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INVESTIGAÇÃO
EUA suspeitam de elo Brasil-terror
Washington quer maior intercâmbio com Brasília para apurar vínculos de Bin Laden no país
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O Departamento de Estado e o
Congresso norte-americanos dizem que há indícios de uma conexão brasileira da rede terrorista
internacional controlada pelo
saudita Osama bin Laden, principal suspeito dos atentados que
podem ter matado mais de 5.000
pessoas nos Estados Unidos na
semana passada.
Por essa razão, o governo norte-americano quer aprofundar ainda mais o intercâmbio entre os
serviços de inteligência dos dois
países, já considerado produtivo
pelo Departamento de Estado, e
espera do Brasil mais rigor no
monitoramento de suspeitos de
origem árabe que vivem e trabalham na região Sul do país.
A base mais forte das suspeitas
nasceu com a prisão no Uruguai,
no dia 29 de janeiro de 1999, do
egípcio El Said Hassam Mohamed Moklhes (ou El-Said Hassan
Mukhlis).
Moklhes morou durante sete
anos no Paraná e no Rio Grande
do Sul e era acusado pela CIA e
pelo serviço secreto inglês de pertencer ao grupo terrorista Al-Gama'a Al-Islamiya, ligado a Bin Laden e encarregado de desestabilizar, com atentados, o sistema político no Egito.
Depois de interceptar várias
conversas entre uma pessoa que
seria Moklhes e supostos terroristas apoiados por Bin Laden, a Inglaterra avisou o governo do Uruguai que ele tentaria atravessar a
fronteira ilegalmente.
Portando um passaporte falso,
ele acabou sendo preso ao cruzar
a divisa entre os dois países acompanhado de sua mulher e de dois
outros homens de origem árabe.
Desde então, a Justiça do Uruguai avalia um pedido de deportação do governo do Egito. Moklhes
diz estar sendo confundido com
outra pessoa.
Os EUA dizem que a prisão do
egípcio é um indício da existência
de uma rede terrorista no Brasil. A
CIA acredita que seus familiares e
amigos -alguns brasileiros-
precisariam ser investigados com
mais profundidade.
O prefeito de Chuí, Mohamad
Kassem Jomaa (PFL), abrigou a
mulher e os filhos de Moklhes
quando ele foi preso. O prefeito
disse que não sabia da acusação
de terrorismo na época.
Prisão
Os EUA foram informados ontem da prisão, no México, de um
homem de origem árabe que tentava entrar ilegalmente em território norte-americano portando
documentos de viagem com nomes e nacionalidades diferentes.
Um desses passaportes é brasileiro e foi emitido pela embaixada
do Brasil na Jordânia. No passaporte, consta a cidade de Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul,
como sendo sua cidade de nascimento. Ele não fala português.
"O Brasil é um país enorme, onde é fácil se esconder e onde já
houve casos concretos de suspeitos tentando atravessar a fronteira
com o Uruguai", disse à Folha
Kenneth Katzman, especialista
em Oriente Médio e autor do mais
recente relatório do Congresso
dos EUA sobre organizações terroristas internacionais.
O relatório de Katzman foi distribuído a deputados e senadores
um dia antes dos atentados ao
World Trade Center e ao Pentágono. Dados do relatório sobre a
presença na América Latina da
organização terrorista de Bin Laden estão sendo citados pelo secretário de Estado, Colin Powell.
Entre eles, a suspeita de que sua
organização esteja presente em
mais de 30 países e detenha ativos
de cerca de US$ 300 milhões.
Como o relatório só menciona
países que efetivamente prenderam os suspeitos, e não aqueles
onde eles viviam antes de serem
presos, não há menção expressa
ao Brasil - apenas ao Uruguai e
ao Equador. "Mas é óbvio que as
chances de haver uma conexão no
Brasil existem e são reais."
Um funcionário do Departamento de Estado norte-americano confirmou as mesmas preocupações do Congresso, ressaltando, no entanto, que já há um grau
suficientemente maduro de cooperação entre os dois países para
que essas investigações ocorram.
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