São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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Traficantes instituem poder paralelo nas favelas

DA SUCURSAL DO RIO

Nos anos 70, os criminosos usavam revólveres. Nos anos 90, fuzis. Em 2002, o traficante carioca Chapolim, preso em Bangu 1 (zona oeste), encomendou um míssil pelo celular. Do revólver à granada, o armamento usado pelos traficantes é uma das medidas do poder conquistado por eles.
Na cidade do Rio, 1,09 milhão de pessoas -18,6% da população- vive em favelas. Sem a ocupação plena do Estado com educação, saúde, lazer e segurança, essas áreas acabam sitiadas pelo tráfico. E se multiplicam: as favelas crescem em um ano o que o "asfalto" cresce em seis.
Os traficantes controlam os acessos às favelas e têm poder para expulsar pessoas da área. Cobram pedágio de empresas, cancelam projetos comunitários, fecham escolas e têm poder de vida e morte sobre a população.
Têm até uma justiça paralela para punir inimigos. No Rio, o exemplo mais rumoroso foi o do jornalista Tim Lopes, torturado, "julgado" e morto pelo tráfico em 2 de junho no complexo do Alemão (zona norte).
O fortalecimento das facções e as guerras entre elas são uma marca dos anos 90. No Rio, existem três: CV (Comando Vermelho), TC (Terceiro Comando) e ADA (Amigo dos Amigos).
O CV foi criado nos anos 70, no presídio da Ilha Grande (demolido em 1994). Nos anos 80, surgiu o TC, que não aceitava as regras do rival, e, em 1994, a ADA, de novo racha no CV. Nos presídios, o poder das facções é tão grande que os presos têm de ser separados obedecendo a essa divisão, ou podem ser mortos pelos rivais.
Nas favelas, traficantes deixam nos muros as iniciais de sua facção. Moradores de uma área não circulam pela outra. Crianças são agredidas no caminho para a escola se cruzarem territórios rivais. Até as cores são controladas: em área do TC, quem usa vermelho -uma referência ao CV- corre risco de morte. (FE)


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