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A ajuda de R$ 1,567 bilhão ao Marka e ao FonteCindam encerrou o período de âncora cambial, fase em que a taxa de inflação baixou no Brasil, mas o país ficou exposto a um ataque especulativo contra o real
Quem é quem no socorro aos bancos
da Redação
O Plano Real, lançado em julho
de 1994, teve como âncora a taxa de
câmbio. Por meio dela, a moeda
brasileira tornou-se valorizada em
relação ao dólar. Essa estratégia visava facilitar as importações e criar
uma concorrência entre produtos
no mercado brasileiro, a fim de inibir os aumentos de preços no país.
O mecanismo funcionou, e a inflação entrou em ritmo declinante
a partir de julho de 1994. No caso
particular dos bancos, o real cortou algumas fontes de receita.
Primeiro, porque o governo aumentou o depósito compulsório
(parcela dos depósitos à vista retida pelo Banco Central), para reduzir o crédito e impedir uma explosão do consumo -evitando crise
como aquela do Cruzado (1986).
Segundo, porque os bancos deixaram de ganhar com o "float"
(prazo entre o depósito de um cheque em um banco e seu pagamento
ao correntista) e com o fato de o dinheiro dos clientes ficar parado na
conta corrente -com inflação de
25% ao mês, por exemplo, quem
deposita 100 "dinheiros" no dia 1º
tem, no dia 30, o equivalente a 80
"dinheiros" em termos reais.
Em março de 1995, uma crise no
México levou o governo a adotar as
minibandas cambiais, de forma a
iniciar a desvalorização gradual do
real, tornando o Brasil menos vulnerável a uma crise cambial.
Mesmo com o real se desvalorizando, o país continuou a depender de dólares de investidores estrangeiros para equilibrar suas
transações com o resto do mundo.
As crises da Ásia (1997) e da Rússia
(1998) minaram a confiança dos
investidores, que passaram a tirar
seus dólares do Brasil.
O país buscou ajuda do FMI
(Fundo Monetário Internacional)
no fim do ano passado, para tentar
equilibrar as contas externas, mas
os dólares continuaram a deixar o
Brasil.
O governo teve então de abandonar o sistema de bandas cambiais,
deixando a cotação do dólar variar
conforme as necessidades do mercado (em geral, quando aumenta a
procura pela moeda norte-americana, a cotação sobe).
Em 13 de janeiro, o governo tentou dar uma sobrevida para as
bandas cambiais, elevando o teto
de R$ 1,22 para R$ 1,32. Pegou os
bancos Marka e FonteCindam
"apostando", por meio de contratos na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), que o sistema de
minibandas continuaria.
Nos dois dias seguintes, enquanto via o fracasso da nova fórmula
cambial e adotava a livre flutuação
do dólar, o BC armou a operação
de socorro a esses dois bancos.
A ajuda só veio a público depois,
acabando por ser confirmada por
Armínio Fraga em março. Várias
versões sobre o que ocorreu naqueles três dias de janeiro se alternaram sem que dúvidas tenham sido esclarecidas, como o suposto
vazamento de informação privilegiada do BC para o mercado.
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