

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