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Mercado é espaço social de troca e divã
DA REDAÇÃO
O mercado está calmo. O mercado está tenso, precisa de um calmante. O mercado reagiu mal ao anúncio do pacote. O mercado
não confia no candidato da oposição. Não há registro, na história
brasileira, de um período de governo em que a palavra mercado
tenha adquirido tamanha autonomia, o que se traduz, por vezes,
em fantasmagoria.
Essa capacidade aparente de
travestir-se de vários significados
pode tornar-se chocante. Em
1996, por exemplo, a modelo e
atriz Cláudia Liz teve complicações sérias de saúde ao submeter-se a uma lipoaspiração. Comentando o episódio, seu marido, o
publicitário Celso Loducca, disse
laconicamente: "O mercado indicou que ela havia engordado dois
quilos, e isso parecia um crime".
Mas o que significa, afinal, esse
tal de mercado? A Folha entrevistou mais de 40 pessoas de destaque nos meios acadêmico, político e empresarial para tentar saber
delas o que pensam quando deparam com a palavra mercado.
Qual a face humana dessa entidade? E a institucional? Os resultados são, ao mesmo tempo, curiosos e coerentes entre si.
Se fosse traduzido numa personalidade conhecida, o mercado
seria um misto de George Soros, o
megaespeculador húngaro naturalizado norte-americano, com
Armínio Fraga, presidente do
Banco Central do Brasil. Armínio,
vale lembrar, era funcionário de
Soros antes de assumir a presidência do BC, em 1999.
Se tivesse de ser expresso em
termos institucionais, o mercado
se confundiria com bancos e corretoras e com o próprio BC. Boa
parte dos formadores de opinião
consultados pelo jornal, portanto,
enxerga o mercado como uma
entidade eminentemente financeira.
Houve, porém, os que preferiram as sentenças mais eruditas e
abstratas sobre o mercado, como
o senador eleito petista Aloizio
Mercadante: "É o espaço social da
troca". Seu colega de profissão e
de Congresso Nacional Delfim
Netto capricha ainda mais na definição, citando o intelectual italiano Luigi Enaudi: "É um sistema
de regras sem o qual o capitalismo
perde toda a sua credibilidade ética e suas possibilidades de sucesso".
Mais alegórica, mas não menos
espirituosa, foi a opinião dada pelo ex-presidente do Banco Central
Gustavo Franco. Para ele, a instituição que melhor representa o
mercado é o divã.
(VM)
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