São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2001

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INVESTIGAÇÃO

EUA suspeitam de elo Brasil-terror

Washington quer maior intercâmbio com Brasília para apurar vínculos de Bin Laden no país

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O Departamento de Estado e o Congresso norte-americanos dizem que há indícios de uma conexão brasileira da rede terrorista internacional controlada pelo saudita Osama bin Laden, principal suspeito dos atentados que podem ter matado mais de 5.000 pessoas nos Estados Unidos na semana passada.
Por essa razão, o governo norte-americano quer aprofundar ainda mais o intercâmbio entre os serviços de inteligência dos dois países, já considerado produtivo pelo Departamento de Estado, e espera do Brasil mais rigor no monitoramento de suspeitos de origem árabe que vivem e trabalham na região Sul do país.
A base mais forte das suspeitas nasceu com a prisão no Uruguai, no dia 29 de janeiro de 1999, do egípcio El Said Hassam Mohamed Moklhes (ou El-Said Hassan Mukhlis).
Moklhes morou durante sete anos no Paraná e no Rio Grande do Sul e era acusado pela CIA e pelo serviço secreto inglês de pertencer ao grupo terrorista Al-Gama'a Al-Islamiya, ligado a Bin Laden e encarregado de desestabilizar, com atentados, o sistema político no Egito.
Depois de interceptar várias conversas entre uma pessoa que seria Moklhes e supostos terroristas apoiados por Bin Laden, a Inglaterra avisou o governo do Uruguai que ele tentaria atravessar a fronteira ilegalmente.
Portando um passaporte falso, ele acabou sendo preso ao cruzar a divisa entre os dois países acompanhado de sua mulher e de dois outros homens de origem árabe.
Desde então, a Justiça do Uruguai avalia um pedido de deportação do governo do Egito. Moklhes diz estar sendo confundido com outra pessoa.
Os EUA dizem que a prisão do egípcio é um indício da existência de uma rede terrorista no Brasil. A CIA acredita que seus familiares e amigos -alguns brasileiros- precisariam ser investigados com mais profundidade.
O prefeito de Chuí, Mohamad Kassem Jomaa (PFL), abrigou a mulher e os filhos de Moklhes quando ele foi preso. O prefeito disse que não sabia da acusação de terrorismo na época.

Prisão
Os EUA foram informados ontem da prisão, no México, de um homem de origem árabe que tentava entrar ilegalmente em território norte-americano portando documentos de viagem com nomes e nacionalidades diferentes.
Um desses passaportes é brasileiro e foi emitido pela embaixada do Brasil na Jordânia. No passaporte, consta a cidade de Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, como sendo sua cidade de nascimento. Ele não fala português.
"O Brasil é um país enorme, onde é fácil se esconder e onde já houve casos concretos de suspeitos tentando atravessar a fronteira com o Uruguai", disse à Folha Kenneth Katzman, especialista em Oriente Médio e autor do mais recente relatório do Congresso dos EUA sobre organizações terroristas internacionais.
O relatório de Katzman foi distribuído a deputados e senadores um dia antes dos atentados ao World Trade Center e ao Pentágono. Dados do relatório sobre a presença na América Latina da organização terrorista de Bin Laden estão sendo citados pelo secretário de Estado, Colin Powell. Entre eles, a suspeita de que sua organização esteja presente em mais de 30 países e detenha ativos de cerca de US$ 300 milhões.
Como o relatório só menciona países que efetivamente prenderam os suspeitos, e não aqueles onde eles viviam antes de serem presos, não há menção expressa ao Brasil - apenas ao Uruguai e ao Equador. "Mas é óbvio que as chances de haver uma conexão no Brasil existem e são reais."
Um funcionário do Departamento de Estado norte-americano confirmou as mesmas preocupações do Congresso, ressaltando, no entanto, que já há um grau suficientemente maduro de cooperação entre os dois países para que essas investigações ocorram.



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