São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mercado é espaço social de troca e divã

DA REDAÇÃO

O mercado está calmo. O mercado está tenso, precisa de um calmante. O mercado reagiu mal ao anúncio do pacote. O mercado não confia no candidato da oposição. Não há registro, na história brasileira, de um período de governo em que a palavra mercado tenha adquirido tamanha autonomia, o que se traduz, por vezes, em fantasmagoria.
Essa capacidade aparente de travestir-se de vários significados pode tornar-se chocante. Em 1996, por exemplo, a modelo e atriz Cláudia Liz teve complicações sérias de saúde ao submeter-se a uma lipoaspiração. Comentando o episódio, seu marido, o publicitário Celso Loducca, disse laconicamente: "O mercado indicou que ela havia engordado dois quilos, e isso parecia um crime".
Mas o que significa, afinal, esse tal de mercado? A Folha entrevistou mais de 40 pessoas de destaque nos meios acadêmico, político e empresarial para tentar saber delas o que pensam quando deparam com a palavra mercado.
Qual a face humana dessa entidade? E a institucional? Os resultados são, ao mesmo tempo, curiosos e coerentes entre si.
Se fosse traduzido numa personalidade conhecida, o mercado seria um misto de George Soros, o megaespeculador húngaro naturalizado norte-americano, com Armínio Fraga, presidente do Banco Central do Brasil. Armínio, vale lembrar, era funcionário de Soros antes de assumir a presidência do BC, em 1999.
Se tivesse de ser expresso em termos institucionais, o mercado se confundiria com bancos e corretoras e com o próprio BC. Boa parte dos formadores de opinião consultados pelo jornal, portanto, enxerga o mercado como uma entidade eminentemente financeira.
Houve, porém, os que preferiram as sentenças mais eruditas e abstratas sobre o mercado, como o senador eleito petista Aloizio Mercadante: "É o espaço social da troca". Seu colega de profissão e de Congresso Nacional Delfim Netto capricha ainda mais na definição, citando o intelectual italiano Luigi Enaudi: "É um sistema de regras sem o qual o capitalismo perde toda a sua credibilidade ética e suas possibilidades de sucesso".
Mais alegórica, mas não menos espirituosa, foi a opinião dada pelo ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco. Para ele, a instituição que melhor representa o mercado é o divã. (VM)


Texto Anterior: Capital: Trânsito entre mercado e poder cresce na privatização
Próximo Texto: Mundo: Economia enfrenta cinco crises mundiais
Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.