São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2001

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Paulista é espancado e decide voltar

DA REPORTAGEM LOCAL

Às 20h30 de ontem, o estudante santista Hermes Barbosa de Lima, 23, esperava a decolagem do vôo 31 da Continental Airlines rumo ao Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos.
A estada de estudos nos EUA, que deveria durar quatro anos, foi reduzida a menos de oito meses. Lima decidiu voltar ao Brasil depois de ter sido espancado por um grupo de 15 jovens norte-americanos. Para ele, o grupo o confundiu com um imigrante árabe.
A agressão aconteceu por volta das 21h da última quarta-feira, em Bridgeport, no Estado de Connecticut (vizinho de Nova York).
Lima, como a maior parte dos brasileiros nos EUA, faria mais uma das inúmeras tentativas de telefonar para a mãe, a aposentada Firmina de Aquino Barbosa Lima, 48, para dizer que estava bem, apesar dos atentados terroristas.
Segundo Firmina, neta de judeus que mora em Vila Velha (ES), o filho foi agredido antes mesmo de chegar ao telefone público, a poucos metros do prédio onde havia alugado um quarto.
"Primeiro, levou um soco na cabeça, que nem sabia de onde vinha. Olhou para trás e viu uns oito. Depois, chegaram mais sete", disse a aposentada, para quem os agressores devem ser perdoados, pois agiram "no amargor da tristeza dos americanos".

Brancos e negros
O rapaz só conseguiu falar com a mãe na quinta-feira. Ontem à noite, a pedido dela, ligou para a Folha. Ele contou que os agressores -15- tinham aproximadamente 20 anos. Havia brancos, mas a maioria era de negros.
Cambaleando, segundo Lima, ele recebeu outro soco. Em seguida, um chute. Ambos no rosto. Depois, já no chão, uma sucessão de chutes vindos de todos os lados. "Eles não falavam nada, só batiam", disse o rapaz. A mãe havia dito que eles o chamavam de árabe. Lima confirma já ter tido a origem confundida, mas não lembra das falas dos agressores.
"Quando caí, todos me chutavam. Durou uma eternidade. De repente, alguns se afastaram. Tentei levantar, mas recebi outros chutes de três que tinham ficado. Quando dois se afastaram, corri."
O estudante teve o nariz e um dos braços quebrados. Conseguiu chegar ao quarto e ligar para a polícia, mas os agressores não foram localizados. Passou a noite em claro e, de manhã, foi para a casa de um amigo em Nova York.
Só na sexta, após procurar o Consulado do Brasil em Nova York, foi ao médico. Passou a usar uma bandeira do Brasil amarrada ao pulso. Com medo, decidiu voltar. "Aqui ele está protegido", diz a mãe. (SC e GA)

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