|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INVESTIGAÇÃO
Comissão do Senado investiga ajuda bilionária ao Marka e ao FonteCindam após a desvalorização do real, mas avança pouco
Falta à CPI prova de vazamento
DANIEL BRAMATTI
da Sucursal de Brasília
No primeiro mês de trabalhos, a
CPI dos Bancos deixou em segundo plano o item mais polêmico de
sua pauta de investigações: "o vazamento de informações que propiciou a diversos bancos lucros
exorbitantes por ocasião da maxidesvalorização do real", conforme
texto do requerimento de instalação da comissão.
Até agora, as apurações se concentraram no socorro aos bancos
Marka e FonteCindam, duas instituições que perderam dinheiro
com a desvalorização -e que,
portanto, ou não recebiam informações privilegiadas ou tinham
péssimos informantes.
Os ""lucros exorbitantes" de outros bancos, porém, já foram constatados pelos senadores que integram a CPI.
O que eles não conseguiram foram provas que permitam relacionar os ganhos ao vazamento de informações sigilosas.
São remotas as chances de que
supostos vazamentos sejam comprovados. Em primeiro lugar, porque o movimento inusitado de
compra de dólares às vésperas da
desvalorização, apesar de suspeito,
não permite a tomada de conclusões. Em segundo, porque, na avaliação da maioria governista, a
eventual comprovação de irregularidades poderia comprometer a
credibilidade do governo e fortalecer a oposição. Dos 11 integrantes
da CPI, 9 são de partidos governistas.
As denúncias de favorecimento a
bancos foram levantadas pelo deputado federal Aloizio Mercadante
(PT). Em depoimento na CPI, ele
afirmou que a aposta na desvalorização do real na BM&F (Bolsa de
Mercadorias & Futuros) proporcionou um lucro de R$ 10,1 bilhões
a 24 bancos entre 12 de janeiro e 2
de fevereiro deste ano.
Segundo ele, a maior parte dos
bancos só passou a comprar dólares em grandes volumes no dia 12,
véspera da desvalorização -para
o deputado, esse é um indício de
que a notícia sobre a mudança na
política cambial foi antecipada para parte do mercado.
Mercadante disse ainda que, no
mercado à vista de dólares, também houve mudanças bruscas na
posição dos bancos.
"Houve uma alteração de US$ 1
bilhão, aproximadamente, de uma
posição vendedora (de dólares)
para uma posição compradora",
disse o deputado, referindo-se ao
comportamento do mercado entre
os dias 11 e 12 de janeiro.
O governo contestou parte dos
dados apresentados. Munidos de
dados do Banco Central, os senadores tucanos Sérgio Machado
(PSDB-CE) e Romero Jucá (PSDB-RR) afirmaram que os ganhos com
dólares na BM&F foram de R$ 5,2
bilhões, e não de R$ 10,1 bilhões.
Segundo os senadores, o deputado teria incluído em sua conta lucros com juros e com outros mercados. A principal contestação a
Mercadante, porém, veio do próprio presidente do BC, Armínio
Fraga, que enumerou uma série de
""informações públicas" que circulavam antes da desvalorização e
que podem ter orientado a ação de
alguns bancos.
Em depoimento à CPI, Fraga leu
notas publicadas na imprensa em
janeiro que especulavam sobre a
saída de Gustavo Franco da presidência do BC e sobre sua substituição por Francisco Lopes, defensor
de mudanças na política cambial.
""É muito importante que se entenda que isso (a saída de Franco),
na avaliação de risco das pessoas,
dos investidores, naquele momento, era algo claríssimo", disse.
Fraga citou até uma resposta dada então pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso ao ser questionado sobre a demissão de Franco e
do ministro Pedro Malan (Fazenda).
"O presidente declarou: "Não
existe isso. O ministro Malan é essencial para o Brasil". Não teceu
nenhum comentário sobre Gustavo Franco", afirmou Fraga.
Apesar de apresentar esses argumentos, o presidente do BC surpreendeu a CPI ao declarar que ""é
impossível provar que não houve
vazamento".
Marka
Mesmo com os prejuízos dos
bancos Marka e FonteCindam na
virada do câmbio, seus dirigentes
também foram questionados pela
CPI sobre supostos esquemas de
pagamento de propina em troca de
informações do governo.
Uma das suspeitas da CPI é que o
ex-presidente do BC Francisco Lopes utilizasse a empresa de consultoria Macrométrica para passar informações aos dois bancos.
As suspeitas aumentaram depois
que o Ministério Público do Rio
apreendeu um bilhete em que Sérgio Bragança, sócio da Macrométrica, afirma ter em contas no exterior US$ 1,675 milhão de propriedade do próprio Lopes.
A existência da conta, porém,
não foi confirmada por Lopes nem
por Bragança.
A CPI não sabe onde o dinheiro
está depositado e não tem elementos que o relacionem à suposta
venda de informações.
Texto Anterior: Congresso não consegue regulamentar o setor Próximo Texto: Quem é quem no socorro aos bancos Índice
|