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Traficantes instituem poder paralelo nas favelas
DA SUCURSAL DO RIO
Nos anos 70, os criminosos usavam revólveres. Nos anos 90, fuzis. Em 2002, o traficante carioca Chapolim, preso em Bangu 1 (zona oeste), encomendou um míssil
pelo celular. Do revólver à granada, o armamento usado pelos traficantes é uma das medidas do poder conquistado por eles.
Na cidade do Rio, 1,09 milhão
de pessoas -18,6% da população- vive em favelas. Sem a ocupação plena do Estado com educação, saúde, lazer e segurança,
essas áreas acabam sitiadas pelo
tráfico. E se multiplicam: as favelas crescem em um ano o que o
"asfalto" cresce em seis.
Os traficantes controlam os
acessos às favelas e têm poder para expulsar pessoas da área. Cobram pedágio de empresas, cancelam projetos comunitários, fecham escolas e têm poder de vida
e morte sobre a população.
Têm até uma justiça paralela para punir inimigos. No Rio, o
exemplo mais rumoroso foi o do
jornalista Tim Lopes, torturado,
"julgado" e morto pelo tráfico em
2 de junho no complexo do Alemão (zona norte).
O fortalecimento das facções e
as guerras entre elas são uma
marca dos anos 90. No Rio, existem três: CV (Comando Vermelho), TC (Terceiro Comando) e
ADA (Amigo dos Amigos).
O CV foi criado nos anos 70, no
presídio da Ilha Grande (demolido em 1994). Nos anos 80, surgiu
o TC, que não aceitava as regras
do rival, e, em 1994, a ADA, de novo racha no CV. Nos presídios, o
poder das facções é tão grande
que os presos têm de ser separados obedecendo a essa divisão, ou
podem ser mortos pelos rivais.
Nas favelas, traficantes deixam
nos muros as iniciais de sua facção. Moradores de uma área não
circulam pela outra. Crianças são
agredidas no caminho para a escola se cruzarem territórios rivais.
Até as cores são controladas: em
área do TC, quem usa vermelho
-uma referência ao CV- corre
risco de morte.
(FE)
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