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Querência do Norte resume conflitos da era FHC
DA AGÊNCIA FOLHA,
EM QUERÊNCIA DO NORTE (PR)
O assentamento Pontal do Tigre
e o município de Querência do
Norte (extremo noroeste do Paraná) sintetizam todas as dificuldades enfrentadas durante o processo de reforma agrária nos anos
FHC: disputas jurídicas, mortes,
prisões e uma constante tensão
entre fazendeiros e sem-terra.
Invadida no final da década de
80, a fazenda Pontal do Tigre, de
10,5 mil hectares, foi transformada em assentamento para 327 famílias em outubro de 1995, o primeiro do gênero no Paraná na
gestão FHC. Hoje o município
possui 11 assentamentos e 4.450
sem-terra, em uma população de
13,5 mil pessoas.
Mas, em junho deste ano, a Justiça concedeu a reintegração de
posse para o grupo que reivindicava 25% da área. O caso ainda está pendente. Enquanto isso, três
sem-terra foram mortos em confrontos com fazendeiros desde
1998. A disputa levou à necessidade de uma trégua mediada pela
Ouvidoria Agrária, Incra e governo do Paraná.
Nem tudo, porém, é má notícia.
No ano de 1996, o volume da primeira produção dos sem-terra no
Pontal do Tigre elevou em 45% a
arrecadação de ICMS (Imposto
sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços) no município, conseguindo uma elevação de 30% dos
repasses do Fundo de Participação dos Municípios à cidade, que
hoje recebe R$ 190 mil do fundo.
Segundo especialistas ouvidos
pela reportagem, a política de assentamentos do governo Fernando Henrique Cardoso realmente
proporcionou melhora nas condições de vida de grande parte de
seus beneficiados, mas deixou heranças com dificuldades diferentes das jurídicas: terras improdutivas, infra-estrutura ruim e dificuldades no acesso a créditos.
Para a professora Leonilde Servolo de Medeiros, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a política de assentamentos
"proporcionou um forte estímulo
à atividade organizativa".
O secretário de Reforma Agrária do Ministério da Reforma
Agrária, Edson Luiz Vismona,
concorda: "a agricultura familiar
entrou na agenda nacional"
-tanto que estava no programa
de todos os principais candidatos
à sucessão de FHC.
Para o engenheiro agrônomo
Horácio Martins de Carvalho, a
política de assentamento do governo FHC foi ineficiente para
mudar a estrutura fundiária.
"O caráter atomizado, esporádico e restrito da desapropriação
por interesse social ou aquisição
comercial de alguns grandes imóveis subordina a política de assentamentos aos interesses dos grandes proprietários de terras do
país", declarou Carvalho, ex-presidente da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária).
O presidente da Faep (Federação da Agricultura do Paraná),
Ágide Meneguete, é mais incisivo.
Para ele, a reforma agrária está
sendo feita "fora do tempo e não
tem como compatibilizá-la com
os novos padrões de escala de
produção e tecnologia exigidos
pelo mercado".
"A atuação do governo federal é
aleatória, pontual e está sempre
correndo atrás do prejuízo", critica o professor de economia agrícola da Unicamp Luís Guedes
Pinto, ex-secretário da Agricultura de São Paulo (83-87).
(JM e ES)
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