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SEGURANÇA
Extermínio de jovens é recorde; crime se organiza em facções
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
O assassinato de jovens, uma herança deixada pelos anos 80, atingiu no governo de Fernando Henrique Cardoso o pior nível em 20 anos: com a escalada de violência no país, 38% das mortes de jovens de 15 a 24 anos, em
1999, resultavam de homicídios. Os números são do Claves (Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli), núcleo especializado da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), a partir de dados do Ministério da Saúde.
O Claves ainda não fez análise
dos dados de 2000, 2001 e 2002.
Em 1980, a taxa de homicídios entre jovens era de 17,2 por 100 mil
habitantes. Em 1990, era de 38,8.
Em 1999, 48,5. Mas o índice pode
ser ainda maior.
A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura) estima para
2000 uma taxa de homicídios de
jovens de 52,1 por 100 mil habitantes. Isso significa, de 1980 a
2000, um crescimento de 202,9%.
No total da população, a taxa de
homicídios subiu 130,9% no mesmo período -também um crescimento elevado.
A explosão da criminalidade
coincidiu com um período de
crescente organização dos criminosos. São Paulo viu a eclosão do
PCC (Primeiro Comando da Capital); no Rio, facções travam
guerras urbanas pela disputa de
território (leia abaixo).
Para coibir a banalização da violência, o governo federal lançou o
Plano Nacional de Segurança Pública. Mas os resultados foram limitados (leia ao lado).
De 1980 a 1990, os homicídios de
jovens cresceram 12,5% ao ano.
Subiram em ritmo mais lento de
1990 a 1994 (1,16% ao ano em relação a 89), e aceleraram novamente seu crescimento de 1995 a 1999
(5,52% ao ano em relação a 1994).
Armas e exclusão
Entre 60 países analisados na
pesquisa da Unesco, só Colômbia
e Porto Rico têm mais assassinatos de jovens que o Brasil - 101,3
e 58,4 por 100 mil habitantes, respectivamente. A taxa é de 14,6 nos
EUA. Para o total da população,
informa a Unesco, só a Colômbia
tem taxa de homicídios maior que
a brasileira (60 por 100 mil habitantes). Nos EUA, a taxa é de 6,6
por 100 mil habitantes.
Os homicídios de jovens são a
parte mais grave de um problema
nacional: as mortes pelas chamadas "causas externas", ou seja, homicídios, acidentes de trânsito,
suicídios, quedas, afogamentos e
acidentes em geral. Em 2000, segundo a Unesco, as causas externas eram responsáveis por cerca
de 12,2% das mortes no país e
70,3% das mortes de jovens.
Para a psicóloga Edinilsa Ramos
de Souza, diretora do Claves, o
que se viu nos anos FHC foi a continuidade de uma herança de violência vinda dos anos 80, sem resultados concretos na redução
dos homicídios.
Ela destaca a exclusão social, e
de jovens em particular, como
principal causa do aumento dos
homicídios, junto com a falta de
controle sobre armas de fogo e o
processo de urbanização desordenada, que se intensificou nos
anos 90. "Em todo o país há dinâmicas de violência, as pessoas estão comprando armas para se defender", afirma.
Estudo do Iser (Instituto de Estudos da Religião) a partir dos dados do Ministério da Saúde mostra que a taxa de mortes por arma
de fogo no Brasil subiu de 7,2 por
100 mil habitantes em 1980 para
18,7 em 1999. A Unesco atribui ao
Brasil a maior taxa de mortes por
arma de fogo entre 60 países analisados. Nos EUA, segundo colocado, o índice é de 10,5 por 100 mil
habitantes.
Outras pesquisas já realizadas
no Brasil mostram que a vítima
mais frequente dos homicídios é
homem jovem, negro e pobre.
Estudo realizado pelo sociólogo
Ignacio Cano, professor da Uerj
(Universidade do Estado do Rio
de Janeiro), mostrou que, em
1998, os homicídios roubavam
um ano e dois meses de vida do
homem brasileiro. Entre as vítimas de homicídio, 91% eram do
sexo masculino.
Cano mostra que, em 1998,
44,5% das vítimas de homicídios
eram pardas (mais que a proporção de 39,5% de pardos no total
da população). Os que se diziam
pretos eram 5,7% da população e
9,7% das vítimas; já os brancos,
que eram 54% da população,
eram 45,1% dos mortos.
"A violência afeta primordialmente os negros e pobres. Para
tentar se proteger da violência, o
rico pode comprar segurança ou
mudar de bairro. O pobre não
tem saída", afirma o sociólogo.
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