São Paulo, domingo, 20 de setembro de 1998

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Brasileiro casa aos 22 e tem três filhos


Em geral, ele se casa por amor e se divorcia por infidelidade; quem decide tentar de novo leva cerca de três anos para achar cônjuge


MAURO FRANCISCO PAULINO
Diretor de Pesquisas de Opinião do Datafolha

ALESSANDRO JANONI HERNANDES
Gerente de Pesquisas de Opinião do Datafolha

Os brasileiros se casam jovens, na maioria das vezes por amor, têm em média três filhos e ficam juntos por mais de dez anos. Quando se divorciam, o fazem, na maior parte dos casos, por infidelidade. Os que resolvem arriscar um novo casamento, levam cerca de três anos para assumir o compromisso. Esse é o perfil que emerge da pesquisa sobre a família brasileira, feita pelo Datafolha em todo o território nacional.
No levantamento, foram entrevistadas 2.038 pessoas em 94 municípios entre 12 e 18 de fevereiro.
A pesquisa procurou identificar a idéia que os brasileiros fazem da família, os valores que associam a ela, além das variações de organização pelas quais a instituição passou nos últimos 50 anos.
A exposição do indivíduo às transformações sociais, culturais e econômicas alteram códigos e valores usados na formulação dessa idéia. Como no mundo contemporâneo a velocidade das mudanças é expressiva, sugere-se cautela na análise dos dados. A pesquisa é um retrato do momento.
Para investigar a influência desses aspectos, foram incluídas perguntas que revelam tendências de comportamento diante de determinadas situações.
Gerações
As estratificações realizadas pelo Datafolha procuram apontar contrastes de opinião com base nas experiências dos entrevistados, localizando-os no tempo a partir da década na qual viveram a juventude (dos 16 aos 24 anos).
Supõe-se, por exemplo, que um homem de 40 anos tenha recebido a maior parte de sua educação básica na década de 70 e que as características próprias do período tenham contribuído para a formação de seus valores e referências.
Se por um lado é importante conhecer a época em que cada geração viveu para tentar entender suas opiniões, é fundamental ressaltar que os entrevistados de cada geração têm, no momento da pesquisa, idades e experiências de vida diferentes.
Por exemplo, a probabilidade de um jovem de 18 anos ter filhos é obviamente menor do que a de um homem de 40. Logo, ao dar a sua opinião sobre a importância da família, ele responderá apenas com as referências de filho, enquanto na visão do homem de 40 estará refletida a experiência tanto de filho quanto de pai.

Amostra
No geral, o total dos entrevistados é dividido por 51% de mulheres e 49% de homens, 31% têm de 16 a 25 anos, 34%, de 26 a 40, e 35% têm 41 anos ou mais.
A renda familiar predominante é de até 10 salários mínimos (76%). Em relação à escolaridade, 60% estudaram até o 1º grau. A maioria (22%) mora com até três pessoas. Em geral, só uma delas trabalha.
Em relação à estrutura, a pesquisa mostra que a organização básica da família brasileira continua sendo nuclear (formada por pai, mãe e filhos), mas que esse tipo de estrutura vem perdendo espaço para o modelo matrifocal (entre os mais jovens, há uma elevada taxa de entrevistados que moram apenas com a mãe -15%).
Do total, 62% têm filhos. Quanto ao estado conjugal, 49% se dizem casados ou amigados, 37% solteiros, 8% separados e 6% viúvos.
Na média, os entrevistados deixaram a casa dos pais aos 20 anos e casaram aos 22. Para as mulheres, essas experiências ocorreram mais cedo: aos 19 e 20 anos, respectivamente. Os homens, por outro lado, costumam sair de casa aos 21 e casar aos 24.

Religião em declínio
Em relação à formalização da união, nota-se uma tendência de queda do casamento no religioso e no civil. Diferente de seus pais, metade dos mais jovens (50%) já descartou tanto a cerimônia quanto a legalização. No total da amostra, 55% fizeram questão de subir ao altar e assinar os papéis. Quando a pergunta se refere à união dos pais do entrevistado a taxa de formalização sobe para 80% no religioso e 83% no civil.
Considerando-se os resultados gerais, a abordagem de questões, tão próprias e pessoais, chama a atenção a reação dos entrevistados ao responder sobre a família. Independente da natureza dos laços que a determina, a família é a instituição social mais presente na vida das pessoas.
Os pesquisadores que, em época de eleições, costumam notar um crescente descrédito e desinteresse da população em relação a outras instituições, ficaram surpresos com a nostalgia demonstrada pelos entrevistados. Mas isso, naturalmente, os números não conseguem mostrar.



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