São Paulo, Quinta-feira, 20 de Maio de 1999
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A ajuda de R$ 1,567 bilhão ao Marka e ao FonteCindam encerrou o período de âncora cambial, fase em que a taxa de inflação baixou no Brasil, mas o país ficou exposto a um ataque especulativo contra o real
Quem é quem no socorro aos bancos

da Redação

O Plano Real, lançado em julho de 1994, teve como âncora a taxa de câmbio. Por meio dela, a moeda brasileira tornou-se valorizada em relação ao dólar. Essa estratégia visava facilitar as importações e criar uma concorrência entre produtos no mercado brasileiro, a fim de inibir os aumentos de preços no país.
O mecanismo funcionou, e a inflação entrou em ritmo declinante a partir de julho de 1994. No caso particular dos bancos, o real cortou algumas fontes de receita.
Primeiro, porque o governo aumentou o depósito compulsório (parcela dos depósitos à vista retida pelo Banco Central), para reduzir o crédito e impedir uma explosão do consumo -evitando crise como aquela do Cruzado (1986).
Segundo, porque os bancos deixaram de ganhar com o "float" (prazo entre o depósito de um cheque em um banco e seu pagamento ao correntista) e com o fato de o dinheiro dos clientes ficar parado na conta corrente -com inflação de 25% ao mês, por exemplo, quem deposita 100 "dinheiros" no dia 1º tem, no dia 30, o equivalente a 80 "dinheiros" em termos reais.
Em março de 1995, uma crise no México levou o governo a adotar as minibandas cambiais, de forma a iniciar a desvalorização gradual do real, tornando o Brasil menos vulnerável a uma crise cambial.
Mesmo com o real se desvalorizando, o país continuou a depender de dólares de investidores estrangeiros para equilibrar suas transações com o resto do mundo. As crises da Ásia (1997) e da Rússia (1998) minaram a confiança dos investidores, que passaram a tirar seus dólares do Brasil.
O país buscou ajuda do FMI (Fundo Monetário Internacional) no fim do ano passado, para tentar equilibrar as contas externas, mas os dólares continuaram a deixar o Brasil.
O governo teve então de abandonar o sistema de bandas cambiais, deixando a cotação do dólar variar conforme as necessidades do mercado (em geral, quando aumenta a procura pela moeda norte-americana, a cotação sobe).
Em 13 de janeiro, o governo tentou dar uma sobrevida para as bandas cambiais, elevando o teto de R$ 1,22 para R$ 1,32. Pegou os bancos Marka e FonteCindam "apostando", por meio de contratos na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), que o sistema de minibandas continuaria.
Nos dois dias seguintes, enquanto via o fracasso da nova fórmula cambial e adotava a livre flutuação do dólar, o BC armou a operação de socorro a esses dois bancos.
A ajuda só veio a público depois, acabando por ser confirmada por Armínio Fraga em março. Várias versões sobre o que ocorreu naqueles três dias de janeiro se alternaram sem que dúvidas tenham sido esclarecidas, como o suposto vazamento de informação privilegiada do BC para o mercado.


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