São Paulo, Quinta-feira, 20 de Maio de 1999
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Hábito de dar presentes afeta o Japão

de Washington

Com o segundo maior mercado do mundo, o Japão descobriu nos últimos dois anos que a falta de leis e de fiscalização rigorosa contra o uso criminoso de informações privilegiadas podem ser altamente prejudiciais a sua economia.
Ao contrário dos EUA, não há no país lei específica contra o mercado negro de informações. Como resultado, combateu-se a sucessão de escândalos com uma lei "capenga" que pune funcionários públicos acusados de receber propina.
Embora tenham levado vários indiciados ao suicídio, os resultados das fiscalizações têm sido considerados frágeis na educação dos mercados e no combate a casos futuros. Os compradores de informações raramente são presos ou sofrem os constrangimentos que os funcionários públicos (geralmente de baixo escalão) detidos.
A lei tributária japonesa estimula empresas a dar presentes a funcionários públicos. Tudo faz parte da cultura do país e estimula a prática de "insider trading".
Casos recentes revelam a particularidade da economia do país.
Yasuyuki Yoshizawa, diretor da divisão de mercados do banco central japonês, foi acusado em 98 de ter entregue informações confidenciais ao Banco Industrial do Japão e ao Sanwa Bank. Em troca, ele teria recebido refeições em restaurantes de luxo e cursos de golfe.
Yasuyuki ocupava uma posição vital para os bancos privados, comandando uma divisão que determina parâmetros para a fixação dos juros de curto prazo no mercado. Essas taxas influenciam quase tudo na economia, desde a remuneração de investimentos, de títulos e até da hipoteca de residências.
O funcionário era responsável, também, por compilar uma publicação interna quadrimestral do banco central, conhecida como "Tankan", que faz uma análise do mercado e sugere quando e em que intensidade o banco central deve alterar as taxas de juro. Quando divulgada, a publicação costuma alterar o câmbio e a Bolsa de Tóquio.

Noitadas
Durante anos, Toshimi Taniuchi, inspetor do Ministério das Finanças encarregado de fiscalizar bancos, frequentou um restaurante somente para sócios em Shinjuko, o bairro das boates da cidade.
As noitadas de Taniuchi eram pagas por quatro dos maiores bancos japoneses: Asahi Bank, Sanwa, Dai-Ichi Kangyo Bank e Hokkaido. Em troca das noitadas, ele contava aos bancos as datas em que inspeções seriam efetuadas no mercado financeiro. (MA)



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